Câmara regional defende lítio como commodity e define seu preço
O debate sobre a possibilidade de estabelecer um mecanismo para fixar o preço do lítio e formar uma associação do tipo OPEP entre Chile, Argentina e Bolívia ganhou espaço, uma vez que possuem mais de 65% das reservas globais, segundo um estudo do Instituto de Estudos Latino-Americanos e o Caribe.
Alguns especialistas acreditam que a fixação de preços pode diminuir a incerteza no mercado global, que é volátil devido ao aumento da demanda e à oferta escassa. Os preços do lítio mais que triplicaram em 2021, de acordo com o último relatório de perspectivas da Agência Internacional de Energia (AIE). E em 2022, os preços do lítio subiram 123%, segundo a Benchmark Mineral Intelligence.
BNamericas conversa com Pablo Rutigliano, presidente e fundador da câmara latino-americana de lítio Calbamerica, sobre as vantagens de um cartel de lítio e os obstáculos no caminho de sua formação.
BNamericas: Quais são os interesses da Calbamerica?
Rutigliano: Essa iniciativa começou antes da pandemia, quando vimos a possibilidade de posicionar o lítio como commodity enquanto os países latino-americanos avaliavam se era estratégico nacionalizá-lo. A formação de preços é essencial para promover uma cadeia de valor sustentável.
Trabalhamos em diferentes propostas regulatórias para construir um mercado de metais latino-americano que tenha preço de referência e sustentabilidade.
Inicialmente, as mineradoras não entenderam a importância da fixação de preços na América Latina e queriam continuar cobrando o preço do exterior. No entanto, eles já estão entendendo que a região é forte o suficiente, em termos de recursos, para definir seu próprio preço e desenvolver um modelo em que comerciantes, compradores e empresas possam vender seus produtos em um mercado mais claro e por meio de um sistema que controle quem compra e quem vende nessa cadeia de valor.
BNamericas: Quais parâmetros devem ser considerados ao definir o preço?
Rutigliano: O principal parâmetro é o mercado de metais latino-americano. A partir daí você pode construir volumes e preços. Hoje há um grande crescimento do preço do lítio em função da escassez de oferta, e mesmo que os processos e investimentos estejam concentrados em novos processos extrativos, temos muitos desafios no aspecto climático e no mercado.
Devemos administrar prontamente a escassez de água e a desaceleração do abastecimento. Tudo isso se junta na formação do preço. Há países da região, como a Argentina, onde o lítio foi determinado como não commodity por razões políticas. Mas, estabelecendo-o como tal, poderemos construir normas e regulamentos para o mercado. O lítio deve ter um preço fixo e ser considerado uma commodity.
BNamericas: Que benefícios a fixação do preço traria para os países?
Rutigliano: A matriz econômica mundial hoje depende da economia digital. Ao digitalizar, você torna o mercado visível, evitando a corrupção. Você também pode controlar melhor a inflação, o déficit.
O mundo precisa de uma transformação do mercado para um desenvolvimento livre, onde o Estado trabalhe, mas de forma igualitária para que a América Latina possa gerar um impacto positivo no mundo por meio de uma nova sustentabilidade em nossas sociedades, onde ainda há muita pobreza. Então, se os Estados não visualizarem os preços de referência, não conseguirão melhorar o cenário. Por isso, a Câmara insiste na relevância de uma associação latino-americana, onde os povos originários, os fundamentalistas, as sociedades, todos participem de forma integral. Os políticos devem governar para todos.
BNamericas: A opção de criar uma espécie de OPEP para o lítio entre Chile, Argentina e Bolívia é positiva, então?
Rutigliano: Deve-se incluir a formação de preços, uma vez que tanto os ativos de mineração quanto os processos de lítio são avaliados em relação aos preços internacionais.
Na Argentina, por exemplo, tem acontecido que as mineradoras cobram a menos do preço do lítio, demonstrando que não há um processo controlado em termos de preço. Não existe um sistema equilibrado. A criação de algo como a OPEP deve ser feita através de uma associação como a que criamos com a Câmara. Convidamos Chile, Bolívia, Brasil, México, Peru, Uruguai e outros para participar, porque a conectividade que a construção de uma cadeia de valor regional de lítio pode nos proporcionar permitirá que nos desenvolvamos como uma potência latino-americana.
Aqueles que se opõem a isso colocam uma barreira à inovação e à integração regional. Em suma, não entendem a necessidade de gerar um processo de expansão e aproveitar a tendência mundial da eletromobilidade. E isso acontece justamente por meio da construção de um mercado, onde a oferta e a demanda podem se tornar visíveis.
Para a chegada de capital estrangeiro, é fundamental ter uma regulamentação clara e sustentável. O preço de referência, em conjunto com um mercado visível, permitirá prolongar o prazo de exploração do lítio. Devemos nos conectar hoje com a Europa e a Ásia, cujas regiões exigem energia limpa e requerem nossos recursos de lítio.
BNamericas: A América Latina tem a possibilidade de acelerar a oferta de lítio?
Rutigliano: A região é muito turbulenta. A Bolívia, por exemplo, não tem produção de lítio. Nacionalizou e não produz um grão de lítio, mas falam de OPEP, de unificação, de grandes investimentos, mas ainda têm problemas legais para que as empresas possam se estabelecer. Temos que avançar em justiça, igualdade e sustentabilidade e definir preços, caso contrário, as empresas não poderão se desenvolver e aumentar sua capacidade produtiva.
O Chile produz lítio, mas está muito atrás da Argentina em termos de projetos geradores como os que estão surgindo nas províncias da NOA [Catamarca, Jujuy e Salta]. E o problema da Argentina é justamente que não declara o lítio como commodity e se concentra na produção mineira que se realiza nas províncias, mas esquece que também somos latino-americanos. O mesmo vale para Bolívia e México, que nacionalizaram o lítio, mas ainda estão longe de produzir lítio, e a demanda é acirrada.
A Argentina está produzindo apenas 39 mil t por ano e, embora se fale em atingir 250 mil t em 2023-2024, acho que será impossível chegar a esse valor. Temos muitos problemas com os povos originários e ainda não se entende que a sustentabilidade está na fixação de preços. Só isso permitirá que obtenhamos recursos para inovar em tecnologia, processos extrativos, contribuições sociais e aumento de empregos.
BNamericas: O que você acha da onda de investimentos estrangeiros no lítio da Argentina?
Rutigliano: O monopólio está nas províncias, por isso falamos de subfaturamento que não vê os projetos nem os investimentos. Além disso, há uma desaceleração na oferta devido a questões legais e técnicas. A sustentabilidade que devemos dar aos investimentos estrangeiros deve ser de longo prazo. O sistema de monopólio que se desenvolve na Argentina é produto da não declaração do lítio como commodity.
A sociedade não sabe o que acontece com o lítio. Estabelecê-lo como commodity implica cuidar dos investimentos estrangeiros e dar um melhor valor às ações dessas empresas. O Estado deve se preocupar com a formação da indústria com leis, procedimentos, impostos sobre investimentos etc., mas sem formação de preço ou sem estabelecer o lítio como commodity, não se podem alcançar impactos positivos.
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