Capacidade de cogeração a biomassa deve crescer 1,1 GW no Brasil em 2024
A exportação de energia elétrica para o sistema elétrico brasileiro gerada a partir de térmicas a biomassa (cogeração) alcançou no primeiro trimestre de 2024 o total de 2.588 GWh, alta interanual de 8%.
Os dados são da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), compilados pela Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen).
No total, a cogeração de energia em operação comercial no Brasil é de 20,9 GW, representando 10,3% da matriz elétrica nacional.
A BNamericas conversou com Leonardo Caio Filho, diretor técnico-regulatório da Cogen, sobre as perspectivas para o segmento.
BNamericas: A Cogen tem uma previsão de crescimento da cogeração a biomassa nos próximos anos no Brasil?
Caio Filho: A estimativa é de que aproximadamente 1,1 GW de cogeração a biomassa entre em operação comercial no Brasil ao longo de 2024, de acordo com informações da Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]. Parte disso já foi implementado. Para os anos de 2025, 2026 e 2027, a média é de adição de 400 MW a cada ano.
Acreditamos que esses números possam ser ampliados com medidas regulatórias que incentivem o aumento da oferta.
BNamericas: Atualmente, quais os principais desafios para o crescimento do mercado de cogeração a biomassa no Brasil?
Caio Filho: Um deles é o pleno reconhecimento aos atributos da biomassa para que o sistema elétrico e energético brasileiro seja mais equilibrado, eficiente e propicie segurança energética ao país.
A bioeletricidade produz uma energia renovável, com previsibilidade, inércia, qualidade, e geração junto às cargas. É vital para atenuar o risco de deplecionamento dos reservatórios das hidrelétricas, especialmente do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, em períodos de poucas chuvas.
Nesse sentido, a Cogen fez proposições a uma consulta pública do Ministério de Minas e Energia sobre o leilão de reserva de capacidade na forma de potência, para que as usinas de biomassa possam participar e dar uma maior contribuição ao país. Estas usinas contribuem, em conjunto com as hidrelétricas, para o atendimento da carga ao final do dia, quando da interrupção da geração fotovoltaica, exatamente no período seco no Subsistema Sudeste/Centro-Oeste e de baixas afluências.
Outro pleito importante é que se permita que o excedente de energia de cada usina possa também ser comercializado no mercado livre, o que hoje é limitado pelo governo. É um entrave que desestimula o aumento da produção. Com a judicialização do setor, as usinas acabam levando muitos anos para receber por essa energia excedente, e o setor sucroenergético acaba preferindo fazer outro uso da biomassa.
BNamericas: Quais tipos de biomassa devem ser mais usados futuramente?
Caio Filho: Historicamente, a expansão vem sendo puxada pelas biomassas de cana-de-açúcar, mas o que temos constatado é uma expansão da cogeração com resíduos de madeira. Temos observado plantas de grande capacidade instalada, que chegam a cerca de 200 MW, utilizando a madeira.
Outro vetor de crescimento é a produção de etanol através do milho, que utiliza a madeira como combustível para cogerar energia.
BNamericas: Há novas tecnologias em estudo na área? Você pode citar exemplos?
Caio Filho: Há estudos pesquisa e desenvolvimento que vêm sendo acompanhados com interesse pela indústria sucroenergética para o uso de etanol como fonte para a produção de hidrogênio.
De concreto, temos visto o crescimento de projetos das diversas tecnologias de biogás e biometano a partir de tecnologias já estabelecidas, tanto com o uso de resíduos de atividades agrossilvipastoris, como os de resíduos sólidos do tratamento de aterros sanitários.
O desenvolvimento deste mercado abre novas fronteiras para a cogeração de energia.
BNamericas: Há boa disponibilidade de financiamento para projetos do gênero, seja por parte de bancos/ organismos nacionais ou internacionais?
Caio Filho: Em nível nacional, o BNDES tem linhas de financiamento para expansão e modernização da infraestrutura de geração de energia a partir de fontes renováveis, como o Finem [crédito para a produção de bens de capital sob encomenda] e o Fundo Clima.
O tema da transição energética é cada vez mais importante globalmente, e nossa expectativa é que as potencialidades da cogeração a partir das biomassas atraiam mais investimentos internacionais e a abertura de novas linhas de financiamento.
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