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Como a crise na Ucrânia pode afetar a economia do Brasil

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Como a crise na Ucrânia pode afetar a economia do Brasil

A escalada da crise entre Rússia, Ucrânia e Otan pode ter um impacto significativo na economia do Brasil, segundo analistas.

Altamente dependente das importações de derivados de petróleo, gás natural e insumos agrícolas, o gigante sul-americano já sofre uma onda inflacionária com o aumento dos preços dos hidrocarbonetos, que se agravaria ainda mais no caso de um conflito militar na Europa.

Mário Braga (na foto, à esquerda), analista da Control Risks, e Ronaldo Carmona (à direita), senior fellow do núcleo de defesa e segurança internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), conversaram com a BNamericas sobre o tema.

 

BNamericas: Como você espera que o conflito se desenvolva?

Braga: O cenário mais provável com o qual estamos trabalhando é de uma escalada do conflito, mas sem chegar a um confronto militar. Pode haver maior apoio da Rússia aos rebeldes na Ucrânia e a realização de ataques cibernéticos para desestabilizar os sistemas e gerar agitação social no país.

Um cenário alternativo é a Rússia seguir com a mobilização de tropas na fronteira por meses, pressionando a Ucrânia e o Ocidente, embora achemos que as negociações diplomáticas dificilmente resultarão em medidas concretas.

O outlier seria um desfecho militar. Nesse cenário, haveria uma invasão na região leste da Ucrânia. Uma invasão a oeste, chegando em Kiev, seria ainda menos provável.

Rússia e Ucrânia são players muito importantes em mercados específicos, com efeitos no Brasil. Vivemos uma dependência cada vez maior do gás, e há efeitos indiretos sobre o preço da gasolina, do diesel e do frete, com um efeito dominó na economia. Além disso, a Ucrânia é um player importante no mercado de trigo [contribuindo para a inflação dos preços dos alimentos].

Então, haveria pressão inflacionária sobre a economia brasileira. E temos de lembrar que o petróleo é um insumo para a indústria química. Importamos fertilizantes da Rússia, com um potencial efeito colateral na agricultura.

Com incertezas e um possível cenário de conflito, haveria um “flight to safety” de investidores retirando recursos de países de risco, como o Brasil, para lugares mais seguros, como os EUA. Então, isso depreciaria ainda mais o real [em relação ao dólar], pressionando ainda mais a inflação no país.

Carmona: A Rússia usa o gás natural para fins geopolíticos, buscando afastar a presença da Otan de suas fronteiras, assim como outras potências energéticas já fizeram em outros momentos. Enquanto isso, os Estados Unidos tentam costurar uma estratégia para fornecer gás à Europa, seja com seu gás de xisto ou via exportações do Catar.

Os impactos da crise são relevantes porque o Brasil, apesar de ser autossuficiente na produção de petróleo e gás, não tem capacidade de refinar essas commodities para o mercado interno.

E essa crise gera uma escalada dos preços, tanto do petróleo, que já caminha para uma estabilidade em torno de US$ 100 [o barril], quanto do gás.

Em meio à crise hídrica, o Brasil aumentou sua dependência de energia termelétrica, principalmente as termelétricas a gás, cujos preços são cotados em dólar. Portanto, isso tende a ter um aumento importante do ponto de vista do consumidor.

Em paralelo, considerando a política de preços de paridade de importação [PPI] adotada pela Petrobras, a alta dos preços da gasolina e do diesel deve se aprofundar.

BNamericas: Qual é a sua opinião sobre a viagem do presidente Bolsonaro à Rússia neste momento?

Braga: Ela pode afetar sua tentativa de adesão à OCDE ou de aproximação com a Otan, o que poderia resultar em transferência de tecnologia para o país, por exemplo. Isso, especialmente no momento em que o Brasil está assumindo um assento rotativo no Conselho de Segurança da ONU.

Carmona: Acredito que a visita do presidente Bolsonaro à Rússia foi acertada, primeiro por uma questão de valoração geopolítica, pois o Brasil precisa estabelecer relações fortes com todos os polos do poder mundial. Temos uma parceria importante com a Rússia, a exemplo dos BRICs [Brasil, Rússia, Índia e China], que está além dessa crise.

Existe a possibilidade de que essa visita gere ganhos importantes, como maior segurança no fornecimento de potássio. Hoje, Belarus, que é uma das principais fornecedoras do insumo para o Brasil, está sujeita a bloqueios que afetam o preço do potássio e a importação de fertilizantes pelo Brasil.

BNamericas: A Petrobras, que é uma empresa estatal, decidiu sair do mercado de fertilizantes para se concentrar em E&P. Esse processo não deixa o Brasil em uma situação mais vulnerável?

Braga: A Petrobras está saindo do mercado de fertilizantes como parte do processo de downsizing para enxugar a empresa e torná-la mais eficiente. Há uma certa falta de coordenação das políticas públicas, seja entre governo e Congresso ou entre diferentes membros dos ministérios. Falta uma visão mais estratégica. O que o governo deve fazer [para conter a alta dos preços dos fertilizantes], mais uma vez, são medidas mais pontuais, como o auxílio aos caminhoneiros.

A isenção de impostos federais sobre o diesel, que está sendo analisada pelo governo, não seria suficiente para reverter os choques de preços internacionais. Em um cenário de conflito [na Ucrânia], é possível que o preço do barril de petróleo ultrapasse US$ 100.

O Brasil é o mais exposto à inflação importada, em comparação com Chile, Peru e México – Venezuela e Argentina têm dinâmicas de preços próprias –, sobretudo por conta de combustíveis e insumos industriais.

Então, em uma escalada do conflito, com a disparada dos preços do petróleo e das commodities, teríamos a política monetária passando para um terreno ainda mais contracionista, e um cenário de recessão.

As empresas dos setores de óleo e gás e energia podem se beneficiar do contexto global de preços elevados dos produtos que comercializam, com reflexos positivos em seus balanços, mas estes poderão ser afetados pelo contexto de maior aversão ao risco.

E a indústria exportadora, que inclui a Petrobras, com óleo cru, seria afetada, com aumento de custos, compressão de margens e desaceleração do comércio global.

Carmona: A Petrobras está focando na exploração do pré-sal, deixando segmentos como o de fertilizantes. Portanto, sem dúvida, precisamos ter uma política pública que reduza nossa dependência das importações. Somos uma potência do agronegócio, mas com pés de barro, no sentido de que os principais insumos químicos para sua efetivação são importados. Uma boa notícia recente foi a constituição de um grupo de trabalho federal liderado pela CPRM para criar um plano nacional de fertilizantes, visando à formação de uma cadeia produtiva nacional.

O mesmo se aplica aos combustíveis. Hoje, há um movimento de venda de refinarias da Petrobras, mas isso se enquadra mais em uma decisão de negócios da empresa e menos em uma decisão estratégica do governo. Então, é necessário enfrentar, via políticas públicas, esse problema de dependência externa, visando à autossuficiência na produção de derivados. Por exemplo, o México hoje tem limitado exportações de petróleo cru exatamente com o objetivo de refinar essa matéria-prima.

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