Como tem avançado o financiamento para mineradoras juniores no Brasil

A mineração brasileira avança com iniciativas para promover acesso a financiamento para as empresas juniores.

Planejados há anos, esses esforços agora estão ganhando força, já que a transição energética demandará uma série de minerais que o Brasil tem em abundância.

Miguel Nery, diretor da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM) e coordenador da rede Invest Mining, conversou com a BNamericas sobre as iniciativas. Entre vários stakeholders, a Invest Mining é apoiada pelo BNDES.

BNamericas: O que é a Invest Mining?

Nery: A Invest Mining é uma rede criada em 2021 com a participação de várias entidades do setor público e privado.

Dentre as entidades que fazem parte dessa rede estão ABPM, Apex, BNDES, ANM, Ibram e o Serviço Geológico Brasileiro, entre outras entidades.

De lá para cá, a rede tem trabalhado em várias frentes, que buscam por melhorias do ambiente regulatório da mineração, melhores estruturas de financiamento, aproximação entre empresas e investidores, além de orientação para ajudar as empresas, principalmente as menores, a adotarem as melhores práticas de negócios.

BNamericas: Na parte de financiamento como estão avançando os esforços?

Nery: Temos trabalhado na criação de novas estruturas de financiamento.

Neste momento estamos em conversas com a administração da B3, que gere a bolsa de valores de São Paulo, para criarmos dentro do mercado de ações brasileiro um ambiente voltado exclusivamente para captação de recursos da atividade mineral.

Nossa iniciativa envolve a criação de um ambiente para que empresas em fase pré-operacional, aquelas que ainda não geram caixa, possam captar recursos no mercado. Esses recursos seriam usados para as empresas na fase de pesquisa mineral e descobertas de jazidas.

Já existe tal mercado no Canadá e na Austrália e nossa ideia é trazê-lo para o mercado brasileiro, para que empresas pré-operacionais que ainda têm elevado risco geológico captem recursos para realizar seus trabalhos iniciais.

A valorização do ativo, a valorização dessas empresas se dará à medida que o trabalho de pesquisa delas confirme a presença de jazidas.

Esta não é uma tarefa simples porque, no mercado de capitais brasileiro, os investidores estão acostumados a avaliar empresas que já têm uma geração de caixa. No caso de empresas que ainda não estão gerando caixa é mais difícil uma avaliação de riscos por parte dos investidores.

BNamericas: Quais outras iniciativas de financiamento estão sendo pensadas?

Nery: O fundo de investimento criado agora pelo BNDES e pela Vale é parte destes esforços.

O plano principal por trás de todos esses esforços combinados é o de criação de um mercado de venture capital para mineração.

Esse fundo que o BNDES selecionou o gestor não é uma medida isolada, é parte de um plano maior para ajudarmos no financiamento dessas empresas.

Estamos agora num momento onde queremos dar publicidade às iniciativas. No dia 8 de outubro faremos um evento na sede da B3 com participantes do mercado para mostrar essas iniciativas em detalhes.

BNamericas: Qual a estimativa de prazo para o Brasil ter um ambiente no mercado de ações voltado para empresas de mineração? E qual o potencial de número de empresas a serem listadas?

Nery: Agora estamos avaliando com a B3 todos os aspectos regulatórios e ainda temos questões a serem endereçadas com a CVM [Comissão de Valores Mobiliários], para adaptarmos esse ambiente de negócios de ações à realidade brasileira.

Estamos tendo muita cautela com relação a isto porque não faremos aqui o mesmo modelo no Canadá, por exemplo, onde todas as empresas podem ter ações listadas.

Aqui, o que nós queremos é limitar o acesso. Por exemplo, admitindo somente empresas que já tenham superado riscos geológicos e já tenham algum nível de recurso mineral identificado. Isto visa reduzir também os riscos para os potenciais investidores domésticos, para que esses vão se familiarizando com os riscos do setor.

Não é prudente ainda eu falar num prazo para iniciarmos a listagem de ações nesse novo ambiente na B3, porque depende das formatações também a serem feitas pela CVM.

Em relação ao número, eu vejo como potencial nós atrairmos para o mercado de capitais brasileiro muitas empresas já listadas no Canadá e na Austrália, com essas empresas fazendo dupla listagem.

O começo tende a ser lento, com duas ou três empresas fazendo listagem, mas o potencial é grande, já que há cerca de 70 empresas listadas no mercado de ações desses países que mencionei, mas que são empresas que têm projetos no Brasil.

BNamericas: Qual o perfil de investidor que essas iniciativas tendem a atrair?

Nery: Este ponto é importante. A ideia do setor mineral é atrair o investidor qualificado que já tenha algum conhecimento dos riscos do mercado.

Não há interesse de atrairmos investidores comuns, individuais, porque há muitos riscos envolvidos na atividade e, para ter um mercado sustentável, são necessários investidores que conheçam e tenham apetite a riscos.

Estamos num cenário onde há muito apelo pela transição energética e o Brasil tem grande potencial para desenvolver muito mais seu segmento mineral para atender a essa transição, e o investidor local pode ajudar a financiar essa jornada e também fazer parte de seus ganhos.