Depois de chegar ao fundo do poço, setor de construção da Argentina ‘está preparado para apoiar a reativação’
Embora a construção civil da Argentina estivesse enfrentando dificuldades muito antes de Javier Milei assumir o cargo, em 2023, a decisão do presidente de paralisar o financiamento federal de obras públicas desencadeou uma crise sem precedentes no setor, contribuindo para uma queda interanual de 29% entre janeiro e outubro, segundo a agência de estatísticas Indec.
Representantes do segmento continuam aguardando os planos do governo para promover o investimento privado em infraestrutura.
Para saber mais sobre a situação atual do setor e os próximos desafios, a BNamericas conversou com Gustavo Weiss, presidente da Câmara Argentina de Construção (Camarco).
BNamericas: Quais são as perspectivas do setor de construção argentino após o primeiro ano de presidência de Milei?
Weiss: Foi um ano muito difícil para as obras públicas em nível nacional. Embora algumas províncias tenham continuado com as atividades planejadas e as obras privadas tenham sido mantidas em alguns segmentos, cerca de 100.000 empregos diretos foram perdidos.
Ao mesmo tempo, parece que já atingimos o fundo do poço e temos registrado uma recuperação do emprego nos últimos três meses.
Quanto às perspectivas, estamos cientes da decisão do Poder Executivo sobre o ajuste fiscal e conhecemos sua opinião sobre o papel do Estado em relação à infraestrutura pública. Não esperamos um plano de obras, mas sim que o governo consiga gerar condições para que haja um maior investimento direto do setor privado.
Contudo, como costumamos insistir, a média mundial desse tipo de investimento não chega a 20%, por isso continuamos defendendo que o Estado tenha um papel mais importante nesse sentido.
BNamericas: Existem condições para implementar um sistema de concessões “ao estilo chileno”?
Weiss: O sistema chileno tem diversas particularidades que temos estudado com atenção na Câmara Argentina de Construção. Em algumas ocasiões, ele pode ser implementado, mas, em outras, claramente não.
Em todo caso, é necessário que o cenário macroeconômico esteja muito ordenado, que haja segurança jurídica para o cumprimento dos contratos e que os investidores privados tenham a maior clareza possível sobre o risco que estão assumindo. Na Argentina, durante muitos anos, isso não existiu. Confiamos que o governo proporcionará essas condições.
BNamericas: As construtoras foram muito afetadas após a paralisação das obras públicas?
Weiss: As consequências são graves, porque a questão da dívida das obras realizadas na administração anterior não foi resolvida. Então, por um lado, as empresas tiveram de enfrentar pagamentos não realizados; e, por outro, a paralisação na execução.
O grande problema de tudo isso é que acaba gerando a descapitalização das empresas e a perda de recursos humanos valiosos que foram formados e capacitados durante anos. Vai ser difícil recolocar tudo isso nos trilhos, mas o setor está preparado para apoiar a reativação.
BNamericas: Que outras dificuldades o setor de construção tem enfrentado?
Weiss: O problema do financiamento da habitação da classe média é bem evidente. As últimas medidas para facilitar a concessão de crédito para a habitação são uma boa notícia não só para as construtoras, mas sobretudo para os futuros usuários dessas moradias.
A aquisição de novas tecnologias que promovam a produtividade da indústria continua sendo um desafio, devido à barreira econômica que as empresas têm de enfrentar quando querem inovar.
Quando se trata de obras públicas, para além daquelas financiadas pelo governo federal, temos diversas situações nas jurisdições locais. Algumas províncias têm fundos e recursos próprios para o planejamento e a execução de obras, mas não todas.
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