Em busca de equilíbrio: a combinação de investimentos públicos e privados em infraestrutura no Brasil

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou sua intenção de aumentar o investimento público em infraestrutura, e dados recentes apontam que isso está acontecendo no momento.

Ao mesmo tempo, o governo tem o cuidado de administrar a percepção dos agentes do mercado financeiro, tentando demonstrar que está sendo responsável na execução orçamentária para evitar pressões sobre as taxas de juros que possam limitar o espaço para o investimento público devido ao aumento dos gastos para manutenção da dívida soberana.

Considerando essa necessidade de equilíbrio nas contas públicas, os investimentos em infraestrutura no Brasil estão sendo financiados por uma combinação de recursos dos setores público e privado.

Camila Affonso, sócia da consultoria de infraestrutura Leggio, conversa com a BNamericas sobre a situação atual e conta mais sobre a iniciativa do governo para atrair investidores árabes para o país.

BNamericas: A tendência é de aumento constante dos investimentos públicos em infraestrutura nos próximos anos?

Affonso: É difícil fazer essa afirmação diante de algumas considerações importantes. Temos visto que existe uma pressão contra o governo com relação à execução orçamentária, que vem dos agentes do mercado financeiro, que pressionam por maior controle dos gastos públicos.

Mas, ao mesmo tempo, temos que ponderar que há um ambiente mais favorável para as contas do governo devido ao fato de haver uma desaceleração da inflação, indicando que poderá haver uma redução nas taxas de juros, o que apontaria para um ambiente mais propício ao investimento.

BNamericas: Com o PAC anunciado recentemente, os investimentos públicos estão aumentando?

Affonso: O que podemos esperar no contexto do PAC é uma manutenção na execução dos investimentos públicos, mas alinhados também com a participação do setor privado.

O governo mostrou no PAC que tende a não concentrar todos os investimentos necessários apenas no seu orçamento, o governo também está chamando o setor privado para investir.

Por isso vejo um cenário de atuação conjunta de investimentos públicos e privados.

BNamericas: Por que existem segmentos na infraestrutura em que é difícil até mesmo para o governo aumentar os investimentos, como ferrovias, por exemplo?

Affonso: Os investimentos em ferrovias têm algumas características diferentes daquelas que temos, por exemplo, na área de rodovias.

O ambiente regulatório das ferrovias passou por atualizações e melhorias apenas recentemente, mas ainda não está tão avançado quanto o das rodovias. A despeito dos avanços na regulação, o setor ferroviário ainda é muito desafiador, inclusive para o próprio governo assumir projetos. As rodovias têm um ambiente regulatório muito mais maduro.

BNamericas: Representantes do governo brasileiro estão visitando países do Oriente Médio esta semana, tentando atrair investimentos. Onde você vê apetite dos países árabes em relação ao Brasil?

Affonso: O perfil do investidor árabe não é concentrado em um único segmento. Vejo interesse de investidores árabes em ativos em infraestrutura, logística e também no setor energético. Mas temos de ressaltar que o interesse e a participação dos investidores árabes no Brasil não é um fenômeno recente, pois eles já estão presentes aqui; é um processo em andamento.

Os países árabes têm um grande volume de recursos financeiros, estão em processo de diversificação de suas economias e veem o Brasil como um país com potencial para ajudar nessa diversificação.

BNamericas: Os investidores árabes tendem a olhar para os ativos no Brasil de maneira individual ou buscando parceiros locais?

Affonso: A tendência é olhar sempre para a possibilidade de ter um parceiro local que conheça o modo de fazer negócios no país e também entenda melhor os riscos associados a cada segmento.