Energia, infraestrutura e tecnologia: os setores-chave para o cenário financeiro do Brasil

Pablo Sorj, sócio do escritório de advocacia Mattos Filho, especializado em projetos de infraestrutura, fusões e aquisições e project finance, conversou com a BNamericas sobre o que esperar para os setores de energia, infraestrutura e tecnologia nos próximos meses.

Apesar da persistência dos preços baixos da energia no Brasil, o advogado destaca que o setor energético continua oferecendo oportunidades significativas para os investidores, enquanto a indústria de óleo e gás provavelmente verá uma maior consolidação de pequenas e médias empresas no futuro próximo.

Enquanto isso, os datacenters também são um segmento interessante devido ao rápido processo de expansão atual.

BNamericas: Quais serão os principais destaques para os players de project finance no Brasil?

Sorj: Eu começaria mencionando o setor elétrico, onde estamos vendo a continuidade de um cenário de preços baixos de energia, e isso tem afetado o avanço dos projetos, principalmente aqueles direcionados a atender o mercado livre de energia.

A despeito desse cenário, deveremos ter no segundo semestre deste ano o leilão de reserva de capacidade, e há muitos players se preparando para esse certame, que vai demandar investimentos significativos. Estamos trabalhando para clientes interessados nele.

Além disso, este ano já tivemos o leilão de linhas de transmissão de energia e agora entramos na fase em que as empresas vencedoras do leilão estão estruturando os financiamentos.

Em termos regulatórios, eu chamaria a atenção para a necessidade de o Ministério de Minas e Energia regulamentar a questão ligada aos projetos de térmicas a gás, para que elas façam jus aos benefícios fiscais ligados às debêntures de infraestrutura. Na minha visão, faz total sentido que esse benefício também abranja as térmicas a gás.

BNamericas: Há alguma outra iniciativa de energia que você espera ver avançando no segundo semestre?

Sorj: Um projeto muito relevante e que pode ter alguma definição no segundo semestre é Angra 3, que é importante para a diversificação da matriz energética do país.

Nota do editor: o governo espera definir se retomará ou não a construção da usina nuclear Angra 3 nos próximos meses.

Esse projeto está pela metade, e o custo de abandoná-lo seria muito alto, então tenho a expectativa de que tenhamos avanços nesse sentido.

BNamericas: Quais são as perspectivas para o setor de óleo e gás?

Sorj: Continuaremos vendo um movimento de consolidação do mercado. Vimos a fusão entre a 3R e a Enauta e a expectativa é que haja mais operações de consolidação envolvendo empresas independentes.

Esse processo de consolidação envolvendo empresas menores acontece diante da decisão da Petrobras de paralisar seu plano de desinvestimentos, o que restringe a entrada de novos participantes no mercado.

Os projetos associados à transição energética também estão cada vez mais saindo do papel, com destaque para projetos de biometano e biogás, e, em algum momento, também veremos o avanço de projetos associados ao hidrogênio verde.

BNamericas: Quais são os destaques esperados para o setor de infraestrutura?

Sorj: Espero mais avanços nas operações e projetos ligados aos segmentos de rodovias e de saneamento. Já vimos muita captação de recursos para projetos nesses segmentos.

Já na parte de ferrovias e mobilidade urbana, minha expectativa é que os projetos avancem mais do lado dos governos estaduais do que do governo federal.

BNamericas: Você notou algum movimento significativo na área de tecnologia?

Sorj: Sim, vemos bastante, e por isso lançamos um grupo aqui no escritório dedicado somente à prática de infraestrutura digital. Essa nossa área engloba projetos de datacenters, torres, fibra ótica e satélites.

Eu diria que, nesse grupo, a área em que vemos maior potencial de negócios é a de datacenters, até pelo fato de o Brasil ter uma matriz energética limpa e barata. Esse é um segmento com o qual estamos muito animados.

BNamericas: Os eventos climáticos extremos estão ganhando escala nos contratos no Brasil?

Sorj: Ainda não vejo nenhuma mudança material nos termos e condições das cláusulas de força maior ou algo parecido nos últimos seis meses ou um ano. Os acontecimentos no Rio Grande do Sul, por exemplo, não geraram alterações nas cláusulas contratuais em geral até o momento.