Equinix prepara o terreno para o próximo boom do mercado de big data na América Latina
Com datacenters interconectados espalhados por cinco países da América Latina – Brasil, Chile, México, Colômbia e Peru –, a Equinix continua otimista em relação aos negócios na região, apesar de problemas pontuais com a disponibilidade de energia em alguns mercados.
Atualmente, a empresa tem projetos de expansão em andamento no Brasil, Chile e México, além de planos de expansão na Colômbia e um pipeline de investimentos que ultrapassa US$ 350 milhões para projetos em andamento em datacenters de varejo na América Latina, que seriam concluídos até 2026.
Nesta entrevista, o presidente regional da Equinix, Eduardo de Carvalho, falou sobre os gargalos no segmento de energia, os destaques de crescimento da empresa, as perspectivas para a inteligência artificial (IA), a aposta da companhia em serviços gerenciados e outros assuntos.
BNamericas: Como está o planejamento estratégico e quais são os planos de expansão para os próximos anos?
Carvalho: Estamos neste momento fazendo as reuniões para traçar os planos para o ano que vem. Como o resto do mercado, estamos sofrendo um pouco com a disponibilidade de energia em alguns lugares. Precisamos planejar para alocar o recurso certo nos lugares em que, de fato, temos como vender.
Hoje, como você bem sabe, estamos no México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil. O Brasil vem crescendo exponencialmente, mostrando um crescimento sólido. O Chile também deve apresentar um crescimento sólido este ano. E a gente conseguiu realmente alavancar a Colômbia também, em termos de receita e de capacidade.
Nossa nova expansão no Chile ficará pronta em dezembro ou no começo de janeiro, mas já começamos a pré-venda. A demanda é grande, especialmente do mercado externo. O mercado interno do Chile também é comprador, mas é mais uma evolução, um upgrade do que já se tem. Vemos agora uma busca muito grande por cross-selling de clientes globais que querem entrar e ter um ponto de presença no Chile.
BNamericas: A Colômbia amadureceu como mercado?
Carvalho: A Colômbia é um país que está nos surpreendendo muito positivamente. A gente inaugurou recentemente o BG2, nosso segundo datacenter, e já estamos estudando a expansão desse site por conta da demanda. Começou um pouco devagar, mas, assustadoramente, no segundo semestre deste ano a demanda começou a ter um crescimento exponencial. Depois de julho, a procura pelo site foi muito grande. Eu diria que nosso primeiro site, o BG1, é o mais interconectado da Colômbia, o que é um atrativo muito grande para os clientes.
BNamericas: E no México? A energia ainda é um problema para o setor?
Carvalho: Sim, no México temos uma situação que nos preocupa um pouco mais por conta da energia. O México atrasou [a disponibilidade de energia] para todo mundo, sem exceção. Atrasou para o mercado em geral.
Espaço nós temos, mas a disponibilidade de energia ainda é um desafio. Agora temos um novo governo, que trará um novo marco regulatório. E, a partir desse marco, vamos tomar algumas ações para ver o que conseguimos.
BNamericas: Quais são as possibilidades?
Carvalho: Esse tema no México é em parte de geração e em parte de transmissão. Temos promovido estudos com empresas do setor para buscar fontes alternativas de energia.
BNamericas: Quais fontes?
Carvalho: Renováveis, mas de diferentes fontes. Alternativas. Esse tem sido o desafio. Agora, o que tem nos trazido um benefício muito grande na América Latina é o que chamamos de interconexão. Nossa plataforma Fabric está em todos os países agora.
Isso faz com que os clientes possam estar em todos os nossos sites na América Latina interconectados via Fabric. Isso tem trazido uma tração muito grande para esse setor de varejo de datacenter, que chamamos de hybrid tail.
Agora, queremos criar um ecossistema sólido na América Latina para os nossos clientes. Há muitos clientes no Chile, Colômbia, Peru e México, e alguns deles estão se expandindo para o Brasil.
Recentemente, fechamos um acordo com a Digevo, que representa parte do estúdio de jogos da Nvidia na América Latina. Eles se instalaram na Colômbia e estão analisando Peru, México e Chile. E também estão planejando nos consultar para o Brasil.
E por quê? Porque eles conseguem se falar, estão interconectados. Outro player com o qual fechamos foi a bolsa de valores do Chile, que também cobre Peru e Colômbia. A [bolsa de valores brasileira] B3 tem uma participação societária de 5% na bolsa chilena.
Se não fôssemos tão conectados ao mercado financeiro, com certeza eles não estariam com a gente. Eles precisam ter interconexão com Nova York, com a bolsa de valores de Nova York, Nasdaq, Amazon, etc. Isso tudo é feito via Fabric.
BNamericas: Mas o Fabric não é propriamente novo. Por que você está falando que ele será um diferencial agora?
Carvalho: Sou entusiasta do produto. Quando ele foi lançado, enxerguei uma possibilidade muito grande de usarmos isso como um diferencial no mercado. O Fabric é software como serviço, nuvem como serviço, infraestrutura como serviço e interconexão como serviço.
Por exemplo, há um grande banco brasileiro que usa o Fabric para interconectar a plataforma da Salesforce com o serviço Packer e com a AWS.
Por conta do volume que eles movimentam, o workload é tão grande que eles não conseguem usar a plataforma no Brasil, eles têm que ir para o exterior porque a infraestrutura lá é mais robusta.
Então eles usam o Fabric para isso. Infelizmente, não posso citar o nome do banco.
BNamericas: Existem outras empresas de datacenter que têm esse produto de interconexão. Algumas delas lançaram, inclusive, depois da Equinix.
Carvalho: Mas a gente explora isso de uma maneira muito diferente, especialmente para o varejo. Nossos concorrentes estão obviamente se encaminhando para o varejo, mas não com a consistência que temos.
Temos o Mercado Livre, que usa nossa plataforma para interconectar os países da América Latina. Tenho esse caso do banco e muitos outros que usam, por exemplo, para multi-cloud.
Uma das nossas apostas para a América Latina também é a expansão dos serviços gerenciados, que é algo que já temos mais forte no Brasil. Planejamos expandir um pouco essa camada de serviço para outros países da América Latina, fornecendo servidores, backup, armazenamento e nossa infraestrutura de serviços compartilhados.
Olhando para o mercado de forma mais ampla, para além do enterprise, estamos começando a ver alguns movimentos, inclusive, de empresas internacionais, principalmente ligadas à inteligência artificial, começando a procurar demanda aqui, em especial no Brasil.
BNamericas: Por conta da disponibilidade de energia e da matriz energética limpa?
Carvalho: Exatamente, uma matriz energética limpa e abundante. O Brasil tem essa particularidade, que, na minha opinião, que fará a diferença daqui a alguns anos. Quando a gente fala no Brasil, não tem problema nenhum de geração. Talvez tenha um pequeno gap ou outro na transmissão, mas que é muito mais fácil de resolver.
A demanda começa a mudar agora em relação ao que tínhamos antes. Costumávamos trabalhar com racks de 10-20 kW de densidade, e agora estamos com 25-40 kW. Quando a densidade começa a subir, a preocupação com a sustentabilidade cresce junto. Qual país pode abrigar isso? Brasil.
As chamadas fazendas de IA vão, cada vez mais, procurar o Brasil para se instalarem. E a gente vai se tornar um grande hub de inteligência artificial em um futuro muito próximo.
BNamericas: Vocês estão preparados para receber esse tipo de demanda?
Carvalho: A gente está se preparando. Estamos conversando com essas empresas e estabelecemos algumas parcerias de produtos com elas, negociando a gestão do parque delas com a nossa estrutura de serviços gerenciados. Ou seja, essas empresas também estarão interconectadas ao Fabric.
BNamericas: Vocês estão buscando novos mercados fora de onde já atuam? Algum país novo?
Carvalho: Estamos avaliando terrenos nos mercados em que já atuamos. No Chile, por exemplo, vamos começar a construir o ST5, nosso quinto datacenter, que deve ficar pronto em 2028.
Por questões burocráticas e de licenciamento, esse processo é mais rigoroso no Chile, porque são várias instâncias de licenciamento. Além do ST5, nós já temos uma expansão pronta, que começa a operar em dezembro.
Na Colômbia, temos espaço e energia abundantes. No Peru, a gente tem alguns racks disponíveis. Não é um mercado tão grande, mas a gente tem conseguido evoluir em algumas coisas. E aí nós temos o México, onde temos bastante espaço, mas falta um pouco de energia.
No Brasil a gente não enfrenta nenhum desses problemas. Temos bastante energia, espaço e interconexão em todos os produtos da plataforma.
BNamericas: No Brasil, o próximo projeto a ser entregue é o RJ3, no final deste ano ou no começo de 2025, certo? O que vem depois disso?
Carvalho: Depois, temos a expansão do SP4 e o SP6, previsto para 2026.
O importante para nós é explorar também o ecossistema, é a plataforma que nós estamos montando ali perto da bolsa brasileira. Como a B3 é muito interconectada, ela passa a ser um hub financeiro muito interessante.
O SP3, por exemplo, é vizinho de muro da bolsa. O SP6 está a apenas 100-200 metros de distância. Estamos construindo um ecossistema grande ali com o SP5, um site de hiperescala que também está próximo. Estamos com todos os terrenos comprados e ali conseguimos expandir até o SP9.
Então, são várias expansões, todas interconectadas com fibra.
BNamericas: Como você avalia o cenário cada vez mais competitivo na área de hiperescala?
Carvalho: Muitos players estão entrando, e o mercado não tem mais margens tão atrativas, talvez por não ser tão rentável quanto o varejo por conta da interconexão.
Nos próximos cinco anos, a tendência é que esse mercado cresça muito. Ainda é provável a vinda de novos players, muito por conta do investimento de fundos de infraestrutura interessados nesse produto, que oferece bons retornos para os investidores.
Se você me perguntar, não sei se vai ter espaço para tantas empresas assim em dez anos. Acho que nos encaminharemos para uma consolidação.
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