Espanhola Sacyr busca expansão em dessalinização na América Latina
Diante da crescente pressão sobre os recursos hídricos, causada pelo crescimento populacional e pela seca associada às alterações climáticas, diversos países da região demonstraram interesse na dessalinização e na reutilização da água para complementar as suas fontes tradicionais.
No entanto, estes projetos enfrentam barreiras como os longos prazos para a obtenção de licenças e a rejeição por parte de organizações locais devido aos seus potenciais efeitos ambientais.
Apesar desses obstáculos, a multinacional espanhola Sacyr está olhando atentamente para os projetos que estão sendo articulados na região, especialmente no Chile, onde já existe uma presença significativa no setor de infraestrutura.
Para saber mais sobre as oportunidades de dessalinização e os desafios que o setor enfrenta, a BNamericas conversou com o diretor de Inovação e Projetos Estratégicos da Sacyr Agua, Domingo Zarzo, que também é presidente da Associação Espanhola de Dessalinização e Reutilização, durante o Congresso de 2024 da Associação Chilena de Dessalinização e Reutilização (Acades).
BNamericas: Como está o portfólio de projetos de dessalinização da Sacyr? Há projetos previstos para a América Latina?
Zarzo: Para a Sacyr, a América Latina é uma das regiões estratégicas para o nosso crescimento. Estamos estudando diversos projetos no Brasil, Colômbia, Peru e, claro, no Chile. Estamos atentos a todas as novas oportunidades que surgem na dessalinização, setor em que temos maior expertise, e também no tratamento de águas residuais, entre outras áreas.
Por enquanto não temos projetos concretos em construção na América Latina dos quais eu possa falar.
BNamericas: Em relação à sua área de inovação, quais tendências estão ganhando força em termos de novas tecnologias de dessalinização e tratamento de água?
Zarzo: Hoje, quase todas as inovações em água estão focadas em aumentar a sustentabilidade das operações.
Por exemplo, quando se trata de dessalinização, estamos trabalhando na descarbonização, ou seja, aumentando o uso de energias renováveis, reduzindo emissões e até gerando energia a partir de salmouras.
A outra tendência é a economia circular. Por exemplo, existe a mineração de salmoura, que consiste na obtenção de sais e compostos químicos a partir de salmouras. Há também o reaproveitamento de alguns componentes, como as membranas, para dar a elas uma sobrevida e evitar que acabem em aterros sanitários.
No caso das águas residuais, a principal tendência é a transição do conceito de “estação de águas residuais”, que produz resíduos, para o conceito de biofábrica, que produziria água para reutilização, biogás para gerar energia, além de nutrientes para serem utilizados na agricultura como fertilizante.
BNamericas: Quais são os maiores obstáculos ao desenvolvimento desses projetos na América Latina que ainda precisam ser resolvidos?
Zarzo: No Chile falamos sobre a gestão de processos de licenciamento, que são barreiras que fazem com que os projetos demorem muito para se desenvolver. Portanto, é difícil oferecer soluções para os problemas da seca hoje em dia, quando os projetos levam entre cinco e sete anos para ficarem prontos.
Existem também barreiras regulatórias e, outra muito importante, que é a percepção social. É importante que a população compreenda que tanto a dessalinização quanto a reutilização são atividades sustentáveis que vão melhorar a vida dos cidadãos. Todos nós, e também os meios de comunicação social, temos de trabalhar arduamente para educar as pessoas nesse sentido.
Por exemplo, no caso das usinas de dessalinização, existe muita especulação sobre a rejeição da salmoura, que na verdade é água do mar concentrada. Quando isso é feito da maneira correta, que corresponde a 90% dos casos, antes de enviar a salmoura ao mar, ela é misturada à água do mar através de difusores a poucos metros do ponto de emissão para que se torne novamente em água do mar.
A população em geral não sabe disso, embora a ciência tenha comprovado que o impacto é notável.
BNamericas: Como a Sacyr analisa os esforços do Chile para reduzir os problemas no licenciamento de projetos?
Zarzo: Todos os países estão se empenhando nessa área, incluindo a Espanha. A seca, as mudanças climáticas e a pressão sobre os recursos hídricos são problemas enormes e todos estão tentando reduzir os prazos de implementação destas tecnologias.
Hoje, a obtenção de licenças para uma grande usina de dessalinização pode requerer cinco ou seis anos. Temos de tentar encurtar esse período e estamos a trabalhar nesse sentido.
BNamericas: A Sacyr tem uma ampla experiência no mercado chileno de concessões, há interesse em participar das próximas concessões de dessalinização previstas para Coquimbo e Rancagua?
Zarzo: Claro. Nós os consideramos projetos estratégicos. Estamos atuando em todo o mundo, com concessões na Alemanha, Austrália, Argélia, Espanha, etc. O Chile é um dos nossos objetivos prioritários e, claro, participaremos destas licitações assim que forem lançadas.
BNamericas: Em sua apresentação no congresso Acades, o ex-presidente Eduardo Frei pediu para que não fossem introduzidas mais leis sobre a dessalinização devido ao risco de aumentarem ainda mais os atrasos. Você acha que poderiam ser feitos ajustes regulatórios em vez de novas leis sobre a dessalinização no Chile?
Zarzo: Sim. Como eu disse antes, a questão das licenças é a que mais causa atrasos. Acredito que os atuais controles ambientais são suficientemente rigorosos e que não há necessidade de acrescentar mais.
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