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Expansão da economia do hidrogênio limpo na Colômbia

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Expansão da economia do hidrogênio limpo na Colômbia

Mesmo com as dificuldades presentes, a Colômbia está no caminho para atingir uma capacidade de 1 GW em eletrólise para a produção de hidrogênio verde até o final desta década, de acordo com a Câmara de Hidrogênio Andi-Naturgás.

Na segunda parte de uma entrevista dividida em duas, a diretora-executiva da câmara, Karen Peralta, compartilha com a BNamericas sua visão otimista sobre o futuro promissor desse setor em expansão. A primeira parte da entrevista pode ser conferida aqui.

BNamericas: Como estão sendo financiados os projetos em desenvolvimento e como você vê o panorama de financiamento para o setor nos próximos anos? Haverá apoio suficiente dos bancos, do capital privado e do governo para que o setor cresça como esperado? 

Peralta: No momento, os projetos que foram desenvolvidos no país, os projetos-pilotos, foram feitos com recursos próprios das empresas e alguns incentivos do sistema de ciência, tecnologia e inovação, porque são projetos com fins de pesquisa. Neste momento, os projetos em escala industrial não têm financiamento, mas contam com recursos próprios das empresas. 

Vemos uma oportunidade na canalização de recursos de bancos multilaterais e organizações de cooperação internacional. Também vemos uma oportunidade em alguns fundos de recursos públicos já existentes no país para apoiar este tipo de projeto.

Os projetos de hidrogênio verde, azul e branco também contam com incentivos fiscais e vemos uma oportunidade de aprofundar esses incentivos e estendê-los aos derivados do hidrogênio. Então, vemos essas três linhas: canalizar recursos internacionais, utilizar recursos públicos e melhorar a questão dos incentivos.

BNamericas: Além de incentivar a produção de hidrogênio verde, é necessário incentivar o consumo. A lógica diz que sem oferta não pode haver demanda e vice-versa. Como você acredita que a Colômbia deveria abordar esse desafio de aumentar a demanda e alinhá-la com o aumento da capacidade de produção?

Peralta: A Colômbia já definiu uma estratégia para o hidrogênio no nosso roteiro, e nessa estratégia foram definidos dois setores prioritários para o desenvolvimento do hidrogênio: as refinarias e os fertilizantes. Por que esses dois setores foram escolhidos? Porque são setores que já consomem hidrogênio proveniente de recursos fósseis, então já existe um mercado. O desafio agora é tornar o hidrogênio de baixas emissões competitivo em relação ao hidrogênio cinza ou hidrogênio fóssil. A partir desse ponto, a Colômbia deve iniciar o processo de descarbonização das indústrias por meio do uso de hidrogênio limpo. 

Vemos diferentes desafios em outras aplicações, por exemplo, nos transportes, onde não só o hidrogênio precisa ser competitivo em relação a alternativas como a gasolina ou o diesel, mas também as tecnologias precisam ser competitivas. Precisamos garantir que um caminhão com célula de combustível tenha um custo comparável ao dos veículos a diesel, e acredito que há um desafio muito grande e muito importante. O mesmo se aplica ao setor industrial. É necessário renovar o equipamento de utilização final adaptado à utilização do hidrogênio.

BNamericas: Há interesse na Colômbia em desenvolver hidrogênio azul? Em caso afirmativo, quais são as perspectivas de curto e médio prazo para o hidrogênio azul no país?

Peralta: Em relação ao hidrogênio azul, estimamos que a produção possa atingir cerca de 200.000 toneladas anuais até 2030. São projetos liderados principalmente pelas refinarias do país que já produzem hidrogênio e só precisam introduzir estas tecnologias de captura de carbono. Na verdade, a Colômbia produz hidrogénio azul na refinaria de Barrancabermeja e esse CO2 é utilizado em outras indústrias.

O que está sendo investigado atualmente é onde mais podemos injetar CO2 para que esses projetos possam ser escalados efetivamente. Quanto ao gás, fazemos parte da Associação Colombiana de Gás Natural e obviamente a Colômbia enfrenta uma conjuntura desafiadora nesse setor. Mais do que ver isso como um dos grandes desafios da indústria do hidrogênio, vemos que, diante dessa conjuntura, algumas indústrias estão avaliando novas fontes de energia, e o hidrogênio é uma delas. Então, vemos aí uma oportunidade. Esperamos, claro, que os projetos offshore e todo o potencial do país em gás e energias renováveis se desenvolvam. Isso nos permitirá ser mais competitivos no hidrogênio. 

BNamericas: A Colômbia precisa de capacidade instalada de energia eólica e solar para poder produzir hidrogênio verde, mas estas fontes ainda contribuem com uma porcentagem muito pequena da capacidade instalada do país. Os atrasos destes projetos são preocupantes? Qual o papel que a energia eólica offshore poderia desempenhar, considerando o processo competitivo em curso? 

Peralta: O que temos visto é que, se não houver excedente de energia, os projetos de hidrogênio não poderão ser desenvolvidos, porque teremos sempre uma tensão entre a oferta e a demanda. Da mesma forma, se não for desenvolvida uma nova infraestrutura de transporte, não haverá hidrogênio, já que nem todos os projetos serão projetos de autogeração de energia. 

Portanto, a geração e a transmissão são dois elementos facilitadores para o desenvolvimento de projetos de hidrogênio. Vemos que houve alguns atrasos importantes nos projetos de energias renováveis, os quais foram resolvidos nos últimos meses. Além disso, a implantação dessas energias renováveis ganhou maior força, muito impulsionada pelo último leilão realizado pelo Ministério de Minas e Energia. Porém, são necessários mais leilões, porque será necessário mais fornecimento. 

Algumas questões a ter em conta no desenvolvimento destes projetos de energias renováveis têm a ver com a questão das consultas prévias para o desenvolvimento dos projetos, além das questões ambientais e do registo na Unidade de Planejamento Mineiro-Energético (UPME). Contudo, sabemos que estas entidades trabalham em coordenação para melhorar as suas capacidades e poder responder em melhor tempo a estes pedidos de projetos. 

No tema da energia eólica offshore, vemos [um progresso] muito positivo para a atribuição de áreas, especialmente no departamento de Atlántico, onde notamos que existe um dos melhores fatores de capacidade para a produção de hidrogênio. Enquanto em outras partes do mundo o fator de capacidade pode ficar em torno de 30% ou 35%, nestas localidades pode haver um fator de capacidade superior a 50%. Então, à medida que avança o processo de alocação de áreas e que há interesse em levar essas áreas para o desenvolvimento de projetos, haverá uma oferta maior de energia e projetos poderão ser desenvolvidos. Até falamos com alguns desenvolvedores que estão interessados em acessar tais áreas marinhas para a produção de hidrogênio – ou seja, não para entregar energia à rede, mas para produzir hidrogênio diretamente. Vemos que é um grande passo para o desenvolvimento do hidrogênio no país. 

BNamericas: Esse hidrogênio poderia ser produzido com eletrolisadores localizados no mar ou a eletricidade teria que ser transportada primeiro para o continente via linhas de transmissão subaquáticas? 

Peralta: Poderia ser feito nos dois sentidos. A primeira forma é produzir hidrogênio onde estão as turbinas eólicas. Esta é uma tecnologia muito nova e de fato existe um projeto chamado Dolphyn, sob propriedade da ERM no Reino Unido, que possui estas tecnologias. É uma das possibilidades, e daí exportar ou levar o hidrogênio em forma de gás para algum outro ponto. 

Outra alternativa é levar a energia até um porto ou à terra e lá instalar um eletrolisador convencional. A outra opção, quando um projeto de energia eólica offshore não vai produzir hidrogênio – caso da maioria dos projetos – é trazer a energia para a terra e, ali ligá-la à rede interligada nacional. E esta infraestrutura de subestações para fornecimento de energia ainda não está suficientemente desenvolvida. 

Na verdade, gera incerteza entre os desenvolvedores de projetos offshore, porque dizem que podem participar nesta atribuição de áreas, mas não sabem se, em paralelo, está sendo construída a infraestrutura para poderem entregar esta energia no sistema. É por isso que estudam a possibilidade de entrar nessas atribuições de áreas de energia offshore para produção de hidrogênio – por meio desta rota não precisam se conectar à rede interligada nacional. 

BNamericas: A Andi-Naturgás tem algum dado sobre o atual custo nivelado do hidrogênio verde e azul na Colômbia? Qual seria o custo nivelado que o hidrogênio verde e azul teria que atingir para ser competitivo no país, e quando isto poderia ocorrer? 

Peralta: Não temos esses dados definidos, porque, entre outros motivos, dependem da aplicação em que os utilizamos. Se falarmos em utilizar hidrogênio como insumo industrial, estaríamos à procura de que o hidrogênio atinja níveis próximos do hidrogênio cinza. Com a situação do gás, um quilo desse hidrogênio cinza pode ficar entre US$ 2 e US$ 2,50. 

Se falamos da utilização do hidrogênio para transportes, obviamente nos preços atuais não será competitivo com a gasolina ou o diesel, entre outras coisas, porque estes combustíveis são subsidiados e também não há questão de imposto sobre o carbono. Se não me custar nada emitir CO₂, não terei incentivo para mudar para o hidrogênio. Aí vemos que o hidrogênio vai ter um preço alvo muito diferente de US$ 2,5/kg, mas estaríamos a falar de cerca de US$ 6/kg, digamos para aplicações de mobilidade. 

Queremos iniciar um estudo sobre quais seriam esses níveis de competitividade na indústria porque há um momento muito interessante na situação do gás natural. Trata-se de comparar as projeções do custo da produção de hidrogênio em relação ao gás natural importado e nacional. Aí poderemos ter um guia sobre quando o hidrogênio poderá tornar-se competitivo. E isso também será muito útil para empresas que estão pensando no seu planejamento energético. 

BNamericas: E o hidrogênio verde pode se beneficiar do prêmio que as indústrias estão dispostas a pagar e assim tirar partido dos incentivos oferecidos em muitos países… 

Peralta: Isso mesmo. Vemos que a Colômbia também tem uma oportunidade, não só na exportação de hidrogênio e de derivados, como a amônia, mas também no desenvolvimento de cadeias de produção de baixas emissões em torno do hidrogênio. Por exemplo, a produção de aço verde, alumínio, fertilizantes verdes... todos estes tipos de produtos finais com baixa pegada de carbono são uma grande oportunidade para o país.

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