O crescimento do project finance no Brasil em 2024
As operações de project finance no Brasil deverão crescer em 2024.
A expectativa é que as operações sejam lideradas pelos setores de energia, saneamento e logística, após uma série de licitações já realizadas, além de outras planejadas.
Marcelo Girão, diretor de project finance do Itaú BBA, braço de investimentos do Itaú Unibanco, conversa com a BNamericas sobre as perspectivas para 2024.
BNamericas: Qual o cenário atual para as operações de project finance do banco no Brasil?
Girão: Vale mencionar um pouco como foi 2023, que foi um ano que começou com bastante cautela – como esperado – para entendermos a trajetória de 2024.
No primeiro trimestre do ano passado, víamos que só operações que já tinham começado a andar em 2022, avançando enquanto muitos negócios novos ficaram em standby porque foi um período de troca de governo, no qual é comum uma redução nos negócios. Em paralelo, tivemos eventos ligados ao mercado de crédito, que afetou as atividades no primeiro semestre como um todo.
[Nota do editor: no começo de 2023, a Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial por conta de irregularidades contábeis, contaminando o mercado de crédito.]
Diante disso, o primeiro trimestre foi difícil, mas começamos a ver recuperação nos outros trimestres, com o avanço do leilão de transmissão de energia, leilões das concessões de rodovias no Paraná, leilão de rodovia em Minas Gerais… isso tudo fez com que os últimos trimestres do ano fosse bastante fortes para operações de project finance.
Este cenário aquecido continua no primeiro trimestre desse ano.
BNamericas: Qual a expectativa de operações para esse ano no Itaú BBA?
Girão: Tivemos aqui no Itaú BBA em 2023 um total 119 operações dentro da minha área de project finance.
Este volume de operações engloba uma série de operações, associadas ao universo de project finance, que vão desde fianças bancárias, operações de crédito, financiamento externo, financiamento de compra de participações, projetos greenfield, operações de financiamento e M&As.
Essas operações representaram um total financeiro de R$ 68 bilhões, sendo que R$ 35 bilhões estão na área de energia, óleo e gás, e R$ 33bn na área de infraestrutura, na qual também consideramos logística e saneamento.
Para este ano, devemos ter um aumento nesse volume de operações porque tendemos a ter boa atividade em todos os meses desse ano, comparado com 2023 que teve um primeiro trimestre fraco.
Porém, há riscos para a materialização deste cenário, os quais estão associados a eventos inesperados ligados às eleições municipais, alguma tensão associada à eleição presidencial nos EUA e também caso tenhamos a repetição de algum fator de crédito que tivemos no ano passado. Porém, estes riscos não estão no nosso cenário base.
BNamericas: Em relação a segmentos, quais são os de maior destaque para 2024?
Girão: Em 2023 tivemos grande destaque para as áreas de saneamento e rodovias.
Já a área de energia elétrica, sempre o mais importante setor para project finance, teve alguma dificuldade para avançar com novos projetos de geração de energia, por causa do baixo nível dos preços de energia, embora a área transmissão de energia tenha produzido negócios.
Em 2024, começamos o ano bastante ativos, com impactos positivos da inércia de operações do final de 2023, e também com novos leilões nas áreas de transmissão de energia esperados para esse ano.
Existe um mundo novo a ser explorado, que é a abertura do mercado livre de energia para o consumidor de menor porte. Isto pode gerar um pouco mais de atividade para projetos de energia eólica e solar também.
No lado de saneamento também teremos um ano positivo, com expectativa de leilões de concessões em Sergipe, Rondônia e Porto Alegre (capital do estado do Rio Grande do Sul), sendo que em cada um desses três contratos estamos falando de um volume entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões de capex e outorga.
O processo de privatização da Sabesp também trará um efeito positivo. A operação de privatização em si não é uma estrutura relacionada a modelos de project finance, mas estamos falando da maior empresa de saneamento do Brasil. A empresa, a partir do dia seguinte à privatização, tende a acelerar seu programa de investimentos, que é muito grande.
Além disso, do lado de rodovias o governo federal já disse que quer leilões mais de 9 contratos de concessões de rodovias esse ano. Particularmente, acho difícil conseguir avançar com todos esses leilões, mas avançando parte disso já é positivo e garante um pipeline importante em termos de capex.
Em mobilidade urbana, temos o Trem Intercidades, que é um projeto complexo, desafiador, mas que pode avançar este ano.
Houve muita atividade ano passado em projetos associados a infraestrutura digital, fibra óptica, datacenters… e estamos vendo alguns players com uma curva de crescimento importante, os quais demandarão também financiamento.
BNamericas: Qual a atividade atual do banco em óleo e gás?
Girão: Nós trabalhamos no financiamento de quase todos os projetos para as junior oil companies, que ganharam escala durante o programa de desinvestimento da Petrobras. Trabalhamos em operações para a 3R, Petroreconcavo e Seacrest, em financiamento de aquisições e capex que foram feitos na origem dessas empresas, muito concentrado em produção onshore, em campos maduros.
No midstream, transporte de gás, tivemos algumas participações em assessorar emissões de empresas também.
BNamericas: Qual o interesse do banco em projetos de hidrogênio verde? Qual o estágio destes projetos no Brasil?
Girão: Estamos acompanhando esse segmento.
Até 2022, eu diria que nossa avaliação sobre esse setor era quase que como um interesse acadêmico, onde estávamos aprendendo, mas já olhávamos com atenção, porque está dentro dos compromissos que o banco tem para financiar projetos e segmentos com impacto positivo em termos de redução de emissões.
O hidrogênio verde se encaixa numa série de compromissos do banco em termos de redução de emissões.
A partir de 2023, as discussões relacionadas a projetos de hidrogênio verde começaram a ficar mais robustas no Brasil, e vimos uma série de intenções de projetos sendo anunciadas – e até mesmo a criação de uma associação do setor.
Começamos a ver discussões mais maduras sobre os projetos, mas ainda há uma série de questões a serem endereçadas, começando pela questão da definição do comprador do hidrogênio verde, a escala dos projetos, custos associados e também a regulação para o segmento.
Neste momento, os projetos de hidrogênio verde ainda são três vezes mais caros que o hidrogênio cinza, mas há fatores que podem fazer isso mudar rapidamente, o que traria uma queda nos custos do projeto e também potenciais taxas criadas por governos encarecendo o hidrogênio cinza.
Dito isso, eu diria que para atingirmos a viabilidade financeira nos projetos de hidrogênio verde no curto prazo, precisaríamos de algum tipo de subsídio do governo para esse segmento.
Mas, uma vez que toda essa equação for resolvida, vamos ver uma série de financiadores de projetos envolvidos nessas operações, incluindo bancos de desenvolvimento, agência de crédito à exportação, bancos multilaterais e bancos comerciais.
Estamos acompanhando as discussões sobre hidrogênio verde com alguns clientes, aprendendo com eles.
Não temos nenhum projeto maduro, na iminência de ser anunciado, mas os planos estão avançando.
BNamericas: Em 2023, o BNDES ficou mais ativo no financiamento de projetos. Isto representa um aumento de concorrência aos bancos privados que atuam com project finance?
Girão: O perfil de financiamento de banco de fomento, como o BNDES, é bem diferente do de bancos comerciais.
Estas instituições, como o BNDES, fazem financiamentos de longuíssimo prazo que dificilmente bancos comerciais fazem, então não há competição.
Em geral, o BNDES tem atuado em projetos muito grandes, que de certa maneira poderiam ter dificuldades de encontrar recursos somente no mercado de capitais. Eu diria que é um papel mais complementar do que competição para nós, pelo menos por enquanto.
Há determinados perfis de projetos que dificilmente, sem a participação de um banco de desenvolvimento, a estrutura financeira ficaria de pé. Projetos que, durante períodos de concessão muito longos, o fluxo de caixa é negativo por muitos anos e, por conta disso, há limitação do mercado de capitais. Por isso, há muitos financiamentos com a participação conjunta do BNDES e bancos comerciais.
Sem o BNDES muitas dessas operações nem sairiam, por isto não vejo uma competição direta.
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