Equador
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O Equador conseguirá aproveitar seus recursos de cobre para a transição energética?

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O Equador conseguirá aproveitar seus recursos de cobre para a transição energética?

O avanço de uma série de projetos no Equador, como a mina de cobre e ouro Curipamba, cuja construção teria início em junho, renovou as expectativas do setor mineral, que espera atrair maior interesse para que o país seja, no futuro, um importante fornecedor de minerais necessários para a transição energética, especialmente cobre e ouro.

No entanto, para que isso aconteça, o país ainda precisa superar inúmeros desafios, como a oposição de grupos antimineração e de povos indígenas ao desenvolvimento de minas.

A BNamericas conversou com a presidente da Câmara de Mineração do Equador, Carolina Orozco, sobre as expectativas da indústria, os projetos que podem se tornar minas e os desafios que devem ser enfrentados.

BNamericas: Quais são as perspectivas para o setor de mineração do Equador em 2024, tendo em vista as oportunidades oferecidas pela transição energética?

Orozco: Quando falamos de transição energética e de migração para energias renováveis, estamos falando da luta contra as mudanças climáticas, questões que deveriam estar nas agendas de todos os governos.

No Equador, nossa pegada de carbono é de menos de 0,1% da pegada global, ou seja, não temos um grande impacto. Mas, na luta contra as mudanças climáticas, podemos ter uma grande contribuição fornecendo matérias-primas para que os países industrializados que precisam descarbonizar sua pegada, que é enorme, possam fazer isso rápido, conforme a necessidade do mundo, que pressiona para que deixem de usar combustíveis fósseis e migrem, por exemplo, para o uso de carros elétricos ou hidrogênio verde.

A Europa estabeleceu a meta de eletrificar o transporte veicular até 2030, mas não percebeu que era uma meta ambiciosa demais para a realidade da oferta e demanda de minerais essenciais necessários, como o cobre, cuja produção mundial não é suficiente para satisfazer a demanda que será gerada nos próximos 10 anos.

O cobre é um dos minerais que temos em abundância no Equador. É por isso que o país pode desempenhar um papel de liderança, porque descobrimos recentemente depósitos inexplorados de classe mundial.

Temos cerca de 7% do território concessionado, e a indústria mineral quer entrar nas áreas onde a Constituição permite, com os melhores padrões, com todas as licenças sociais para explorar e continuar fazendo descobertas.

O que descobrimos é apenas a ponta do iceberg. Encontramos ouro em abundância, mas sobretudo cobre.

BNamericas: Quais projetos ainda em fase de pré-operação poderiam contribuir para a transição energética?

Orozco: No Equador, somos ricos em ouro, cobre e também temos prata, três minerais que têm sido explorados. Podemos até ter minerais raros, mas não exploramos esse tipo de material.

Entre os depósitos de classe mundial temos que descobrimos e ainda não exploramos, por exemplo, estão Cascabel, Llurimagua, Warintza e Panantza-San Carlos. Este último é um depósito de cobre muito interessante, que quando for retomado terá, sem dúvida, que superar vários desafios pelos quais outros projetos já passaram.

No ano passado, o governo assinou a expansão para dobrar a produção de Mirador.

A mineração não é um processo de um dia. Os projetos de mineração são de longo prazo. A mineração é uma indústria nobre, paciente e perseverante, que não só muda a vida das comunidades do entorno, nosso primeiro impacto positivo, mas também muda o rosto de um país, ainda mais de um país como o Equador, em que precisamos de tudo: melhorar o sistema de saúde, de educação, etc., tantas coisas que demandam recursos. A mineração é grande geradora de recursos.

BNamericas: A quais desafios específicos você se refere no caso de Panantza-San Carlos?

Orozco: Refiro-me a vários aspectos inerentes à indústria, não só nesse projeto, mas em geral.

A indústria de mineração enfrenta problemas, não só no Equador, mas em todo o mundo. Para citar exemplos, temos problemas em países como a Austrália, o Chile ou o Canadá, mas o fato de termos problemas também nos leva a procurar respostas melhores.

Por exemplo, se houver um projeto com problemas jurídicos, eles terão de ser resolvidos em conjunto com o governo, que é quem promove o cumprimento das leis. Se o problema for de natureza ambiental, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente, teremos de superá-lo buscando a melhor alternativa para gerar o menor impacto possível, porque todas as atividades produtivas ao redor do mundo, não só a mineração, geram impacto, e devemos gerar o mínimo possível. Se o problema for de natureza social, será preciso se sentar à mesa e discutir quais são os interesses, os fatores comuns e chegar a um consenso.

A mineração industrial responsável no país não quer entrar a qualquer custo. Chegamos com consenso e com os melhores padrões ambientais e sociais, e viemos trabalhar para os equatorianos e por eles, caso contrário a atividade não faria muito sentido.

Além de falar de um projeto específico e de problemas específicos de cada projeto, diria que temos desafios, como no mundo inteiro. Um desafio particular em nosso país, e na América do Sul, é fazer com que a população entenda o que realmente é a mineração e diferenciá-la da extração ilegal.

Quero ser muito enfática ao dizer que o chamado garimpo ilegal não é mineração e devemos chamá-lo pelo nome: é extração ilegal de minerais, tipificada no código penal. Quem pratica essas atividades não são mineradores, são criminosos, ao contrário do que acontece com a indústria mineral, que trabalha com títulos, alvarás, normas ambientais e licenças sociais concedidas legalmente.

Os equatorianos devem aprender a diferenciar entre o extrator ilegal criminoso e o minerador responsável que se dedica a uma atividade legal.

BNamericas: Você acha que, apesar da oposição que existe, a construção de Curipamba, La Plata e Loma Larga começará este ano?

Orozco: Continuo muito positiva. Quando a indústria avança, gera animosidade nos grupos que existem para se opor à mineração. Existem grupos, associações, ONGs que são financiados para fazer esta oposição. Faz parte do trabalho deles e é para isso que são pagos.

Respeito aqueles que se opõem por convicção, e é bom sentar com essas pessoas em um debate técnico. Não vale a pena discutir com aqueles que consideram a oposição à mineração como uma arena política porque não são pró-país.

Curipamba, que já possui licença ambiental, vai entrar em construção. Tivemos consciência e testemunhamos a enorme mudança que foi gerada em todo o país com a entrada em produção das duas minas de grande porte [Mirador e Fruta del Norte]. Curipamba seria a terceira mina industrial, a quarta seria La Plata, e esperamos que a quinta seja Loma Larga, porque a mineração não é mais uma opção no país, é uma realidade.

Nada melhor do que esses projetos serem de empresas canadenses, com os melhores padrões mundiais, que querem vir e continuar a investir no país, apesar dos problemas políticos, sociais e econômicos que atravessamos, que querem desenvolver esses depósitos de forma responsável e gerando benefícios não só para a população do entorno dos projetos, mas para as respectivas províncias e para o país.

Eu sigo bastante positiva. A construção das minas tem que acontecer. Os grupos antimineração são cada vez menores, e ultimamente temos visto isso até em pesquisas de percepção sobre as atividades, à medida que a população começa a entender a diferença entre a ilegalidade e a mineração legal, entre as grandes necessidades econômicas e fiscais e os recursos que podem ser gerados pela indústria.

BNamericas: A construção da mina Curipamba pode abrir as portas para outros projetos e incentivar novas atividades de exploração?

Orozco: Claro. Abrirá as portas para La Plata e para Loma Larga.

Temos projetos com exploração bastante avançada, como Warintza, Cascabel e Cangrejos. Temos cerca de 10 projetos avançados em exploração, mas ainda faltam alguns anos para entrar em construção.

Obviamente, Curipamba vai abrir as portas para todos.

BNamericas: A exploração também poderia ser incentivada?

Orozco: Acredito que quando o registro de mineração for aberto, a exploração será incentivada, já que os investidores internacionais voltarão a ver o Equador com mais força, porque já faz cerca de uma década que os governos não dão sinais de atração de investimentos.

O atual governo está dando esses sinais ao setor de mineração, um dos pilares econômicos fundamentais do Equador. Sentimos que os investidores já estão voltando para o país e, se Curipamba entrar em construção e o cadastro for aberto, eles voltarão para fazer muito mais. Teremos mais uma vez grandes surpresas com grandes empresas com os melhores padrões batendo à nossa porta.

BNamericas: Que outros sinais do governo são necessários para que os investidores voltem a olhar para o Equador como um importante destino de investimento?

Orozco: Acredito que a mensagem principal já foi dada pelo presidente, que é dizer ao mundo que o país reconhece a indústria mineral como um pilar econômico fundamental da sua economia.

No dia a dia, uma segunda grande mensagem tangível é a luta contra o crime organizado, porque a extração ilegal tinha uma ligação extremamente forte com esses grupos. Ao controlar o crime organizado, controla-se também a extração ilegal, esses vínculos são quebrados, enfraquecidos, impedindo que essa estrutura continue se fortalecendo.

Isso ajuda as empresas a continuarem operando sem extorsão, com maior segurança e tranquilidade no território. Os investidores estão vendo esta mensagem com muito prazer.

Uma terceira mensagem é que a consulta pública que o presidente realizará inclui a questão de permitir a arbitragem internacional, o que também é muito bom, porque os investidores esperam por isso há anos para que possam ter maior estabilidade e segurança para seus investimentos no Equador.

Outro ponto importante é que este governo está agilizando, com cumprimento da lei, a assinatura de contratos de investimento e de proteção de investimentos para dar estabilidade aos projetos. Alguns também foram assinados no governo anterior e agora estão acelerando o processo.

BNamericas: Quais contratos estão sendo acelerados.

Orozco: Existem vários. Entre eles, com SoldGold, Solaris Resources, Cumining [subsidiária local da Salazar Resources], Torata Mining [unidade local da Challenger Gold] e Dundee Precious Metals.

BNamericas: No Equador há um debate sobre os subsídios à eletricidade que as grandes minas em produção recebem. Por que existem esses subsídios?

Orozco: Acho que há um mal-entendido em relação à tarifa de energia elétrica. As duas minas de grande porte atualmente em produção assinaram contratos em um momento muito diferente do atual.

A Lunding Gold, por exemplo, tem uma tarifa dentro de um contrato que foi assinado com o governo em 2016, no qual havia planejamento de geração de energia elétrica e soberania energética que permitiria, em tese, que o país exportasse eletricidade. Foi negociada uma tarifa, e não um subsídio, para um grande consumidor, que poderia ser uma mineradora, petrolífera ou de qualquer indústria.

O contrato diz que o governo tem de garantir o fornecimento de energia elétrica para o seu funcionamento.

Naquela época, não tínhamos períodos de seca. Houve um forte investimento em projetos elétricos e atualmente deveríamos estar exportando eletricidade. O planejamento era diferente, era uma época muito diferente. Agora, como não há geração prevista de energia elétrica, o governo terá de conversar com as empresas para ver se a tarifa será revista, porque isso está no contrato.

Referindo-se ao caso de Lundin, que é membro da Câmara, vale lembrar que quando começou a construção do projeto, o governo fez um investimento de mais de US$ 22 milhões em linhas de transmissão para que a unidade pudesse ter acesso ao fornecimento de energia elétrica através do Sistema Interligado Nacional. A empresa, assumindo os custos, construiu uma infraestrutura, que é de uso público e atende toda a província.

Da mesma forma, na seca recente, a Lundin, assumindo os custos, ativou sua autogeração, permitindo que o sistema interligado alocasse a energia necessária para a mina para abastecer a província de Zamora Chinchipe, evitando cortes.

A indústria está sempre disposta a conversar e chegar a acordos que beneficiem todas as partes.

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