‘O jogo está só começando’ para a IA generativa avançada

A empresa norte-americana Trellix foi criada no ano passado, após a fusão dos negócios corporativos da McAfee com a divisão de produtos da FireEye, em uma empresa de 40 mil clientes com mais de US$ 2 bilhões em receitas combinadas.

Na América Latina, o grupo já contabiliza cerca de 5 mil clientes, sendo 1,5 mil tanto no Brasil como no México, além da presença no Caribe e na América Central.

Os desafios que a empresa enfrenta para proteger seus clientes não são necessariamente novos no mercado, pois incluem a sofisticação avançada de criminosos, ransomware mais robusto e novas “portas” para violações externas com virtualização, entre outras coisas, mas devem aumentar exponencialmente com a expansão da automação e principalmente com o boom de tecnologias como IA generativa avançada.

Nesta entrevista, Ryan Goss, vice-presidente da Trellix para EUA e América Latina, fala sobre a visão da empresa para este admirável mundo novo.

BNamericas: Quais drivers estão impulsionando a Trellix na América Latina?

Goss: Gostamos de dizer que somos uma startup, mas uma startup com mais de 40 mil clientes em todo o mundo. E, na verdade, temos uma grande presença na América Latina. Hoje temos mais de 1,5 mil clientes tanto no Brasil como no México, pois estamos presentes em toda a região, no Caribe, na América Central. Temos cerca de 5 mil clientes em toda a América Latina.

Agora com uma estrutura formal, com gerentes de país locais, uma operação dedicada sob a nova marca, esperamos capturar as muitas oportunidades no cenário de segurança de redes e sistemas. Há muito a ser feito.

BNamericas: A quais mercados vocês buscam dar ênfase?

Goss: Estamos investindo e vamos investir muito no Brasil. É um mercado enorme para nós. E, em termos de níveis de sofisticação, especialmente em torno da segurança cibernética.

Temos alguns dos clientes mais sofisticados da região, de longe [no Brasil]. Governo, finanças, telecomunicações, manufatura, o que você quiser. Então vamos continuar investindo forte no país para dar suporte à nossa base de clientes, bem como aos nossos mais de 300 canais parceiros no país.

Depois há o México, outro mercado muito importante para nós, claro.

Temos três grandes regiões para a América Latina: Brasil, México e o que chamamos de multipaíses. Esta última região em si é enorme para nós também. Temos uma equipe enorme localizada em diferentes países para dar suporte aos nossos parceiros e base instalada. E em termos de funcionários, nosso maior escritório na região é Bogotá.

BNamericas: Você mencionou algumas verticais tradicionais do segmento de segurança. Quais outros setores vocês observam atualmente, inclusive em termos de ameaças?

Goss: É interessante. As outras verticais que eu diria são petróleo e gás, varejo, saúde, com certeza. Eles também oferecem grandes oportunidades e grandes riscos de segurança. Dividimos nosso go-to-market em todo o mundo em três segmentos. Uma delas é o que chamamos de majors, que são as maiores empresas do mundo.

Chamamos a parte do meio de empresa intermediária, e aí temos o espaço comercial, a base da pirâmide. Como você pode imaginar, lidamos com diferentes níveis de sofisticação e necessidades e complexidade em cada uma dessas camadas. Os menores também exigem segurança, mas não necessariamente têm conhecimento ou mão de obra. E isso é algo que queremos garantir que eles tenham.

Você pode comprar o melhor dos melhores em termos de tecnologia, mas ainda terá um problema de pessoal. Um desafio para efetivamente, implementar, descobrir, gerenciar no dia-a-dia e dar sentido a todas as coisas que essas soluções estão fornecendo para os clientes. Então, nós realmente queremos tentar facilitar para eles.

BNamericas: A região tem tido um aumento nos ataques, de eventos de ransomware contra sistemas da indústria. As vulnerabilidades cresceram nos últimos anos com a pandemia, assim como com o crescimento da automação, indústria 4.0. E agora parece que estamos abrindo novas “portas” com IA generativa avançada e outras tecnologias emergentes. Como você analisa a situação?

Goss: Esta é particularmente uma grande área de investimento para a Trellix. Em nosso Centro de Pesquisa Avançada [na sigla em inglês, ARC], não apenas continuamos a desenvolver nossa P&D, mas também estamos trabalhando em inteligência de ameaças. Isto significa obter informações sobre o que está acontecendo na dark web, descobrir uma técnica ou um ataque de ransomware, um novo ponto de entrada.

Compartilhamos isso em tempo real, não apenas com nossa comunidade, mas também com governos e até com nossos concorrentes. Os adversários levam vantagem porque compartilham tudo. A Trellix tem sido uma das líderes no compartilhamento de informações com nossos clientes e com nossa comunidade. Temos mais de 600 integrações em nossa plataforma XDR, incluindo todos os nossos concorrentes.

Do ponto de vista da engenharia, a ciência de dados, com inteligência artificial e machine learning, é uma grande vantagem para nós. A telemetria que temos para nossos 40 mil clientes é incomparável e cria um enorme data lake para nós. Temos mais de um bilhão do que chamamos de sensores em todo o mundo. Pode ser um endpoint, um dispositivo de rede, e-mail.

BNamericas: E o que podemos esperar em termos de demandas de segurança com as novas tecnologias? Quer dizer, já houve relatos de incidentes envolvendo grandes empresas que fazem uso do ChatGPT, bem como de cibercriminosos que o utilizam para manipulação de identidade.

Goss: Creio que estamos apenas no começo desta corrida. O jogo está só começando. Na ARC, estamos tentando monitorar o que está acontecendo nessas novas tecnologias generativas, tentando ficar à frente daqueles que distorcem suas capacidades.

É um desafio. Mapeamos algumas novas formas de ameaças, brechas de segurança, por meio de vulnerabilidades específicas criadas não especificamente pelo próprio ChatGPT, por exemplo, mas pela forma como um funcionário o utilizou em uma rede empresarial, por exemplo.

É incrível o que essas tecnologias podem fazer. Mas penso que os desafios em termos de proteção de dados vão aumentar. Está acontecendo. Agora, também estamos procurando maneiras de alavancar as potencialidades do ChatGPT dentro da empresa.

BNamericas: Onde a Trellix armazena todos os dados que coleta?

Goss: Somos grandes parceiros da AWS. Muitos dos nossos conjuntos de dados estão com eles. Temos uma presença global e também temos que observar questões de soberania de dados, requisitos governamentais, requisitos do cliente para que os dados sejam locais. Mas também temos nossos próprios datacenters privados. Portanto, é uma mistura de ambos.