México
Perguntas e Respostas

O mercado de veículos elétricos do México está pronto para decolar?

Bnamericas
O mercado de veículos elétricos do México está pronto para decolar?

Embora o mercado mexicano de eletromobilidade seja percebido como atrativo, especialmente entre os atores asiáticos que estão se estabelecendo no país, problemas como a geração de eletricidade, a infraestrutura de transmissão, a incerteza política e o poder de compra da população devem ser abordados com urgência.

A BNamericas conversou com Francisco Cabeza, presidente da Associação Mexicana de Impulso ao Veículo Elétrico (Amive) e diretor de infraestrutura de carregamento da chinesa Huawei, sobre este e outros tópicos durante o fórum Mexico EV Day.

BNamericas: Durante o evento, você mencionou que o futuro dos veículos elétricos está nas frotas comerciais. Por quê?

Cabeza: Hoje tenho responsabilidade em outra empresa, além de ser presidente da associação. Sou diretor de infraestrutura de carga [da Huawei] para a América Latina. Dito isto, posso dizer que a América Latina, ao contrário de muitas regiões e países – como Europa, EUA ou China –, tende a ter uma grande população em extrema pobreza. Ele tem problemas com água, com comida, com educação. Como latino-americanos, temos que resolver muitos problemas antes de investir dinheiro num veículo caro.

O que estou tentando dizer é que muitas vezes levantamos a mão e pedimos que coloquem os mesmos incentivos para a compra de veículos elétricos que os EUA ou a Europa têm. Para que eu, que posso comprar um carro por 500 mil pesos, possa comprar um por 700 mil.

Porém, se olharmos para as frotas que existem não só no México, mas na América Latina, que transportam mercadorias, elas têm duas características muito importantes.

O primeiro, o México ocupa a quinta posição mundial em frota de veículos comerciais.

Concorre com a Índia por muito poucos veículos. Temos a quarta maior frota de veículos comerciais do mundo. A vida útil desses veículos em nosso país é de 20 anos. Ou seja, temos uma frota antiga.

Ao simplesmente renová-la e mudar para um veículo eléctrico, estaríamos melhorando questões de segurança: menos riscos na estrada, menos acidentes. Ao mesmo tempo, abordamos outra questão, que é a redução de emissões através da mobilidade elétrica.

Esses veículos devem ser adquiridos por empresas que entendam o que é o custo total de propriedade. Se eu for até alguém que quer comprar um carro e explicar que é um custo total de propriedade e que vale a pena gastar 500 mil pesos de uma vez, ele não vai entender.

Mas se eu falar com um fleet manager e lhe disser “parte da sua frota, dos seus 3.000 veículos, dos seus 5.000 veículos que operam no México […] troque-os por elétricos, porque o custo total de propriedade lhe dá um equivalente ao da combustão”, essa pessoa irá falar com o cara do financeiro, com o cara de riscos, com o cara de operações. E dirá que é economicamente viável e estamos ajudando o ESG da empresa a cumprir sua meta de redução de emissões de CO₂.

Se olharmos para os compromissos do Acordo de Paris e para os compromissos ESG que as empresas cotadas têm, veremos que todos falam sobre a redução de emissões e, em alguns casos, até sobre quantos veículos eléctricos aspiram ter até 2030. .

BNamericas: Existe uma estimativa de quantos veículos poderiam aumentar a frota de veículos elétricos no México, no transporte comercial e público?

Cabeza: A dificuldade que temos é que o México não oferece certeza em muitos aspectos. Tem todo o potencial para ir muito longe. Há dificuldade para os frotistas projetarem quantos veículos poderão ter, porque não sabem onde está a capacidade elétrica.

Além disso, o México não adotou um padrão de conector para recarregar estes veículos. O que isto significa? Que se hoje você quiser colocar um carregador, ele pode não funcionar. Aí você tem que pensar em qual carregador vai colocar e temos quatro conectores diferentes.

Também não sabemos onde está a capacidade elétrica disponível no país. Há empresas que começaram a dizer: quero ter veículos eléctricos. O Grupo Bimbo foi muito claro: até 2024 quer ter 4 mil veículos eléctricos.

Mas no final a conversa é interrompida, porque não sabemos quanta capacidade elétrica temos para eletrificar estas frotas. Outro ponto muito importante é que essa capacidade elétrica disponível não seja monopolizada por alguma empresa no seu quintal. Se assim for, os restantes – mesmo que façam promessas como muitas empresas – não conseguirão cumpri-las, porque não há capacidade eléctrica e o custo de adoção dessa estrutura será muito elevado.

BNamericas: Você acredita que o compartilhamento de carga é uma solução?

Cabeza: Já que falamos de kW. No final tudo é definido pela potência que terei naquele centro de carregamento partilhado. Se você me disser que é uma central compartilhada de 7 kW, não vai me ajudar, porque só poderei carregar um ou dois carros o dia todo. Mas se for um carregador de 500 kW ou 600 kW, provavelmente você poderá carregar cerca de 5 a 10 veículos em um único conector. Aí faz sentido, porque você está otimizando a capacidade disponível no local e está dando o maior retorno possível do investimento ao imóvel, dando novos negócios para players que já estão lá ou para quem quer participar do mercado de veículos elétricos.

BNamericas: Você tem esperança de que o próximo governo mexicano seja um pouco mais receptivo à eletromobilidade?

Cabeza: Tenho certeza de que assim será e me baseio nos vídeos que [a presidente eleita do México] Claudia Sheinbaum postou no YouTube. Um deles é sobre mobilidade elétrica, tema que ele adora. Ela entende isso e o exemplo é o seu período como prefeita da Cidade do México.

Implantou teleféricos, trólebus e metrôs, ou seja, não era apenas uma tecnologia de mobilidade elétrica, mas atendia todos os tipos de mobilidade elétrica que podem existir em uma cidade.

BNamericas: Você se encontrou com a presidente eleita ou sua equipe de trabalho?

Cabeza: Tivemos reuniões e abordagens muito boas com diferentes atores emergentes e entrantes relacionados com a nova administração em diferentes setores, e nos concentramos muito naqueles que serão relevantes para a mobilidade elétrica.

Acima de tudo [as secretarias de] Economia, Transportes e Energia são onde concentramos nossos esforços. Da [estatal de energia elétrica] CFE, à CRE [Comissão Reguladora de Energia], [ao operador da rede] Cenace, passando também por diferentes entidades federais.

BNamericas: Qual a primeira coisa que o próximo governo, que toma posse no dia 1º de outubro, deve fazer para promover a eletromobilidade?

Cabeza: Colocar os dados na planilha e verificar se são confiáveis. Ou seja, qual é a capacidade elétrica disponível que temos e onde está, como estão as linhas de transmissão, para onde podem levar energia e para onde não podem, conversar com os frotistas e perguntar a quem quer ter veículos elétricos se isto faz sentido ou não.

Em segundo lugar: que veículos financeiros temos hoje no país e o que podemos trazer para a mesa? Porque muitas vezes os grandes fundos ficam ao nível de pessoas muito especializadas, mas não chegam ao operador de frota que deles necessita, nem aos municípios, que não sabem que existe um fundo que possam utilizar para implementar um projeto.

BNamericas: Qual a importância da infraestrutura de transmissão na área de veículos elétricos?

Cabeza: É um grande desafio, porque sabemos que os projetos de transmissão levam de 10 a 30 anos. E, se há objetivos para 2020 ou 2030, são de 5 anos, além do investimento de vários milhões de dólares.

BNamericas: Fala-se em parcerias público-privadas (PPPs) em projetos de veículos elétricos de transporte público, mas este governo não apoia muito esse mecanismo. O que poderia ser feito?

Cabeza: Creio que, embora seja de uma cor parecida, o governo que está prestes a entrar tem suas nuances e pode nos trazer algumas surpresas na parte de PPPs.

Tenha acesso à plataforma de inteligência de negócios mais confiável da América Latina com ferramentas pensadas para fornecedores, contratistas, operadores, e para os setores governo, jurídico e financeiro.

Assine a plataforma de inteligência de negócios mais confiável da América Latina.

Outros projetos em: Infraestrutura (México)

Tenha informações cruciais sobre milhares de Infraestrutura projetos na América Latina: em que etapas estão, capex, empresas relacionadas, contatos e mais.

Outras companhias em: Infraestrutura (México)

Tenha informações cruciais sobre milhares de Infraestrutura companhias na América Latina: seus projetos, contatos, acionistas, notícias relacionadas e muito mais.