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O papel do Citi no cenário de financiamento de projetos na América Latina

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O papel do Citi no cenário de financiamento de projetos na América Latina

O Citigroup definiu três setores como sendo fundamentais para as operações de financiamento de projetos no Brasil neste ano: rodovias, transmissão de energia e saneamento.

Entretanto, no conjunto da América Latina, Brasil, Chile e México devem continuar sendo os principais destinos das operações da área de project finance do grupo.

Daniel O'Czerny, diretor de Financiamento de Infraestrutura Global para a América Latina do gigante bancário norte-americano, conversa com a BNamericas sobre as perspectivas de negócios para a região em 2024.

BNamericas: Qual a estimativa do Citi para a geração de negócios no setor de project finance no Brasil esse ano?

O'Czerny: É importante separar essa avaliação sempre olhando da perspectiva de setores e também de produtos.

Em relação aos setores, a perspectiva de pipeline de projetos sugere que temos operações que já foram leiloadas, mas que ainda precisam de financiamento, e outros projetos que ainda serão leiloados.

O primeiro destaque está na área de rodovias, no qual já vimos contratos importantes, como as rodovias no estado do Paraná, sendo leiloados no ano passado. E a agenda de novas licitações continua forte esse ano, com contratos de novas rodovias em Minas Gerais e Goiás, além de outros dois lotes adicionais no estado do Paraná, entre outros.

Mesmo que nem todos os projetos (relacionados a contratos de concessões na área de rodovias) esperados pelo governo federal este ano venham a leilão, trata-se de uma agenda forte ainda no setor rodoviário.

Mas eu chamaria a atenção para um fato no setor de rodovias, que é um gargalo no mercado local. Ainda temos poucos participantes nos leilões, por ainda serem muito concentrados.

Na Colômbia, por exemplo, onde também temos uma agenda de leilões de rodovias em andamento, há mais competição, assim como no Paraguai, no projeto Rota 1 de Rodovias.

Talvez o Brasil precisasse trazer mais flexibilidade em relação à moeda nos contratos, de alguma forma introduzindo moeda forte nos contratos para atrair mais interesse, por exemplo, de empresas europeias. Mas é mais fácil falar do que fazer.

BNamericas: Além de rodovias, quais outros segmentos terão destaque na geração de negócios desse ano?

O'Czerny: Outro segmento com bastante atividade será o da área de transmissão de energia, que já teve leilão aprovado pela Aneel para o dia 28 de março, com capex de cerca de R$ 18 bilhões [US$ 3,7 bilhões].

Esse é um segmento com bastante investimento projetado.

Outro setor com considerável representatividade é o setor de saneamento, com leilões vinculados a contratos em Porto Alegre, Paraíba, Pernambuco, sem mencionar a planejada privatização dos contratos de PPPs da Sabesp e da Sanepar.

BNamericas: Quais segmentos terão desempenho mais fraco?

O'Czerny: Geração de energia. Não devemos ter leilões no segmento, uma vez que os preços da energia estão baixos e há poucos interessados.

BNamericas: Em termos de produtos, onde estão as fronteiras de expansão para negócios de project finance?

O'Czerny: Estamos muito entusiasmados aqui com a nova lei dos bonds de infraestrutura, as debêntures de infraestrutura.

Esta lei ainda necessita de algumas regulamentações, mas deve viabilizar novas estruturas de operações no mercado de capitais, estruturas bancárias, uma vez que o lastro de desembolso será estendido.

A nova regulamentação permitirá que as debêntures se tornem um tipo de bonds que conseguirão acessar novos tipos de investidores estrangeiros. Isso vai aproximar investidores internacionais para a infraestrutura brasileira.

Tradicionalmente, os investidores internacionais gostam do setor de infraestrutura por apresentar características resilientes. Com as debêntures incentivadas, chegando também aos investidores externos, veremos, nos próximos trimestres, novos tipos de investidores olhando para esse mercado.

Quando você consegue oferecer esse benefício de isenção de impostos, o investidor internacional fica mais interessado.

Com relação aos bancos, isto trará mais atividade para os bancos internacionais, como é o nosso caso, pois temos um tripé de atuação, com presença no mercado de capitais local, no mercado de capitais internacional e também de soluções de project finance.

Os bancos internacionais tendem a liderar esta tendência.

BNamericas: O Citi tem sido um banco ativo na área de petróleo e gás e FPSOs. Qual a estratégia do banco nesse segmento, diante da atual estratégia de negócios da Petrobras e o crescente apelo global por aspectos ESG nos negócios?  

O'Czerny: Temos visto a Petrobras bastante focada em diretrizes de investimentos que sejam rentáveis e adequados à sua estrutura de capital.

O mercado de crédito para a Petrobras está em um momento fantástico, com todo mundo entendendo que a empresa tem uma boa gestão de caixa e bom gerenciamento de passivos.

 A alavancagem da Petrobras é muito baixa no momento e tem uma capacidade financeira que poucas empresas no mundo têm atualmente.

Dito isso, o segmento de óleo e gás tem um caminho interessante de crescimento e o segmento FPSO continua sendo bastante relevante.

Esperamos ver ainda esse ano operações de financiamento ligadas a um ou dois FPSOs e ainda há grande demanda por novas unidades de produção.

Mas a questão atual é a capacidade do mercado para absorver essa necessidade de financiamento.

BNamericas: Qual é exatamente essa questão?

O'Czerny: Antes, um FPSO era um projeto com investimentos de US$ 1,8 bilhão a US$ 2 bilhões, em termo de capex. Atualmente, estamos falando de investimentos de US$ 3 bilhões a US$ 3,2 bilhões.

Isto mudou porque as plataformas serem maiores e mais complexas, e também pelo fato de pressões inflacionarias relevantes nos últimos anos terem impactado os preço.

Há uma grande diferença entre financiar um projeto de até US$2 bilhões e um de mais de US$ 3 bilhões. Também precisamos lembrar questões relacionadas às práticas ESG.

Há bancos que começaram a diminuir participação em financiamento em FPSOs. Existem bancos com algumas restrições em ativos relacionados a petróleo e gás. Será um processo interessante entender como será a viabilidade de financiamento desses projetos, porque é uma questão ligada ao tamanho de mercado.

BNamericas: O maior apelo das práticas ESG tende a restringir o financiamento para o setor de petróleo e gás?

O'Czerny: Hoje, não tenho uma resposta fácil para isso, mas existe, de fato, uma restrição de capital que é maior se comparada há dois ou três anos.

Quando saímos do fim da crise da Covid-19, havia uma abundância de capital no mundo, mas pouco depois vimos a uma restrição do capital a nível global, , inclusive de capital de longo prazo.

Antes havia financiamento de prazos de 17 a 20 anos, hoje, a tendência é para financiamentos de prazos mais curtos.

Então vejo uma restrição maior nesse sentido, em relação aos prazos mais longos, mas obviamente há um escrutínio maior com relação à pegada de carbono dos projetos.

Diante disso, existe até uma tendência de mudança com relação às características dos FPSOs, com novos projetos de FPSOs, com mudanças de equipamentos, que reduzem a emissão da operação de uma plataforma.

BNamericas: Em relação aos aspectos ligados à transição energética, o que você acha do avanço dos projetos de hidrogênio verde na região?

O'Czerny: O Citi está bastante ativo nessa área, discutindo as possibilidades que existem com novos players.

No Brasil, há a possibilidade de desenvolvimento de alguns hubs, como no porto do Pecém (CE), além de outras iniciativas, projetos menores, em outros estados.

O nordeste brasileiro se mostra bastante competitivo para esses projetos por causa da geração de energia renovável naquela região.

Com relação à América do Sul, além do Brasil, vejo projetos no Chile e também no Uruguai como destaques.

No Chile, os projetos são muito competitivos também por causa da geração de energia solar no deserto do Atacama, enquanto no Uruguai são um pouco menos competitivos.

De qualquer forma, cabe destacar que se trata de um mercado ainda incipiente, em que a questão principal está na conclusão de acordos offtake para que os projetos sejam viabilizados.

É um setor que vejo com bons olhos, mas que não se desenvolverá muito rapidamente.

BNamericas: Na América Latina, quais países você vê com maior volume de operações na área de project finance este ano?

O'Czerny: Para nós, o Chile sempre foi uma economia pujante que conta com grandes projetos.

No Peru, vemos um ressurgimento, principalmente na área de transmissão de energia, nas quais já existem leilões bem-sucedidos.

Temos vistos projetos interessantes no segmento do lítio na Argentina também, que não necessariamente estão associados a operações de financiamento de bancos, mas os bancos sendo advisers de outras operações.

No México houve uma retomada da atividade e existem importantes projetos de gasodutos. Outro país interessante é a República Dominicana, especificamente no setor de energia elétrica.

A Colômbia também é um país onde devemos executar algumas transações.

BNamericas: Quais são os países na região com maior geração de negócios para a área de project finance do Citi?

O'Czerny: Brasil, Chile e México são os países mais importantes. Às vezes essas posições mudam um pouco, de um ano para o outro, mas são os mais importantes.

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