‘O setor de telecomunicações do Chile apresenta alguns problemas estruturais’, segundo o CEO da Liberty Latin America
A Liberty Latin America (LLA) decidiu reduzir sua exposição ao Chile e permitir que a América Móvil convertesse suas notas na joint venture Claro VTR em uma participação adicional de 41% na joint venture. Isso dará à América Móvil o controle acionário de 91% e deixará a LLA com 9% de participação no capital.
As razões mencionadas pela LLA para essa decisão são motivo de preocupação para o mercado chileno como um todo.
“O setor de telecomunicações do Chile apresenta alguns problemas estruturais. Ter seis operadoras fixas e quatro operadoras móveis em um país de 20 milhões de pessoas é bastante desafiador do ponto de vista do retorno do investimento”, declarou o CEO da LLA, Balan Nair, em uma entrevista à BNamericas realizada em um hotel em Santiago.
"Ao analisar o futuro do espaço das telecomunicações aqui, avaliamos uma série de coisas. Primeiro, a previsibilidade do mercado. Não me parece muito claro que haja muita previsibilidade. E em segundo lugar, olhamos para isso do ponto de visto do retorno sobre o investimento. Nosso horizonte é de cerca de cinco a sete anos e, durante esse período, descobrimos que há uma série de outras oportunidades que proporcionarão um melhor retorno para o nosso capital.”
BNamericas: Quais são as principais preocupações para o regulador chileno? O que realmente está acontecendo no mercado?
Balan Nair: Seis operadoras de telefonia fixa e quatro operadoras móveis para o Chile, um país de 20 milhões de habitantes, é provavelmente demais. O regulador deveria buscar alguma consolidação de mercado. Como exemplo, a China possui 1,5 bilhão de pessoas e apenas três operadoras.
Os Estados Unidos, com mais de 400 milhões de habitantes, têm três operadoras: T-Mobile, Verizon e AT&T. E elas são muito saudáveis. Elas investem muito, apoiam as comunidades, proporcionam muitos empregos.
Seis operadoras para 20 milhões de pessoas, e todas estão enfrentando dificuldades. Não é uma situação desastrosa, mas também não é favorável.
Uma das coisas que me entusiasmaria no Chile é se houvesse três operadoras. Isso seria ideal. O regulador pode ser um aliado e contribuir para isso. Eles podem enviar os sinais corretos. Com os sinais corretos, você atrai investidores que podem planejar melhor.
BNamericas: Qual seria um bom sinal neste caso?
Balan Nair: O sinal correto seria sugerir que é melhor ter três operadoras fortes e saudáveis do que quatro ou seis operadoras que não estão tendo retornos bons ou estão até retrocedendo.
BNamericas: Ter mais operadoras beneficia os clientes neste caso?
Balan Nair: Com certeza. Com muitos operadoras, todas buscam participação de mercado, e isso faz baixar os preços, e todos acabam ficando sem lucratividade. Mas para o consumidor isso não importa, certo? Eles querem preços baixos.
No final das contas, os consumidores também pagarão um preço, porque as empresas nas quais eles confiam podem não estar mais por perto, ou seus investimentos podem não ser os melhores por não gerarem bons retornos.
BNamericas: Você consegue citar algum exemplo de mercado global que tenha enfrentado situação semelhante à do Chile atualmente e o que ocorreu lá?
Balan Nair: Panamá foi um exemplo que enfrentava dificuldades em um momento com quatro operadoras para 4 milhões de pessoas. Então consolidamos com a Claro lá, compramos o negócio da Claro e passamos a ter três operadoras. Depois, a terceira operadora entrou em falência. Não foi possível manter nem mesmo três operadoras para 4 milhões de pessoas. E agora o mercado está um pouco mais saudável
Mas é lamentável porque muitos investidores perderam dinheiro quando a terceira operadora pediu falência e muitos clientes passaram por muitas dificuldades. Esse é um exemplo. É menor, apenas um quinto do tamanho do Chile. E no Chile, você pode ver que alguns já estão passando por dificuldades.
BNamericas: E qual é o desfecho que você prevê para o Chile?
Balan Nair: Eventualmente, o Chile resolverá tudo iss. O que os investidores, especialmente no setor de telecomunicações, procuram? Procuramos alguma previsibilidade por parte dos reguladores. Procuramos reguladores que queiram manter um setor saudável.
Também buscamos moedas e esse foi um dos nossos grandes desafios aqui. As moedas se valorizam. Achei que já teria melhorado, mas ainda está na casa dos 900 [pesos por dólar]. E procuramos investir onde todos os nossos concorrentes também estejam muito saudáveis.
BNamericas: Você acha que a VTR desenvolveu novas ofertas na velocidade certa?
Balan Nair: Como eu disse, no lado fixo, há seis operadoras. Havia sete até nos fundirmos com a Claro. Temos cerca de 3 milhões de lares passados, e começamos a investir pesadamente em fibra, construindo mais 800 mil conexões em fibra.
Inicialmente, estávamos construindo principalmente redes híbridas de fibra coaxial, e somente após 2017 começamos a focar principalmente em fibra. Assim, continuamos a investir bastante. A infraestrutura híbrida de fibra coaxial em que investimos é de alta qualidade. Temos um produto muito competitivo e uma equipe muito forte para apoiá-lo. Mas ter apenas a melhor rede já não é mais suficiente. Também é necessário ter alguma estabilidade estrutural no país.
BNamericas: decisão sobre a ClaroVTR não libera capital, mas você mencionou que há melhores oportunidades fora do Chile. O que você pode nos dizer sobre isso, qual é o novo foco?
Balan Nair: Na Liberty, tomamos decisões alocando capital em diferentes investimentos, tanto em termos geográficos quanto em empresas específicas. Se eu fosse fazer os próximos investimentos, onde e com quem eu investiria?
Atualmente, os retornos no Chile estão razoáveis. Não são ruins, mas também não são excelentes. Mas isso se deve ao meu horizonte de tempo de cinco a sete anos.
BNamericas: O prazo de cinco a sete anos é o padrão na indústria?
Balan Nair: Para mim, é o tempo ideal. Mas para algumas pessoas pode ser curto demais, e para outras pode ser até longo demais. Para mim, é o correto.
Meus parceiros, América Móvil, pensam em prazos muito mais longos. E se você pensar nesse prazo muito mais longo, talvez chegue a uma conclusão diferente. Quanto mais tempo você pensar nas coisas no Chile, melhores serão os retornos.
Olhando para o futuro, consideraremos também operações em outros países para ver se há oportunidades para investirmos lá. Não precisamos gastar dinheiro apenas porque temos. Mas quando gastamos, somos muito cuidadosos com os cálculos por trás dos nossos investimentos.
BNamericas: Há algum outro mercado na América do Sul que se encaixe nesses cálculos?
Balan Nair: Certamente existem países muito interessantes - isso não significa que eu vá investir imediatamente. Uruguai, Peru. México. Colômbia também. Antes, eu estava muito interessado no Equador, mas é claro que o Equador agora está muito complicado.
A Argentina pode ter algum potencial - estamos observando o desempenho do presidente Milei, o qual é bastante otimista. Portanto, existem locais que nos parecem muito atrativos e nos quais ainda não investimos.
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