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Os altos e baixos da indústria de máquinas e equipamentos no Brasil

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Os altos e baixos da indústria de máquinas e equipamentos no Brasil

O setor brasileiro de máquinas e equipamentos tem criticado a pressão das siderúrgicas da América Latina para impor restrições ao aço importado da China.

A indústria afirma que as tarifas extras sobre o aço chinês poderiam aumentar os preços do mercado interno, causando uma série de distorções econômicas.

Ao mesmo tempo, o setor de máquinas e equipamentos apoiou um projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados que prevê benefícios fiscais às indústrias locais para a renovação de máquinas e equipamentos, por meio do modelo de depreciação acelerada.

José Velloso, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), conversou com a BNamericas sobre os problemas que o setor enfrenta.

BNamericas: Qual a sua expectativa para a aprovação final desse projeto de lei que está sendo analisado pelo Senado?

Velloso: Acho que será uma tramitação rápida, porque se trata de um projeto que conta com total apoio do Governo e também dos líderes do Congresso, tanto do presidente da Câmara quanto do presidente do Senado. Acredito que em duas semanas o Senado aprovará esse projeto e o encaminhe para a sanção presidencial.

BNamericas: Qual será o impacto real desse projeto de lei para a indústria de máquinas e equipamentos?

Velloso: Esse projeto de lei relacionado à depreciação acelerada tem uma expectativa do governo de renuncia fiscal de cerca de R$ 3,4 bilhões [US$ 680 milhões] durante dois anos, em 2024 e 2025.

Pelos nossos cálculos, essa renúncia fiscal significará um aumento no consumo de máquinas e equipamentos de cerca de R$ 20 bilhões em 2024 e 2025.

O consumo aparente de máquinas e equipamentos no Brasil, que é o resultado da soma da aquisição de bens produzidos localmente com os importados [e menos exportações], totalizou R$ 356,9 bilhões no ano passado, portanto essa medida tem um impacto limitado.

Porém, é um projeto de lei que vai na direção correta e que tem o nosso apoio, porque países como EUA, Alemanha e Inglaterra ja adoptam medidas semelhantes para a renovação de suas indústrias.

As máquinas e os equipamentos utilizados nas indústrias envolvem cada vez mais tecnologia, isso significa que esse maquinário se torna obsoleto mais rapidamente.

BNamericas: Quais outras medidas o Brasil poderia adotar para incentivar a renovação de máquinas industriais?

Velloso: A formação bruta de capital fixo no Brasil, que é a taxa de investimento do país, está muito baixa, encerrou a 16,5% do PIB no ano passado. Cerca de 40% desse investimento vem da construção civil, 40% vem do setor de máquinas e equipamentos, enquanto 20% são de troca de compra de caminhões e ônibus, softwares, etc.

Entre 2015 e 2023, com exceção do ano de 2021, a taxa de investimento no Brasil foi inferior à taxa de depreciação, ou seja, temos visto uma depreciação dos ativos no país, de forma consecutiva, nos últimos anos. Essa medida do Congresso por si só não reverterá essa situação.

Mesmo com a probabilidade de a taxa de investimento aumentar este ano, para algo em torno de 17,3%, ainda estamos no nível de depreciação da nossa indústria.

O maior problema hoje é o custo do capital. Quando uma compra de equipamento é efetuada, se for financiada, custa à empresa entre 18% e 24% de juros ao ano, tomando como base os empréstimos do BNDES. Se considerarmos a inflação anual de 4,5%, é uma taxa real muito alta.

Diante disso, cerca de 80% das compras de máquinas são feitas com capital próprio das empresas, o que é um problema porque limita o número de empresas capazes de renovar seus equipamentos.

BNamericas: Quais segmentos industriais tendem a recorrer mais rapidamente aos benefícios da depreciação acelerada, uma vez aprovada?

Velloso: Os setores que mais serão beneficiados são aqueles que visam a automação industrial, que entrarão na indústria 4.0, as empresas do segmento de bens de consumo duráveis e não duráveis.

BNamericas: No ano passado o setor de máquinas e equipamentos registrou queda no faturamento. Qual a previsão para este ano?

Velloso: O consumo aparente de máquinas e equipamentos caiu de uma receita de R$ 403,4 bilhões em 2022 para R$ 356,9 bilhões no ano passado.

Este ano, já temos o resultado de janeiro e os números são ruins, com queda em relação a janeiro do ano passado.

Mas para este ano esperamos um crescimento das receitas de 3,5%, com um aumento de 5,5% na receita interna e com crescimento das exportações em cerca de 0,6%.

Apesar do crescimento de apenas 0,6%, temos que lembrar que para as exportações vivemos um cenário bastante favorável, uma vez que tivemos um recorde no ano passado. Ou seha, o crescimento das exportações este ano será baixo porque a base de comparação é alta.

Estamos vendo um aumento nas exportações para os EUA, América Latina e Europa, e somos competitivos nas exportações de máquinas agrícolas, máquinas rodoviárias, entre outras.

BNamericas: As siderúrgicas do Brasil e da América Latina criticaram as importações de aço chinês a preços baixos e pediram aos governos locais que adotassem medidas de proteção. Qual a avaliação da Abimaq a esse respeito?

Velloso: Essas críticas são incorretas. A invasão de produtos chineses ocorre em vários setores, não apenas no aço.

No nosso setor de máquinas e equipamentos, há 15 anos a participação dos produtos importados era de cerca de 20% do mercado local, hoje está perto de 50%. No setor siderúrgico, a participação do aço importado é muito menor, cerca de 18%.

Além do setor de máquinas e equipamentos, vestuários e calçados são setores que também sofrem há anos com a invasão de produtos chineses, e esses setores empregam muito mais pessoas do que a indústria do aço.

Além disso, se o governo atender às demandas do setor siderúrgico e impor barreiras, isso provocará um encarecimento nos preços de insumos de diversos produtos, desde a indústria até mesmo para áreas de construção, impactando inclusive os planos do governo de aumentar os investimentos na área de infraestrutura.

O governo não pode simplesmente atender às demandas de um setor, que é o siderúrgico, e impactar diversos outros.

BNamericas: Por que as reclamações de empresas siderúrgicas, às vezes, parecem ressoar mais do que outros segmentos?

Velloso: O setor siderúrgico é altamente concentrado, com poucas e grandes empresas, que acabam tendo um forte lobby. Aqui no meu setor, a Abimaq representa cerca de 8 mil empresas, em sua maioria pequenas e médias, que acabam não tendo muita influência.

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