Os altos e baixos políticos do Chile: eleições regionais indicam equilíbrio em 2025

Os resultados das eleições para governadores regionais no Chile evidenciaram um mapa político marcado por uma tendência às lideranças independentes, ainda que apoiadas por forças políticas, e uma oposição que começa a ganhar força com vistas às eleições presidenciais de 2025. 

Das 16 regiões, 10 elegeram candidatos apoiados ou pertencentes à base governista, enquanto 6 elegeram representantes da oposição. Essa mudança é significativa, considerando que, em 2021, apenas uma região estava nas mãos de um simpatizante da direita.

Além disso, ao considerar a composição dos conselhos municipais, prefeituras e conselhos regionais, a balança pende para o lado da oposição.

Enquanto grande parte das regiões mineradoras será liderada por governadores alinhados com o atual governo, muitos já começam a calcular suas estratégias para as primárias presidenciais, que ocorrerão em junho do próximo ano.

Sobre o novo cenário político e as perspectivas para o setor de mineração, a BNamericas conversa com Miguel Ángel Fernández, vice-diretor do Centro de Pesquisa em Políticas Públicas e Ciências Sociais da Universidad del Desarrollo (UDD) e doutor em ciências políticas pela Universidade de Boston, nos Estados Unidos.

BNamericas: A que se deve a estreita divisão eleitoral entre o governo e a oposição nas eleições de governadores regionais de 24 de novembro? 

Fernández: Os dados mostram que a votação foi dividida entre os dois blocos, com a oposição, incluindo os Republicanos e o Chile Vamos, capturando 50% dos votos, e o partido no poder 47%, enquanto os independentes alcançaram 3%. Esse equilíbrio pode estar relacionado com os erros do atual governo, as divisões dentro da oposição e a fragmentação do sistema partidário.

O resultado geral mostra uma tendência de queda do apoio eleitoral ao governo, em comparação com as eleições de 2021, e depois de todo o processo eleitoral deste ano, a composição dos conselhos municipais, conselhos regionais, prefeituras e governos estaduais mostram um momento político mais favorável à oposição face aos desafios de 2025.

BNamericas: Você acredita que os resultados das votações recentes indicam o comportamento eleitoral das próximas eleições presidenciais no Chile?

Fernández: Os resultados sugerem uma mudança no comportamento eleitoral em direção a um maior equilíbrio entre as forças do antigo regime chileno e aquelas que surgiram com mais força a partir de 2019 [entre outubro de 2019 e março de 2020, ocorreram manifestações e graves motins no país, exigindo maior equidade na sociedade chilena].

Por outro lado, a queda no apoio ao governo e o aumento da representação de partidos de direita e independentes indicam um desgaste do governo atual e uma crescente desilusão com o bloco governante. Essas dinâmicas influenciarão as futuras eleições presidenciais, mostrando um cenário em que a oposição tem uma vantagem, mas isso não se traduz necessariamente em maior poder parlamentar, pois isso dependerá das alianças e da unidade para capitalizar o ritmo eleitoral atual.

Nesse sentido, a votação no segundo turno dos governadores favoreceu candidatos com posturas públicas mais moderadas, o que, embora não signifique necessariamente uma moderação programática, é uma evidência de que a forma e o tom político são relevantes.

BNamericas: Nas principais regiões mineradoras do norte do Chile, como Tarapacá, Antofagasta e Atacama, foram reeleitos governadores independentes, mas com passados políticos ligados à esquerda. Quais são as perspectivas para o desenvolvimento da mineração sob seus mandatos? 

Fernández: A eleição de candidatos com perfis independentes, mas vinculados a partidos de esquerda em várias regiões mineradoras sugere uma tendência para lideranças locais que estão mais distantes do que foi o projeto político original da administração do presidente Gabriel Boric. Isso também responde a uma necessidade urgente de ter candidatos que se conectem de maneira mais direta com as preocupações regionais. 

É provável que os governadores eleitos colaborem com políticas que promovam o desenvolvimento da mineração, embora com uma postura mais reguladora e de maior equilíbrio com as comunidades e o meio ambiente. Isso não é apenas fruto de quem governará a região, mas também da composição dos conselhos regionais.

Em Tarapacá, Antofagasta e Atacama, os governadores eleitos têm formação política associada à esquerda, o que pode implicar um enfoque que, em alguns momentos, não será tão próximo das investigações nesta área, mas serão pressionados por um aumento de vereadores da oposição que poderá pressionar as relações criar pontes para acordo que impulsionem novos projetos e agendas estratégicas.

BNamericas: Qual é o impacto que as decisões e a formulação de políticas dos governadores regionais podem ter na atração de investimentos e no desenvolvimento de projetos locais? 

Fernández: Eles possuem um impacto significativo. Enquanto autoridades regionais superiores, os governadores têm a capacidade de estabelecer prioridades de desenvolvimento e promover publicamente projetos de investimento. Isso será ainda mais relevante com o novo comportamento eleitoral, cuja participação eleitoral foi superior a 83% do total elegível do país, gerando maior peso para os seus partidos, coligações ou pretensões políticas, em comparação com 4 anos atrás, quando votaram no segundo turno, cerca de 20% dos eleitores qualificados. [Desde o final de 2022, existe no Chile uma reforma constitucional que estabelece o voto obrigatório para todas as eleições populares].

Soma-se a isso um cenário de crescente rejeição dos cidadãos à estagnação da economia chilena e às maiores demandas por emprego e oportunidades que começam a surgir em algumas regiões do país. Cada região enfrenta seus próprios desafios, mas algumas como Biobío – afetada pelo encerramento da planta Huachipato – terão um papel de liderança por parte dos seus governadores eleitos para promover agendas de investimento e atrair novos capitais que permitam dinamizar a economia regional e local.

BNamericas: Em um contexto de insegurança e índices crescentes de criminalidade no Chile, você considera líderes com caráter forte e de confronto como os presidentes Javier Milei na Argentina ou Donald Trump nos Estados Unidos, poderiam surgir no país?

Fernández: Nesse contexto, sempre existe a possibilidade de surgirem lideranças com um perfil voltado para essas questões e com um discurso mais contundente. No entanto, os resultados também mostram que aos chilenos valorizam as formas, o que marca uma distância em relação a fenômenos como os de Milei ou Trump. 

No contexto parlamentar, poderia haver um efeito maior de figuras de confronto devido às regras eleitorais. No entanto, nas eleições presidenciais, a tendência é buscar uma liderança que, embora firme e direta em relação a essas questões, consiga manter as formas e ser mais resolutiva do que conflituosa.