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Os fatores que moldarão o cenário da mineração na América do Sul em 2025

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Os fatores que moldarão o cenário da mineração na América do Sul em 2025

O setor de mineração na América do Sul está caminhando para 2025 com muito interesse dos investidores, dadas as vastas reservas da região de minerais essenciais associados à transição energética.

Contudo, em alguns grandes países de mineração, como o Brasil, longos atrasos nos processos de licenciamento ambiental podem reduzir o apetite de potenciais investidores.

Para saber mais sobre essas questões, a BNamericas conversou com Manuel Fernandes, sócio-líder do setor de energia e recursos naturais da KPMG no Brasil e na América do Sul.

BNamericas: Quais serão os principais drivers para a atividade do setor de mineração no Brasil e América do Sul em 2025?

Fernandes: Devemos ver a continuidade de um cenário que vimos ao longo de 2024, que é de um foco associado à transição energética.

Diversos estudos mostram que, para atendermos toda a demanda ligada à transição energética, teremos que multiplicar por cinco, talvez até seis vezes a produção mineral atual. Por isso, este tema tende a liderar as discussões.

Assim, o Brasil parte de um ponto com bastante vantagem, dado o potencial do país, ainda com vasto território inexplorado e já com uma boa diversificação mineral em andamento.

Além disso, à medida que o foco associado à transição energética se concentra em minério de ferro (de alta qualidade), cobre, níquel e lítio, além do Brasil, países que tendem a se beneficiar são Chile, Bolívia e Argentina também.

BNamericas: Você vê novos investidores entrando no setor mineral?

Fernandes: Nós já temos grandes empresas operando na região: a Vale no minério de ferro no Brasil, a BHP e a Codelco no Chile, em áreas já mais tradicionais da mineração, como minério de ferro e cobre.

Agora vemos novas classes de investidores olhando para ativos associados a minerais críticos, como as montadoras de veículos chinesas, como a GWM, BYD, entre outras, que estão chegando na região e olhando o setor mineral para potenciais investimentos.

Mas temos alguns desafios a serem superados na região, como a geração de uma indústria mineral o mais verticalizada possível. Hoje, por exemplo, grande parte do beneficiamento do lítio acontece na China. Então, temos que pensar em formas de verticalizar a indústria.

Esta discussão sobre verticalização não é nova, aconteceu com outros minerais também, onde em diversos casos não aproveitamos as oportunidades de exportarmos bens de maior valor agregado.

Num ambiente como o da nossa região, onde há abundância de energias renováveis e energias a baixo custo, há muitas oportunidades.

BNamericas: Quais são os desafios para avançarmos com essas oportunidades?

Fernandes: Eu vejo que ainda precisamos avançar em fontes de financiamento para a atividade de exploração, mas há uma sinalização positiva sobre isso. Temos visto os bancos de desenvolvimento mostrando interesse em financiamento na atividade de exploração.

Essas iniciativas são importantes porque um processo de exploração demora uns cinco ou seis anos, e depois mais cinco anos de investimentos sendo feitos até a primeira tonelada ser produzida e exportada. Então, é uma atividade que precisa de mais fontes de financiamento, como já acontece em ambiente de bolsa de valores do Canadá e Austrália.

BNamericas: Mão de obra qualificada é um desafio para o setor?

Fernandes: A mão de obra qualificada é um desafio constante para o setor.

O Brasil é um exemplo disso. Hoje, o estado do Pará, mais precisamente na região de Carajás, tem reservas de minério de ferro para mais 300 anos de produção e de alta qualidade.

Só que é difícil atrair e reter talento para uma região remota, por mais que a Vale, que atua na região, já tenha um ecossistema criado lá. Sempre é um desafio levar pessoas bem treinadas que preferem viver em grandes centros urbanos como São Paulo ou Rio de Janeiro.

O mesmo problema também enfrenta o lítio, que tem reservas na região do Vale do Jequitinhonha, uma região remota do estado de Minas Gerais, mas que enfrenta dificuldade na atração de talentos.

BNamericas: Quais outros gargalos no setor no Brasil?

Fernandes: Questões de licenciamento e impostos são sempre problemáticas, mas no caso de impostos, essa é uma realidade de todo país que tem atividade mineral.

O que precisamos resolver melhor no Brasil são as questões com licenciamentos. É necessário ter regras rígidas de licenciamento, como já existem, mas não podemos ter processos de licenciamento que não contem com um prazo definido. Isto é muito danoso para as projeções de custos dos projetos.

Sem uma base sobre o cronograma de um licenciamento, uma empresa não consegue fazer suas estimativas de fluxo de caixa.

Eu também diria que, além do licenciamento, também temos uma tarefa à frente que está ligada à descarbonização da indústria, e nesse caso me refiro às atividades siderúrgicas, que ainda vão precisar investir bastante, tanto na redução de suas emissões como também na aquisição de créditos de carbono.

BNamericas: A demanda crescente por minerais críticos em algum momento tirará o reinado do minério de ferro como principal produto do setor mineral brasileiro, tanto em termos de produção como de investimentos?

Fernandes: Acho improvável isso acontecer, até pelos enormes volumes de reservas que temos em Carajás, como já citei. Além disso, o mundo ainda não dá sinais de achar qualquer tipo de substituto real para o minério de ferro, que está muito associado a projetos de infraestrutura.

Mesmo em momentos que se discute uma desaceleração econômica da China, que foi uma grande propulsora do minério de ferro nos últimos anos, projetos de infraestrutura em outras partes do mundo geram nova demanda. Já há sinais de que a Índia pode assumir uma demanda importante de minério de ferro a longo prazo também.

Por conta disso, mesmo desenvolvendo outros minerais, não vejo o minério de ferro perdendo protagonismo no Brasil.

Mas tem uma área que eu vejo grande potencial para o Brasil também que não mencionamos.

BNamericas: Qual?

Fernandes: Os minerais associados à produção de fertilizantes, como o potássio, por exemplo.

O Brasil é um grande produtor agrícola global, mas depende da importação de fertilizantes.

Para reduzir essa dependência, os minerais associados à produção de fertilizantes são também minerais críticos para o Brasil.

Mas também sobre esses minerais, para termos uma produção maior, entra a questão que mencionei sobre a demora dos processos de licenciamento.

O Brasil precisa acelerar os processos de licenciamento para começar a produzir esses minerais e reduzir a dependência de importados.

O Brasil, mais especificamente a cidade de Belém, sediará no ano que vem a COP30, e essa será, na minha visão, um evento importante onde o Brasil vai poder mostrar para investidores e participantes internacionais que visitarão a região os projetos em andamento. Eles entenderão melhor, vendo com os próprios olhos, os riscos associados aos projetos, não só do setor mineral, mas também aqueles associados à exploração e produção de petróleo.

[Nota da BNamericas: a conferência COP30, da ONU, ocorrerá em novembro de 2025.]

BNamericas: Quais exemplos o Brasil pode mostrar durante a COP30?

Fernandes: O Brasil não tem na sua história recente incidentes ambientais relevantes relacionados diretamente à produção mineral ou de petróleo.

Alguém que não conhece o setor pode mencionar os incidentes que aconteceram nas cidades de Mariana e Brumadinho, mas aqueles incidentes estão ligados ao colapso de barragens, que foram problemas no gerenciamento dos rejeitos e não associados a problemas na produção em si.

Se olharmos então na área de petróleo, onde há muita discussão sobre a exploração e produção na chamada margem equatorial, não há registros no Brasil de incidentes no segmento, uma vez que a Petrobras desenvolveu uma grande curva de especialização na produção segura de petróleo.

Se ficarmos muito paralisados em discussões associadas a licenciamentos, perderemos janelas de oportunidades, tanto nesses setores como também num segmento nascente que é a produção de hidrogênio verde.

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