
Os mercados que estimulam a expansão do armazenamento de energia na América Latina

O Chile é considerado pioneiro em projetos de armazenamento de energia na América Latina e no Caribe, mas oportunidades também estão surgindo em outros lugares, de acordo com a desenvolvedora Recurrent Energy, com sede no Texas.
Na segunda parte da entrevista que concedeu à BNamericas, o gerente-geral da empresa para a América Latina, Gustavo Vajda, contou por que está otimista com o futuro do setor na região.
A primeira parte da entrevista pode ser vista aqui.
BNamericas: Por que o armazenamento de energia tem demorado tanto para avançar na América Latina em comparação com outras partes do mundo? O que precisa ser feito para mudar esse cenário?
Vajda: Os mercados de eletricidade da América Latina são bastante diversos, cada um enfrentando desafios únicos. Por exemplo, o Chile foi pioneiro em instalações de baterias de íons de lítio de grande escala entre 2009 e 2011. Em contrapartida, países como Brasil, Colômbia e Equador são altamente dependentes da energia hidrelétrica, enfrentando flutuações sazonais na geração.
Além disso, os mercados do Caribe e de partes do Chile enfrentam deficiências de transmissão, o que afeta indiretamente os custos de energia e a confiabilidade do abastecimento. Embora o armazenamento de energia represente uma solução fundamental, sua implementação bem-sucedida depende da existência de marcos regulatórios robustos, adaptados às necessidades específicas de cada mercado.
BNamericas: O Chile parece ser o líder regional em termos de investimentos em armazenamento de energia, enquanto o Brasil também está progredindo. Esses serão os mercados mais atrativos para investimentos em armazenamento de energia na região?
Vajda: O Chile lidera os investimentos globais em armazenamento de energia, impulsionados por fatores como sua geografia única e a adoção precoce de baterias de íons de lítio em grande escala. Apesar dos desafios na infraestrutura de transmissão, a alta penetração das energias renováveis no Chile é um diferencial.
O Brasil e o México também se mostram promissores, com o Brasil explorando ativos de transmissão virtuais e o México visando aliviar o congestionamento da transmissão com armazenamento de energia. Os dois países oferecem oportunidades para configurações “behind-the-meter”.
Além disso, consideramos que os países do Caribe e as áreas isoladas, sobretudo aqueles com a infraestrutura de transmissão e distribuição vulnerável, são mercados altamente favoráveis para investimentos em armazenamento de energia.
BNamericas: Falando sobre o Brasil, vimos que a Recurrent Energy garantiu US$ 70 milhões em financiamento do Banco do Nordeste do Brasil para o projeto solar Jaiba III. Como você descreveria as condições de financiamento para projetos de energia renovável e armazenamento na região? Observa-se um maior apetite por parte dos bancos para apoiar esses empreendimentos?
Vajda: Os projetos solares se beneficiam de financiamento favorável por parte dos bancos, com um forte apetite por investimento e condições muitas vezes alinhadas com a dinâmica do mercado local. Embora o financiamento de projetos possa ser caro em alguns países, isso varia dependendo do país e da moeda utilizada.
Também estão surgindo projetos de armazenamento na região e as interações iniciais com os bancos têm sido positivas. A previsão é que os bancos não enfrentem obstáculos significativos no financiamento desses projetos, refletindo a confiança crescente na viabilidade e no potencial das iniciativas de armazenamento de energia.
BNamericas: Seria possível saber o valor do investimento do portfólio de projetos da América Latina/Caribe da Recurrent Energy (em desenvolvimento ou em construção) e quantos gigawatts de nova capacidade isso representa? Além disso, você poderia compartilhar conosco quais são as metas de investimento e nova capacidade da Recurrent Energy na América Latina e no Caribe para os próximos cinco anos?
Vajda: A Recurrent Energy vê a América Latina como um mercado importante para o desenvolvimento das energias renováveis. Reconhecemos o potencial único da região para se tornar líder global tanto na geração quanto no consumo de energia limpa. Nosso objetivo é desenvolver um pipeline robusto de projetos solares de 5 GWp na região até o final de 2025.
Essa meta ambiciosa nos posiciona para sermos uma das maiores plataformas de desenvolvimento solar na América Latina até 2030. Nosso crescimento será impulsionado principalmente pelo desenvolvimento de projetos greenfield – locais inexplorados com potencial significativo de energia renovável – liderados pela nossa experiente equipe interna.
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