Os planos de Tijuana para resolver problemas hídricos
As empresas que transferiram suas operações para a cidade de Tijuana, no estado de Baja California, no norte do México, em busca de aproximação com o mercado norte-americano, enfrentam escassez de água, entre outros problemas, devido ao mau planejamento, embora já existam possíveis soluções ao alcance.
As autoridades poderiam atenuar essas dificuldades por meio do tratamento e dessalinização da água, mas ainda não tomam medidas, afirmou Manuel Becerra Lizardi à BNamericas.
Becerra é membro da Associação Hidráulica Mexicana (AHM) e do Conselho Mundial da Água (WWC). Nesta entrevista, ele fala sobre o cenário atual e explica como uma gestão adequada pode contribuir com a solução.
BNamericas: De acordo com a imprensa local, você informou que a infraestrutura hídrica de Tijuana requer um investimento anual de 1 bilhão de pesos [US$ 59,3 milhões]. Para onde seriam destinados esses fundos?
Becerra: Acho até que ficamos aquém disso. Deve ser mais, porque há muita necessidade de investimento, tanto em água potável como em sistemas de esgoto. As infraestruturas existentes precisam ser reabilitadas e são necessárias novas construções para água potável e saneamento. Os investimentos necessários podem facilmente atingir US$100 milhões anuais durante pelo menos 15 anos.
Enfrentamos uma seca crônica, não temos fontes locais de abastecimento, estamos em uma das zonas com o maior estresse hídrico do mundo, entretanto, sentimos que também há uma seca de gestão integral da água: planejamento, administração, operação, etc.
Durante muitos anos tivemos organizações hídricas muito boas e bem geridas na Baixa Califórnia. Mas nos últimos 15 anos isso foi bastante reduzido. As mudanças na administração impediram a continuidade do planejamento e, portanto, dos investimentos necessários. Aqui a área é abastecida apenas pelo aqueduto do Rio Colorado e toda a região metropolitana depende dessa fonte. Estamos próximos do mar e consideramos viável a dessalinização. Existe, inclusive, um projeto que foi cancelado na gestão estadual anterior. Um projeto já licitado e contratado. Não sobrou nenhum plano B para substituí-lo e não teremos outra opção senão dessalinizar e reaproveitar a água. No entanto, nada está sendo feito para garantir a segurança hídrica na região.
BNamericas: Os governos locais dizem que a dessalinização é muito cara. Como você acha que esse problema poderia ser resolvido?
Becerra: As pessoas estão pagando um preço muito mais alto por não tê-la A dessalinização é algo que está sendo feito em todo o mundo. Estamos em uma zona deserta, mas felizmente temos o mar. O ideal é que tenhamos água doce, barata, de boa qualidade e próxima da população. Mas e se você não tiver? O sul da Califórnia não tem água doce. A Austrália também não tem. A Arábia não tem. Israel não tem. Então é preciso dessalinizar. Até as populações da África fazem isso. Até no México é feito, em Sonora e Los Cabos.
É claro que é mais caro purificar a água salgada do que a água doce, mas a água doce do rio Colorado que abastece Tijuana não é tão barata, porque precisa ser bombeada e transportada por grandes distâncias e altitudes. A água dessalinizada e a do rio Colorado transportada para Tijuana já estão quase nos mesmos preços. Não devemos ter medo da dessalinização.
BNamericas: O que acontecerá se os projetos não forem implementados rapidamente? Quanto tempo resta para Tijuana diante da situação atual?
Becerra: O crescimento populacional é permanente, então pode começar a haver racionamentos [racionamento por zonas].
Temos um abastecimento de água de 5.000 l/s. Nos dias de maior demanda no verão, esses picos podem chegar a 5.500 l/s ou mais, então não há como garantir água para todos ao mesmo tempo.
Além disso, se o aqueduto falhar – como já aconteceu – ficaremos sem água, porque dependemos de uma única fonte.
Quando há emergências, percebemos a necessidade de uma fonte alternativa. E também quando há aumento na demanda, como é o caso das empresas que pretendem se estabelecer na nossa região devido ao nearshoring.
BNamericas: Por que a dessalinizadora de Rosarito foi cancelada?
Becerra: Aconteceu algo muito parecido com o aeroporto da Cidade do México. Um projeto tão grande não era necessário e havia corrupção. Se fosse muito grande, deveriam ter analisado e reduzido, e se houvesse corrupção, deveriam ter colocado os responsáveis na cadeia, mas nada disso foi feito. Devem ser efetuados pagamentos, inclusive, pelas ações judiciais geradas pelo cancelamento.
BNamericas: Por que você acha que não foi lançado nenhum leilão para outro projeto semelhante?
Becerra: Não é por falta de recursos, porque esses investimentos seriam privados, mas as coisas se complicam porque o consórcio que ganhou o contrato processou o governo do estado pelo cancelamento. Enquanto houver litígio, outro projeto não poderá ser licitado.
Acredita-se que estejam resolvendo, negociando e logo entra entre licitação. Nós não temos escolha. Nem faz sentido trazer água do rio Colorado, que precisa atravessar toda a cidade para chegar aos municípios de Rosarito ou Ensenada, quando lá existe o mar.
Cidades como Monterrey, Guadalajara, El Bajío ou a própria Cidade do México gostariam de ter mar, mas sequer possuem a opção de dessalinização. Tijuana teve uma usina de dessalinização de 1970 a 1985. A dessalinização não é algo novo, está até se tornando mais econômica.
BNamericas: Você acha que o Governo Federal tem dado apoio suficiente aos projetos da região?
Becerra: A verdade é que a atual gestão federal deixou o setor hidráulico um pouco desamparado. Se analisarmos os 20 projetos prioritários do presidente Andrés Manuel López Obrador desde que iniciou seu governo, nenhum deles incluía água. Depois começaram a surgir emergências e prioridades, como os casos de Monterrey [Nuevo León], Mazatlán [Sinaloa] e Ciudad Obregón [Sonora]. Então, eles se concentraram nisso. Todos os outros estados ficaram sem apoio federal.
O setor privado está interessado em investir em infraestrutura hidráulica e há muitos projetos.
Nem o Governo Federal, nem os governos estaduais conseguirão resolver o problema se não houver participação privada. Não há dinheiro suficiente.
A participação privada tem sido confundida ou mal interpretada devido à ignorância ou à má-fé: a participação privada é muito diferente da privatização da água. Segundo a Constituição Mexicana, a privatização não é possível no México, porque a água é propriedade da Nação, mas a participação privada é possível e é feita todos os dias em diferentes atividades do setor hidráulico do país.
BNamericas: Seria uma boa ideia deixar o Ministério da Defesa [Sedena ] construir projetos? Foi alegado que isso deixaria as empresas de construção locais sem trabalho.
Becerra: Como construtores, não concordamos que Sedena deva construir essas obras, porque, por um lado, não é função do exército, por outro lado, não há licitações, nem transparência. Não sabemos quanto custam as obras que estão realizando. Espero que pelo menos construam boas obras.
Em tudo isto, falta também uma gestão adequada e abrangente, onde todos os utilizadores, governos, setor privado e organismos especializados participem realmente, para tomar as melhores decisões e garantir uma verdadeira governança da água.
BNamericas: Tijuana é por excelência uma das cidades que as empresas escolhem para estar mais perto dos Estados Unidos. Você acha que o problema da água afetará o fenômeno do nearshoring ?
Becerra: Sim, claro. Reparem na incongruência: no início da administração, a construção da planta da Constellation Brands foi cancelada com a justificativa de que a população de Mexicali ficaria sem água, porque a água seria usada para fazer cerveja.
No Vale do Mexicali a situação é muito diferente da de Tijuana. Estamos a 200 km de distância, mas há muita água lá. Chega a água do Rio Colorado: 1.850 MMm3 (milhões de metros cúbicos) por ano. Desses 1.850 MMm3, a Constellation usaria 10 MMm3 por ano. Quando toda a questão da construção da usina começou, foi decidido reduzir o investimento de US$ 2 bilhões para US$ 1 bilhão, para utilizar apenas 5 MMm3 por ano, mas nem isso foi aceito e o projeto foi cancelado e o investimento acabou Foi um investimento em uma região onde há água.
Se a Constellation estivesse localizada em Tijuana, concordaríamos que esse tipo de indústria não pode estar aqui, porque não temos água.
A demanda das empresas que querem se instalar aqui pode ser atendida, mas é preciso fazer investimentos em infraestrutura, que atualmente não existe. É preciso reabilitar o aqueduto [que traz água do rio Colorado] e começar a reutilizar a água.
É incongruente cancelar um investimento onde há água, mas aqui estão promovendo um investimentos que virá e não temos água. É preciso ter infraestrutura e energia. Também existem muitas reclamações dos industriais sobre isso, porque não há infraestrutura e eles precisam construir a sua própria para poderem se estabelecer. Em alguns casos, nem isso é possível.
BNamericas: O que você acha da iniciativa que pretende elevar a status constitucional a proibição de outorga de concessões de água em áreas áridas?
Becerra: Os aquíferos estão superexplorados, por isso concordamos que as concessões sejam revistas. Certamente deve haver muito mais extrações ilegais do que legais. No caso das extrações legais, nem mesmo a autoridade sabe quanta água é extraída, porque não há fiscalização nem medição.
Aqui existem muitos aquíferos no Vale de Guadalupe e no Vale de San Quintín, todos superexplorados. Espero que seja bem regulamentado e revisto, mas tem de haver controle.
BNamericas: Uma grande porcentagem da água tratada de Tijuana é despejada no mar. Por que não é reutilizada?
Becerra: Por falta de gestão. Está provado que é muito mais barato tornar potável a água negra do que tornar potável a água do mar, mas não estamos aplicando nenhuma dessas nenhuma dessas opções. Na nossa região só temos duas saídas: dessalinizar e reaproveitar. Os países ou sistemas hídricos que estão resolvendo seus problemas de abastecimento e mesmo os seus problemas financeiros são aqueles que estão reutilizando suas águas residuais.
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