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Padtec: ‘Esperamos nunca chegar a uma situação como a da Prysmian'

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Padtec: ‘Esperamos nunca chegar a uma situação como a da Prysmian'

A fabricante brasileira de equipamentos óticos Padtec relatou resultados mistos no primeiro trimestre, impulsionados por parcerias, mas enfrentando a pressão de importações baratas.

Por um lado, a receita líquida diminuiu 26,3% em comparação com o ano anterior, principalmente devido a fatores sazonais e uma saturação temporária no setor de telecomunicações. A empresa atribuiu isso, parcialmente, às fortes exportações da China, que também prejudicaram seriamente a concorrente italiana Prysmian. Como resultado, a fábrica de fibra ótica no estado de São Paulo está enfrentando um iminente risco de fechamento por causa da competição de importações de baixo custo.

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Por outro lado, a Padtec está ampliando sua atuação no mercado por meio de parcerias e novas linhas de produtos.

Embora opere em vários países da região e nos Estados Unidos, foram anunciadas novas colaborações com a Hayex Technology (Peru) e a Kubos Tecnologia (Colômbia) para impulsionar a presença da empresa na América Latina.

A empresa também firmou parceria com a Parallel Wireless para oferecer soluções Open RAN, incluindo produtos 5G. Enquanto um recente acordo com a Arrcus, fornecedora de software de rede para datacenters, marca sua entrada da Padtec no segmento de switches e roteadores IP.

A empresa também implementou ajustes de custos para funcionários e materiais e renegociou contratos de fornecedores, com o objetivo de economizar R$ 30 milhões (US$ 5,8 milhões) anualmente. Além disso, a Padtec reestruturou dívidas e assegurou R$ 150 milhões em novas linhas de crédito.

Nesta entrevista, o CEO Carlos Raimar discute a concorrência chinesa, o desempenho comercial da empresa e as novas apostas da companhia para o futuro.

BNamericas: A empresa registrou uma queda de 26,3% nas vendas do primeiro trimestre, atribuindo isso à sazonalidade e à saturação do mercado. Você poderia explicar? A concorrência também sofreu esse impacto?

Raimar: Foram vários fatores. Os estoques estavam altos no pós-pandemia. Há a questão da invasão de produtos chineses. Não estamos no mesmo grau de sofrimento de uma Prysmian, mas há algum impacto.

Nossa nova linha de transponders nos torna competitivos tecnologicamente e estamos na faixa de preço da Huawei, por exemplo. A Huawei é a mais voraz nesse segmento, depois vem a ZTE, a FiberHome, etc. Todas elas têm algum sabor de DWDM [Dense Wavelength Division Multiplexing, solução ótica].

E como eles estão proibidos de vender em certas geografias, e o Brasil, a América Latina estão totalmente abertos [à Padtec], conseguimos alguma vantagem.

Mas há impactos no setor. A concorrência chegou aos OLTs [Terminais de Linha Ótica], ONTs [Terminais de Rede Ótica]. Os cabos de fibra, é claro, são os que sofrem há mais tempo, com um dumping alto de produtos.

BNamericas: Quais são suas estratégias?

Raimar: Nós tomamos a decisão de nos alinharmos ao mercado americano de supply chain para obter os microchips fotônicos produzidos em Taiwan e ter escala. Entramos em uma fila junto com a Cisco. O fornecedor de chips para DWDM da Cisco também é nosso fornecedor.

Todo o software, o restante dos componentes, a mecânica, a gente faze no Brasil, com produção local. Nem tudo pela Padtec, que se especializou na parte fotônica, que ninguém domina. A parte eletrônica a gente usa parceiros locais.

Então eu diria que no core da Padtec, que é o DWDM, somos competitivos tecnologicamente e estamos conseguindo brigar por preço, exceto nos casos em que há dumping, com preços muito agressivos e padrões éticos discutíveis.

E há os executivos, as empresas, que têm realmente uma aposta por conteúdo nacional de qualidade, além da proximidade da entrega, o que nos ajuda.

BNamericas: Quem, por exemplo?

Raimar: A Brisanet tem 99% da sua rede na Padtec, Você Telecom, a V.tal é um grande cliente que confia na Padtec, a BR Fibra.

Na parte governamental, estamos com a Telebrás. Ganhamos todas as Infovias [trechos do programa de fibra fluvial Norte Conectado Amazonas].

Onde iniciamos a licitação, em um processo sério, ético e competitivo, ganhamos.

Outras empresas, como a RNP, abrem processo de compra internacional, permitindo importações e temos que competir via Colômbia. A Huawei ganha 90% desses contratos, vendidos por um revendedor local da Huawei.

BNamericas: Nos processos das Infovias, a chinesa ZTT foi a vencedora do contrato para fornecimento do cabo de fibra para três rotas.

Raimar: Isso mesmo. Além de fornecedores dos equipamentos óticos, nós fomos contratados como Padtec Serviços também para auditar o processo produtivo da ZTT no cabo.

BNamericas: Você falou sobre dumping em produtos óticos. Quem faz dumping em DWDM atualmente?

Raimar: A Huawei pratica preços muito abaixo de nós, mas ela não conseguiu chegar, nesse momento, à nossa maturação tecnológica. Mas eles estão muito agressivos em preço.

Eles oferecem financiamento de longo prazo, descontos grandes. E isso é equipamento importado. Então há uma questão de política de estado aí, uma opção por desenvolver essa indústria no país.

Esperamos nunca chegar a uma situação como a da Prysmian e estou me prevenindo para situações como essa. Felizmente, temos atuação em diversas geografias, e nossa estratégia é depender cada vez menos do Brasil.

BNamericas: Em que sentido?

Raimar: Estamos entrando em switches e routers, inicialmente trazendo de fora. Se o jogo é importar e revender, então eu também estou preparado para isso.

O equipamento da IP Infusion [que a Padtec está revendendo] compete com Huawei e foi a escolha de grandes players globais, como Telefónica e AT&T, para fazer a desagregação das redes.

Se custa cerca de R$ 500 milhões desenvolver essa linha no Brasil, então vamos fazer o processo deles [dos chineses]: primeiro eu importo e revendo. Depois eu monto e passo a fabricar. Estamos mais avançados com esse segmento fora do Brasil.

No Brasil, também estamos começando com a linha de roteadores, que é um mercado pelo menos cinco vezes maior que o mercado de DWDM. E é maior em telecomunicações, porém ainda mais em datacenters.

Estamos preparando a empresa para estar em datacenters nos dois fronts: no front fotônico, com um equipamento chamado plugável de fotônica, e no front de conectividade.

Estamos muito bem tecnologicamente para fazer isso e muito bem equipados no supply chain.

Estamos fazendo o mesmo em mobile, com uma aliança com a Parallel Wireless, e espero em breve trazer boas notícias.

BNamericas: O que envolve essa parceria?

Raimar: É um projeto para trazer receitas para 2025. A Parallel tem todo o apoio do governo americano para ser uma “anti-Huawei” e estamos trazendo a tecnologia deles para a região.

A ideia é a mesma dos outros casos. A gente importa, monta e depois desenvolve localmente. A Parallel acredita que o Brasil é o hub natural para fabricação, embora tudo isso vá depender de apoios para fazer essa linha de produção.

BNamericas: Na Colômbia, a Telecall assinou contrato com a Parallel Wireless para a rede 5G deles.

Raimar: Pois é. Estamos junto com a Telecall nesse projeto. E tem funding americano para eles. O governo americano vai com funding e a gente vai com a nossa equipe na Colombia. Com isso, a gente cria diversidade e saídas para conseguir manter a empresa prosperando.

Isso está na linha de equipamentos. Não para por aí. Há muitas coisas em estudo, como alianças para retomar a atuação na parte submarina e fluvial.

E na linha de serviços, estamos investindo no gerenciamento de redes e assistência multi-vendor. Temos 90 contratos de serviços especializados no Brasil.

BNamericas: Vocês reduziram o quadro de pessoal para se adaptar à menor demanda do mercado. Qual foi o impacto desses cortes?

Raimar: Tivemos que fazer isso, infelizmente. Nós racionalizamos a produção. Não paramos de fazer nada. Mas estávamos preparados para um crescimento de mercado muito maior em termos de equipamentos.

A gente desligou 100 pessoas na organização. Estamos atualmente com 640 pessoas. Não adianta mantermos custeio se não sei se a demanda vai chegar. Se vier a demanda, estamos com um breakeven menor. 

Nossa estratégica foi ampla: automatizar as operações, trazer mais outsourcing, usar melhor as nossas geográficas e os custeios entre os países e adaptar a capacidade produtiva.

Isso traz aproximadamente R$ 30 milhões de custos fixos. E financeiramente estamos preparados para olhar outras oportunidades de receita, para trazer coisas prontas, por exemplo, via aquisições. 

Hoje estamos muito mais estruturados para evoluir o nosso negócio sem entrar em uma situação de fechamento de linha ou produção.

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