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Paraguai é destino atraente para investidores em meio à instabilidade regional

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Paraguai é destino atraente para investidores em meio à instabilidade regional

A América Latina está passando por uma forte turbulência política e econômica, caracterizada por movimentos políticos contra governos em exercício, inflação alta e depreciação das exportações de commodities.

No caso particular do Paraguai, o país foi abalado pelos assassinatos de um promotor e de um prefeito este ano, enquanto no lado econômico foi afetado pela instabilidade no Brasil e na Argentina.

Para saber mais sobre como os investidores veem o Paraguai nesse contexto, a BNamericas conversou com o chefe da unidade de banco de investimento do Itaú BBA para o Cone Sul, Federico Ravazzani.

BNamericas: Como você descreveria o atual ambiente de investimentos no Paraguai?

Ravazzani: Há questões que estão afetando os investimentos em geral na América Latina. Uma é a inflação, outra é a volatilidade. O índice de volatilidade dos mercados (VIX) está atualmente em 30 pontos, quando a média é metade.

Do que se refere à inflação, há problemas logísticos para obter insumos ou maquinários importados, o que é especialmente relevante para a América Latina. Também há incerteza sobre quanto tempo durarão os problemas de abastecimento ou se a China terá novas ondas de covid-19 que reduzam sua atividade econômica e suas importações de commodities da América do Sul.

Há também problemas únicos para cada país. Por exemplo, estamos vendo convulsões políticas no Peru, Colômbia e Chile, mas Uruguai e Paraguai, em particular, têm um contexto macropolítico que não é 100% ideal, embora seja muito mais estável e previsível.

Isso significa que muitos investidores que historicamente não visavam o Uruguai e o Paraguai por diferentes motivos agora estão olhando para esses países. Isso também inclui aqueles que investiram no Peru, Colômbia ou Chile, e até mesmo investidores locais desses mesmos países.

Os investidores da região andina e da costa do Pacífico têm atualmente duas opções: os Estados Unidos e países menores como Uruguai, Paraguai e Bolívia.

BNamericas: Quais setores são mais atrativos para investimentos no contexto atual?

Ravazzani: Esses países têm vantagens competitivas em setores como agricultura, alimentos, silvicultura, biocombustíveis, energias renováveis e toda a logística associada à mobilização dessa produção.

Estradas, portos, frotas de caminhões e barcaças claramente precisam ser melhorados, e há investimentos significativos planejados para isso.

BNamericas: Como a imagem do Paraguai foi afetada pelos investidores, após a violência política deste ano?

Ravazzani: Isso não é algo que acontece o tempo todo no Paraguai. No Itaú não percebemos que os investidores sequer mencionam ou perguntam sobre questões de segurança no Paraguai.

Historicamente, o Paraguai não teve uma alta taxa de criminalidade, mas nos últimos anos, como toda a região, a penetração do narcotráfico está gerando mais violência.

BNamericas: O Paraguai realizará eleições presidenciais no próximo ano. Você espera o aparecimento de candidatos mais à esquerda, como aconteceu no Peru, Chile e Colômbia?

Ravazzani: A percepção dos investidores externos e até internos no processo político do Paraguai é que, com exceção de alguns candidatos extremos, sem citar nomes, que segundo as pesquisas atuais não têm chance de vencer, os atuais candidatos dos partidos principais não são vistos como causadores de danos ou rupturas às normas e processos que ajudaram o Paraguai a crescer nos últimos 20 anos.

Lembre-se que o Paraguai tem a mesma taxa de câmbio de 20 anos atrás. A estabilidade macroeconômica do país é a mais forte da região.

A estrutura tributária instalada há 20 anos – cujos principais componentes são IVA de 10%, imposto de renda de 10%— foi mantida durante governos com orientações políticas variadas. Em nenhum momento essas regras estiveram em jogo, então há um consenso de que o sistema funciona e deve ser mantido.

BNamericas: O Paraguai tem uma grande agenda de projetos em parcerias público-privadas (PPPs) e projetos-chave na mão. Você acha que o país é atraente o suficiente e oferece garantias suficientes aos investidores para realizar este programa?

Ravazzani: O país tem um forte histórico de honrar contratos e compartilhar riscos com o setor privado.

Exemplos de sucesso incluem a PPP Rotas 2 e 7, onde o Itaú foi um dos principais financiadores e também participou da estruturação do projeto. Participou também do projeto Costanera Sur e da Rota Bioceânica.

Nesses projetos não há reclamações de revendedores ou usuários, e eles estão funcionando com muito sucesso.

BNamericas: Quais projetos o Itaú tem interesse em participar futuramente no Paraguai?

Ravazzani: O Itaú é um dos principais bancos do Paraguai e com participação nos setores mais relevantes do país, como varejo, agricultura, infraestrutura, imobiliário e corporate banking.  

BNamericas: É possível que a macroestabilidade do Paraguai seja afetada pelas situações na Argentina e no Brasil?

Ravazzani: O Paraguai é vizinho da Argentina há mais de 200 anos e nesse período a Argentina teve fases de instabilidade prolongada.

Para se ter uma ideia, no Itaú decidimos montar nosso grupo bancário e de investimentos para o Cone Sul (Argentina, Paraguai e Uruguai) em Assunção, e daqui abrangemos os três países.

Paraguai e Uruguai estão acostumados a estar entre dois gigantes que têm muita influência nas economias desses países menores. Embora não possam evitar uma grande desvalorização na Argentina ou no Brasil, estão acostumados a lidar com essa pressão.

A atual fraqueza do peso argentino, em particular, incentivou o contrabando através da fronteira com o Paraguai, afetando os importadores paraguaios que pagam seus impostos.

 

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