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Perspectivas para o financiamento de projetos na América Latina

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Perspectivas para o financiamento de projetos na América Latina

O impacto da Covid-19 criou obstáculos para o financiamento de projetos na América Latina, mas, hoje, as perspectivas são mais animadoras, graças ao fortalecimento dos preços das commodities.

Os recursos de metais energéticos da região, principalmente lítio e cobre, estão aparecendo no radar dos investidores em meio a previsões de demanda favoráveis em longo prazo.

Os novos projetos de lítio, em particular, podem exigir desembolso não só para iniciar a produção, mas também para construir a infraestrutura de logística necessária. Diante desse cenário, os possíveis investidores estarão atentos a quaisquer mudanças no panorama político e regulatório da região.

Para saber mais sobre a situação atual e o que podemos esperar, a BNamericas conversou com especialistas em financiamento de projetos da unidade de Nova York do escritório global de advocacia Sullivan & Cromwell: o sócio Sergio Galvis (foto à esquerda) e o consultor especial Benjamin SD Kent.

A BNamericas conversou com Galvis e Kent em 2020, clique aqui para ler a entrevista.

BNamericas: A América Latina está se recuperando dos impactos da pandemia e os preços das commodities se fortaleceram. De modo geral, essa tendência está afetando a demanda por financiamento de projetos na região?

Galvis: Com certeza. A pandemia atingiu a América Latina, como o resto do mundo, com bastante força, e isso afetou seriamente o financiamento de projetos na região, assim como em outros lugares. No entanto, muitos dos fatores que impulsionaram a desaceleração começaram a diminuir de maneira gradual ou, pelo menos, podemos dizer que os patrocinadores de projetos e investidores estão começando a ver uma luz no fim do túnel. Você diz corretamente que os preços das commodities aumentaram de modo significativo. As commodities ligadas à construção e infraestrutura, incluindo o cobre, principalmente na América Latina, tiveram alguns dos aumentos de preço mais substanciais. Isso está renovando o otimismo e a vontade de apostar de novo no financiamento de projetos.

Kent: Não é que abriram as comportas e está tudo resolvido, ainda pode levar um tempo até que as coisas voltem aos níveis de atividade pré-pandêmicos. Mas o apetite por financiamento de projetos na América Latina está voltando, como informou a BNamericas. Por exemplo, a Dundee recentemente fez um investimento de US$ 340 milhões no projeto de ouro Loma Larga, no sul do Equador. O setor e a região ainda não estão em plena recuperação, mas, no geral, o movimento segue em uma direção positiva.

Galvis: É importante notar, também, que, por mais difícil que tenha sido a pandemia para o financiamento de projetos na América Latina, também é verdade que a Covid-19 deixou clara a necessidade de muitos países da região melhorarem sua infraestrutura pública. Em um ponto relacionado, como vimos nos Estados Unidos e em todo o mundo, a crise econômica causada pela pandemia levou os líderes políticos a pensar em estímulos econômicos, que muitas vezes podem assumir a forma de novos projetos de infraestrutura ou renovação do interesse em projetos que estavam no limbo, por assim dizer. Esses fatores também podem apontar para a manutenção de níveis elevados de interesse e demanda por financiamentos públicos.

BNamericas: Em relação aos tipos de financiamento que estão sendo buscados e oferecidos, quais são as tendências que vocês identificam na região?

Kent: Continuamos vendo uma combinação saudável de financiamento de projetos e corporativos na área de infraestrutura. Como mencionamos ao falar com você no ano passado, continua sendo verdade que estamos vendo estruturas de financiamento cada vez mais sofisticadas, bem como a proliferação de provedores de financiamento diversos, de bancos comerciais a fundos de crédito privados e outros credores alternativos. Olhando para o futuro, esses credores diretos provavelmente se tornarão participantes cada vez mais importantes na região.

Galvis: O financiamento verde continua sendo um grande foco, como tem sido há vários anos. Mesmo durante a pandemia, a América Latina mais do que dobrou sua participação no mercado de títulos verdes em 2020, com pelo menos 13 emissões de títulos verdes, totalizando mais de US$ 5 bilhões até setembro do ano passado. As emissões de títulos relacionados a ESG na região continuaram em um ritmo acelerado em 2021: foram US$ 16,55 bilhões de janeiro a abril deste ano, um recorde para a região. Em maio, a Natura & Co emitiu um título de sustentabilidade de US$ 1 bilhão, a maior emissão ligada ao tema da América Latina.

Kent: O mercado de financiamento relacionado a ESG continua a se diversificar. Nos últimos anos, quando se via esse tipo de emissão, normalmente envolvia emissores governamentais. O aumento recente, no entanto, assim como no caso da Natura & Co, tem sido impulsionado pelo setor privado. As empresas estão se sentindo cada vez mais pressionadas a agir em relação às questões ESG, e estão fazendo isso quando pensam em financiamento.

Galvis: Mesmo vendo esse foco cada vez maior no financiamento verde, a América Latina fica atrás da Europa e da América do Norte nesse tipo de emissão. Para mim, isso sugere que a área terá um crescimento contínuo na região, e devemos esperar que seja um foco para credores, mutuários e patrocinadores.

BNamericas: Credores bancários e multilaterais, ao que parece, estão cada vez mais exigindo que os mutuários cumpram critérios ESG. Hoje, quais são as opções de financiamento para empresas como uma empresa de E&P de petróleo e gás de médio porte, que, pela própria natureza dos negócios, tem dificuldade para cumprir o requisito "E"?

Kent: É verdade que há uma tendência de exigir conformidade com critérios ESG, mesmo quando o produto do mutuário não é necessariamente verde. O Banco Mundial, os bancos multilaterais de desenvolvimento e até mesmo alguns bancos comerciais estão agora mais propensos a se recusar a fazer negócios com organizações que não conseguem ou não querem respeitar controles ambientais muito rígidos. A consideração dessas questões não é novidade no contexto das transações de financiamento de projetos, em que os potenciais impactos ambientais e sociais do projeto em questão sempre foram o foco. Mas, essas pressões também aumentaram em todas as áreas, não só no financiamento de projetos, como resultado de vários fatores. Entre eles, a pressão de investidores e ativistas, bem como uma compreensão crescente de que as considerações ESG têm um impacto real sobre o desempenho financeiro de uma empresa.

Galvis: O resultado é que algumas empresas descobriram que suas fontes tradicionais de financiamento podem estar secando. Na impossibilidade de recorrer a um banco, empresas como a hipotética companhia de E&P de petróleo e gás que você descreveu precisam ser mais criativas. Nos Estados Unidos, vimos isso acontecer com empresas de carvão, que estão se voltando cada vez mais aos provedores de financiamento de crédito privado, que muitas vezes têm menos pegada pública e menos foco regulatório. Em geral, é mais caro do que obter financiamento com credores mais tradicionais, mas está se tornando uma opção comum porque outras fontes de financiamento simplesmente não são viáveis.

BNamericas: Passando para a mineração, a demanda global por metais energéticos, como cobre e lítio, deve crescer. Vocês esperam que isso se traduza em um aumento nos investimentos em novos projetos de mineração na América Latina?

Galvis: Resumindo, sim. O cobre tem sido muito procurado na América Latina. E essa demanda continua: o cobre foi um dos únicos pontos no setor de mineração com uma tendência de alta dos preços em 2020. A Fitch afirmou que espera que a América Latina supere o resto do mundo em termos de crescimento da indústria de mineração, e não vejo razão para discordar. Na verdade, já está acontecendo. Por exemplo, o projeto Cobre Panamá continua a crescer com sucesso depois de mais um ano de dificuldades relacionadas à Covid-19. Em outubro, a Sumitomo Metal Mining Co. concordou em vender sua participação na mina de cobre Sierra Gorda, do Chile, para a South32, uma empresa australiana de mineração e metais. Está claro que os investidores continuam interessados em entrar na indústria de cobre da América Latina. Existem muitos desafios pela frente, no entanto, incluindo eventos políticos no Peru e possíveis mudanças nas políticas fiscais do Chile.

Kent: Os projetos de lítio ainda precisam chegar ao mesmo nível de importância na América Latina que vemos com cobre e outros projetos de mineração, mas, sem dúvidas, a demanda existe. Afinal, as pessoas sempre precisarão de formas de carregar seus celulares. O triângulo do lítio, Argentina, Bolívia e Chile, detém mais da metade dos depósitos de lítio do mundo, embora esses depósitos nem sempre sejam de fácil acesso. Por esse motivo, será necessário um investimento contínuo e sustentado. A América Latina provavelmente se transformará em um lugar consagrado para investir em projetos de lítio, pois a região tem muita experiência em mineração e os investidores podem ter certeza de que as pessoas que administram esses projetos sabem como extrair os recursos de modo comercialmente viável.

Galvis: À medida que a demanda por cobre cresce, os investimentos na América Latina, que é um local comprovado e confiável para a mineração de cobre, também aumentam. Acho que veremos uma tendência semelhante na mineração de lítio e nos investimentos na região, mas talvez isso leve mais tempo para se desenvolver devido aos fatores que Ben citou, além do risco político, real e percebido, em alguns países com as perspectivas mais promissoras.

BNamericas: Essa é uma boa transição para nossa próxima pergunta. A Argentina e a Bolívia, onde o risco político é uma consideração-chave para potenciais investidores, têm recursos de lítio. Vocês acham que, se a demanda global pelo metal for forte o suficiente, e os possíveis retornos, altos o suficiente, mais investidores vão se concentrar nesses países?

Galvis: Bem, como disse, existem preocupações reais para os investidores além de simplesmente: “conseguimos retirar o lítio do solo por um custo que manterá esses projetos comercialmente viáveis?”. Eles também se preocupam com o clima político. Na Bolívia, que o ex-presidente Evo Morales prometeu há muito tempo que se tornaria a capital mundial do lítio, há um receio em relação às tentativas de nacionalizar o elemento (como aconteceu em 2006 com o setor de petróleo e gás do país), e isso faz com que potenciais investidores analisem as perspectivas com cautela. A situação na Argentina é diferente e movida por considerações macroeconômicas, inclusive no que diz respeito ao FMI. O Chile também está no meio de um debate nacional sobre a mudança do regime tributário para mineradoras, e, é claro, o país está em processo de reescrever sua constituição. Em suma, os riscos são grandes e os investidores buscarão retornos igualmente elevados.

BNamericas: Fala-se muito sobre o potencial do Chile, Uruguai, Brasil e Colômbia como produtores de hidrogênio verde. No setor jurídico e de financiamento de projetos dos EUA, pelo que vocês podem ver, isso está gerando interesse? Há consultas sendo realizadas por investidores potenciais, etc.?

Kent: O hidrogênio verde na América Latina é certamente um tópico a se observar. Como você destacou, vários países da região manifestaram interesse em produzir hidrogênio verde. O Chile estabeleceu uma meta de se tornar um grande exportador de hidrogênio verde até 2040. O Brasil anunciou, em junho, que planeja construir a maior usina de hidrogênio verde do mundo, capaz de produzir mais de 600 mil toneladas por ano, nos próximos quatro anos. Outros países da América Latina, incluindo aqueles que você citou, bem como Costa Rica e Argentina, estão empreendendo seus próprios esforços.

Apesar desses sinais promissores, ainda existem grandes desafios na América Latina. Atualmente, os custos da tecnologia são altos e a produção de hidrogênio verde em escala significativa exigirá uma expansão massiva da geração de energia renovável. A planta de hidrogênio verde planejada no Brasil custará pelo menos US$ 5,4 bilhões. Para alcançar a meta de se tornar um grande exportador de hidrogênio verde, o Chile alocou até agora apenas US$ 50 milhões em financiamento. Para ser claro, este é o capital inicial destinado a encorajar projetos-piloto, e, se esses projetos forem bem-sucedidos, muito mais investimentos podem ser esperados.

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