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Por que o próximo leilão de transmissão do Brasil será desafiador

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Por que o próximo leilão de transmissão do Brasil será desafiador

O Brasil realizará um grande leilão de transmissão de energia no dia 30 de junho, com investimentos previstos de R$ 15,7 bilhões (US$ 3,3 bilhões).

O leilão deve atrair grandes players para disputar a construção e manutenção de cerca de 6.200 km de linhas e 400 MVA de capacidade de transformação.

Em entrevista à BNamericas, o CEO da ISA CTEEP, Rui Chammas, explica porque o leilão será desafiador.

BNamericas: Quais são suas expectativas em relação ao próximo leilão de transmissão, no dia 30 de junho?

Chammas: Estamos em um momento superlativo, como reflexo dos altos investimentos em energias renováveis, principalmente no norte de Minas Gerais e na região Nordeste.

Então, agora, precisamos conectar essa capacidade de geração de energia renovável intermitente com o Centro-Sul. Quanto mais conseguirmos conectar e deixar dentro da rede, menos intermitência haverá.

O leilão é gigante e traz oportunidades muito boas para o setor de transmissão. Mas também é superlativo em termos de desafios. Os lotes são muito grandes, o que torna este leilão mais desafiador, sem dúvida.

BNamericas: Existem casos de lotes em áreas remotas, que implicarão desafios logísticos, certo?

Chammas: Mais do que a questão logística, haverá uma coincidência de licenciamento ambiental, o que pode atrasar os processos.

Existem lotes, como os lotes 1, 2 e 6, que passam por áreas de quilombolas, demarcadas e não demarcadas, e as licenças para passar por essas áreas podem ser complicadas. E nem sempre é simples contornar essas áreas.

O lote 7, por exemplo, tem mais mata atlântica. Outros, como os lotes 3 e 4, têm áreas de pivô de irrigação, que também demandam desvio.

O lote 5 tem uma subestação de energia que está se expandindo em áreas de nascente de rio, então isso não poderá acontecer ali. Será preciso resolver esse problema.

E o lote 9 é uma subestação nossa, Água Vermelha, que tem um solo muito complicado.

Considere tudo isso em um ambiente de juros e inflação altos, e temos um leilão extremamente difícil de modelar. Mas estamos trabalhando e buscando o máximo de conhecimento possível.

Isso sem falar nos prazos mais longos de entrega dos equipamentos pelos fornecedores. A transição energética é uma realidade na Europa por causa da guerra na Ucrânia. E os EUA querem acelerar as renováveis. Tudo isso tem gerou uma demanda muito grande por subestações e linhas de transmissão.

BNamericas: Quais são os principais projetos da ISA em construção e qual é o cronograma?

Chammas: Nos últimos 12 meses, entregamos seis projetos de concessão e um de baterias. Hoje, na carteira de investimentos, temos R$ 10 bilhões [US$ 2,1 bilhões] em projetos para realizar. Do total, R$ 5 bilhões estão vinculados a cinco projetos greenfield que ganhamos em leilão. Um deles, o Triângulo Mineiro, deve ser energizado ainda este ano, e os demais nos próximos anos.

Além disso, temos mais R$ 5 bilhões em projetos de atualização das redes e subestações que temos no estado de São Paulo. São ativos de concessões renovadas. Temos a responsabilidade de garantir que sigam operacionais mediante substituição de equipamentos.

BNamericas: Como funciona a questão das renovações de concessões? Elas podem ser renovadas sem leilão?

Chammas: Os primeiros casos de linhas nossas que terão fim de contrato acontecerão em 2026. Essa é uma discussão que está sendo travada entre o MME [Ministério de Minas e Energia] e a Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]. As concessões podem ser renovadas ou relicitadas. As duas opções estão na mesa, e cabe às autoridades encontrar o que é melhor para a sociedade.

Um ativo que já tenha passado por muitas manutenções ou tenha potencial de manutenção implica riscos para quem o assume. Existem questões regulatórias que precisam ser discutidas pelas autoridades – tanto o poder concedente quanto o regulador.

BNamericas: Quais inovações tecnológicas estão sendo desenvolvidas pela empresa?

Chammas: Eu gostaria de falar sobre as tendências do mundo. Cada vez mais, entendemos que as transmissoras terão de se dotar de soluções como baterias para prestar um serviço de qualidade adequada, considerando-se que parte da demanda tem autogeração [geração distribuída], com painéis solares fotovoltaicos. Em algumas regiões, de repente a carga despenca [pois a energia solar é intermitente] e você precisa entrar com mais carga.

Este ano tivemos um bom nível de chuvas e muita geração intermitente entrando. Durante grande parte do ano, não tivemos energia hidrelétrica entrando.

BNamericas: Tanto que o Brasil tem exportado volumes maiores de eletricidade para Argentina e Uruguai.

Chammas: Exato. Os investimentos em transmissão podem ser importantes para realizar um planejamento integrado na região. Fiquei feliz em ver a ideia de reativar a conexão entre Brasil e Venezuela.

Agora, vamos ter um ano com impacto climático gerado pelo El Niño. Isso faz com que algumas das fontes de energia passem por algum estresse. Então, quanto mais conectados os países, melhor. Armazenamento de energia e conexão internacional são tendências globais. É uma forma, inclusive, de democratizar a energia barata.

Para mim, as linhas de transmissão estão desempenhando o papel que as estradas tiveram no passado, levando energia competitiva para todos os lados.

Estamos diante de uma oportunidade de aproveitar a energia com preços competitivos para gerar mais valor para os produtos brasileiros e nos reindustrializarmos.

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