
Porto do Açu mira mercados de energia e datacenters
Consolidado no setor de petróleo e gás, o Porto do Açu agora busca oportunidades nos mercados de energia renovável, hidrogênio verde, datacenters e agronegócio.
O CEO Eugênio Figueiredo contou à BNamericas que o Porto do Açu estima investimentos da ordem de R$ 22,5 bilhões (US$ 4 bilhões) nos próximos 10 anos. Nesta entrevista, ele detalha os projetos em curso e analisa o cenário do complexo portuário e industrial no norte do estado do Rio de Janeiro.
BNamericas: Qual é o cenário que se desenha para o Porto do Açu?
Figueiredo: O porto está fazendo dez anos de operação em outubro. Nosso primeiro embarque de minério de ferro ocorreu em outubro de 2014, das minas da Anglo American. De lá para cá, temos visto um crescimento robusto em termos de volume de movimentação de cargas, receitas advindas de diferentes operações e visibilidade do porto nos mais diversos mercados.
Nascemos dedicados à movimentação de minério e com o sonho de atuar no mercado de óleo e gás. Hoje, temos a maior base de apoio offshore do mundo, da Edison Chouest, com contratos com a Petrobras e outras operadoras. Empresas fabricantes de tubos rígidos e flexíveis também estão conosco.
Quando percebemos uma guinada na discussão sobre a transição energética, passamos a ver o porto como um novo ator na área de projetos de descarbonização. É uma onda que estamos surfando. Adicionamos isso ao nosso papel no setor de óleo e gás. Não são coisas excludentes.
BNamericas: Quais são as principais frentes de atuação na área de petróleo e gás?
Figueiredo: O porto passa a ser o foco de vários players em licitações para contratação de bases de apoio offshore por ser um centro ótimo em termos de distância dos campos [de óleo e gás]. Isso tem acontecido desde o marco inicial do bid da Edison Chouest, em 2014, e vai continuar acontecendo.
Outro negócio em que entramos, efetivamente, é o descomissionamento de unidades offshore. A Petrobras prevê investir US$ 11 bilhões na retirada de unidades cuja vida útil está terminando: unidades ship-shaped, semissubmersíveis e suas linhas.
Nós ganhamos uma licitação para acomodar três plataformas. A Gerdau comprou uma plataforma [P-32] para depois aproveitar o aço. Então, essas unidades ficam atracadas no porto. Prestamos alguns serviços na etapa inicial, como limpeza e retirada de equipamentos do topside, limpeza do casco para remoção de coral-sol [uma espécie invasora].
A P-33 chegou ao porto no início do ano. Vamos receber a segunda das três unidades nos próximos meses.
BNamericas: Vocês estão investindo na área para receber e desmantelar as plataformas?
Figueiredo: Temos o quebra-mar para proteger o canal. No molhe sul, preparamos uma área para acomodar a primeira etapa do contrato, e a ideia é fazer a expansão dessa estrutura de olho nos próximos bids para poder receber plataformas de forma simultânea. Isso está sendo discutido internamente.
BNamericas: O Açu também é um polo de gás natural. Qual é o panorama hoje?
Figueiredo: A primeira usina térmica [a gás], a GNA I, com 1,3 GW, está em operação há cerca de três anos. A planta é 100% flexível, com alimentação de GNL. A segunda, GNA II, com 1,7 GW e 40% de despacho mandatório, entrará na fase de comissionamento nos próximos meses e em operação comercial no início do ano que vem.
Isso provavelmente já coloca o Açu como o maior parque gerador a gás da América Latina. E temos licenças para até 6,4 GW de geração a gás no porto.
BNamericas: Há estudos para a passagem de uma rede de gasodutos pelo porto, não é?
Figueiredo: Temos conversas com a NTS [Nova Transportadora do Sudeste] e a TAG [Transportadora Associada de Gás] para fazer uma conexão. A ideia é ter uma malha dutoviária nacional conectada ao porto.
Isso é importante para que grandes consumidores de gás instalados no complexo possam acessar esse gás vindo de qualquer ponto. Estamos em fase avançada de engenharia e precificação do custo de transporte de gás para chegar ao porto. E isso se conecta ao projeto HBI, que seria um dos clientes âncora para a fase inicial de consumo de gás. Passa a ser uma opção também para novas térmicas no futuro.
[Nota do editor: em parceria com a mineradora Vale, o projeto HBI envolve o desenvolvimento de um polo para fabricação de ferro briquetado a quente.]
BNamericas: O parque térmico poderia demandar outras fontes de gás, além do GNL?
Figueiredo: Depende do tamanho das plantas e do regime de despacho, mas, provavelmente, para chegar à capacidade de 6,4 GW, seria preciso ter uma nova fonte de gás. O gasoduto onshore seria uma opção, assim como tancagem e armazenamento de gás em terra. Ou poderíamos ter um FSRU [unidade flutuante de armazenamento e regaseificação] para fornecer mais e estocagem de gás flutuante, com um FSU.
A capacidade de estocagem é o maior gargalo hoje, muito mais do que a regaseificação.
BNamericas: Qual é o status dos memorandos de entendimento sobre projetos de hidrogênio e amônia verdes, energia solar e energia eólica offshore?
Figueiredo: Temos acordos para projetos de hidrogênio verde com várias empresas de renome internacional, como Equinor, SPIC Brasil e Comerc. O mais recente foi assinado com a norueguesa Fuella para que eles também tenham uma reserva de área no nosso cluster. Fizemos o licenciamento de uma área de 1 milhão de metros quadrados para acelerar possíveis projetos.
Além da conexão para trazer energia certificada da rede, precisamos ter energia gerada no próprio porto. Então, ter energia solar e eólica é importante. No caso da energia solar, temos discussões bastante maduras com um parceiro sobre um projeto de 220 MW.
A eólica offshore depende do marco regulatório na esfera federal. Pelo que eu me lembro, são mais de 30 GW de pedidos para instalar plantas offshore próximas ao Porto do Açu. Se 1 GW ou 2 GW saírem do papel, isso já traria uma movimentação para o porto, com bases de apoio etc. E isso vai trazer muita sinergia, como a disponibilidade de navios no Açu.
BNamericas: Então, entre essas iniciativas, a geração solar no Açu é aparentemente a mais avançada.
Figueiredo: Os projetos de hidrogênio verde também estão avançando bem nos estudos, como é o caso da Fuella.
BNamericas: Por que o porto planeja atrair datacenters?
Figueiredo: Vínhamos estudando isso há um tempo. E, quando começamos a entender os pré-requisitos para a instalação de datacenters, percebemos que tínhamos tudo para isso. Inicialmente, seria complicado por estarem longe do mercado consumidor. Mas, para utilização de IA, backup, você começa a olhar para a disponibilidade de área, facilidade de construção e não interferência do entorno.
Assinamos um contrato com a Vertin, que está construindo um datacenter em São Paulo, que fica ao lado de condomínios, moradias, e há dificuldades para a chegada de equipamentos muito grandes. No porto, não há restrições desse tipo. Pode-se trabalhar 24 horas por dia, se necessário, e construir de uma forma mais horizontal, com menos restrições de espaço.
Também temos disponibilidade de água doce e de reúso para o resfriamento. Outra questão é o backup de energia: é preciso ter uma série de fontes para garantir que o datacenter não pare por falta de energia. Então, ter energia gerada no local, seja em usinas a gás natural, solares ou, no futuro, eólicas offshore, além de um gerador, garante confiabilidade para a instalação.
E já contamos com um cabeamento submarino subindo em terra no porto, o que permite uma conexão eficiente.
Tudo isso coloca o porto como um potencial player nessa onda de instalação de datacenters. A Vertin é uma parceira muito valiosa para entrarmos nesse mercado.
BNamericas: Quais são os investimentos previstos para os próximos anos?
Figueiredo: Em torno de R$ 22,5 bilhões nos próximos 10 anos, combinando uma série de iniciativas, entre projetos já certos e em estudo.
O agronegócio também é uma porta que está se abrindo de forma muito promissora. Recentemente, estive com uma gigante do milho e da soja do Centro-Oeste do país que está olhando para o porto como um potencial portal de exportação. Assinamos um memorando de entendimento com o governo de Goiás para fazer um estudo conjunto para criar um corredor de movimentação e exportação da produção do estado.
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