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Quanto tempo vai durar a tendência do nearshoring no México?

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Quanto tempo vai durar a tendência do nearshoring no México?

Pela primeira vez em 20 anos, o México voltou a ser o maior parceiro comercial dos Estados Unidos no ano passado, desbancando a China e exportando o equivalente a US$ 475,6 bilhões em bens e serviços para o seu vizinho do norte.

A tendência se estende aos investimentos de empresas como Tesla, BYD, BMW e Audi, que anunciaram a construção ou expansão de unidades de produção no México.

A BNamericas conversou com Kenneth Smith Ramos, principal negociador do México na modernização do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), que levou à assinatura do T-MEC, para saber o que ele pensa do fenômeno do nearshoring, entre outros assuntos.

BNamericas: Você considera que o nearshoring é um fenômeno de longo prazo?

Smith: Grande parte do impulso do nearshoring vem do acesso especial que temos ao mercado dos Estados Unidos através do T-MEC, que, ao que tudo indica, é um tratado de longo prazo. Além disso, um dos motores do nearshoring e da atratividade das empresas que saem da China, por exemplo, para se instalarem no México, é a guerra comercial entre os Estados Unidos e o país asiático.

Isso sugere que o nearshoring é um fenômeno mundial que vai durar décadas. Não estamos enfrentando apenas uma guerra comercial entre os EUA e a China, mas também uma verdadeira Guerra Fria do século XXI. Não se trata só de tentar bloquear a exportação de certos produtos da China para os Estados Unidos, mas também de competir em nível geopolítico pela supremacia militar, tecnológica e econômica. Acho que é um problema que continuará por várias décadas.

BNamericas: Você acha que o nearshoring tem bases sólidas?

Smith: Durante os últimos 10 anos, os EUA foram responsáveis por cerca de 53% do investimento estrangeiro que veio para o México, mas hoje a porcentagem gira em torno dos 40%. Isso significa que há diversificação. Há mais países que investem no México, e o investimento asiático está aumentando. Os anúncios de investimento da China no México serão enormes nos próximos três anos.

O fenômeno do nearshoring está aí. O difícil é identificar até que ponto estamos tirando o máximo proveito desse fenômeno. Estou convencido de que esses US$ 36 bilhões [em investimento estrangeiro direto em 2023] deveriam ser muito mais, e poderíamos até dobrar esse valor. No ano passado, o Brasil recebeu quase US$ 60 bilhões em investimentos estrangeiros.

Poderíamos facilmente chegar a esses números se fizéssemos mudanças em nível nacional.

BNamericas: O México pode perder a oportunidade do nearshoring ?

Smith: A oportunidade pode desaparecer se não implementarmos medidas nacionais e criarmos as condições para aproveitar realmente o T-MEC.

Estamos recebendo US$ 36 bilhões em investimento estrangeiro por ano, que é um valor recorde, mas, se analisarmos detalhadamente, veremos que é muito parecido com o que recebemos no final de 2018, último ano do mandato do presidente Peña Nieto. Então, temos sido lentos no aumento da atração de investimentos no ritmo dos anos anteriores.

Precisamos aliar a liberalização comercial, os acordos de livre comércio e as vantagens de acesso trazidas por eles a uma política abrangente de desenvolvimento industrial no país. Isso significa reduzir o déficit de desenvolvimento regional: grande parte do investimento vem do centro do país para o norte e muito pouco, ou nada, chega aos estados do sul e do sudeste.

Então, é como se estivéssemos em uma corrida de 100 metros, mas com uma perna machucada.

Também temos grandes desafios em relação a fatores como acesso à energia, garantia de acesso às energias renováveis, disponibilidade de mão de obra qualificada, disponibilidade de infraestrutura rodoviária, ferroviária e portuária, entre outros aspectos.

BNamericas: Os Estados Unidos e a Europa estão impondo tarifas aos produtos chineses. Isso representa uma pressão sobre os países latino-americanos para que façam o mesmo?

Smith: Os EUA estão, obviamente, preocupados com os anúncios de investimento no setor automotivo que a China fez no México e com a possibilidade de as montadoras chinesas abrirem fábricas no país. Várias dessas empresas declararam não ter interesse em entrar no mercado dos EUA, pelo menos não por enquanto. Mas, de qualquer forma, existe uma obsessão nos Estados Unidos com relação à possibilidade dos chineses se estabelecerem no México, produzirem veículos e exportarem para lá.

A pressão continuará aumentando, ainda mais se Donald Trump vencer as eleições para a presidência. Trump iniciou a guerra comercial contra a China em seu primeiro mandato e declarou que tentará proibir a exportação de veículos chineses fabricados no México. Porém, há um problema jurídico, já que o T-MEC não permite que isso seja feito de forma unilateral.

Os Estados Unidos não podem impor uma restrição baseada no fato de o capital de origem ser chinês, a menos que tenha havido uma investigação sobre medidas antidumping, subsídios ou outras coisas.

BNamericas: Existe a possibilidade de o USMCA ser alterado para incluir a condição apontada por Trump?

Smith: Não podemos descartar que, em algum momento, se Trump chegar ao poder, eles pedirão para fazer isso.

O México precisa ter uma estratégia de negociação muito inteligente para evitar que o tratado seja colocado em risco.

Acredito que seria um erro grave reabrir o T-MEC para inserir medidas discriminatórias contra a China, mas já existem grupos protecionistas nos EUA que solicitaram a mudança das regras de origem para afastar qualquer possibilidade de produzir na América do Norte e exportar para os Estados Unidos.

Na minha opinião, alterar o tratado seria uma péssima ideia. Após quatro anos de T-MEC, temos números recordes de comércio na América do Norte: quase US$ 850 bilhões em comércio entre o México e os EUA. O valor total do T-MEC para os três países ultrapassa US$ 2 trilhões. Seria muito perigoso colocar em risco a “galinha dos ovos de ouro” ao reabrir o tratado.

BNamericas: O que o México poderia propor, em vez dessa medida?

Smith: O que o México deve fazer desde o início, independentemente de quem ganhe as eleições nos EUA, é ter uma estratégia de negociação abrangente e sugerir medidas que possam ser tomadas em conjunto para evitar práticas injustas.

Por exemplo, ter uma política regional que não permita investimentos ou importações de produtos provenientes de empresas ou regiões da China onde há violação de direitos trabalhistas, ambientais ou humanos. Isso é algo que já foi implementado pelos EUA, e poderíamos ter medidas semelhantes no México e no Canadá.

Outra opção é analisar conjuntamente medidas coaxiais relativas a investigações antidumping e subsídios.

A introdução de controles mais rigorosos de monitoramento nas fronteiras para evitar o contrabando técnico, ou seja, a possibilidade de “triangulação” de produtos da China para países da América do Norte fingindo que são produtos mexicanos, como os EUA argumentaram que acontece com o aço e o alumínio.

A solução não é apenas tentar conter a China ou barrar seus produtos. Devemos combater as práticas injustas quando são detectadas e nos organizarmos como região para substituir a dependência que temos de muitos insumos provenientes da China.

BNamericas: Você acha que as empresas estrangeiras estão sendo um pouco mais reservadas e adiando seus investimentos no México para aguardar o resultado das eleições nos EUA?

Smith: Sim, várias empresas chinesas analisaram primeiro o que aconteceria nas eleições do México, depois analisaram o ambiente eleitoral nos Estados Unidos e o que esperar dessas eleições de novembro para tomar decisões de longo prazo.

Mas, o que ouvimos de muitas empresas chinesas é que elas querem se instalar no México para aproveitar as vantagens do mercado de veículos, tanto a BYD quanto a Chirey Motors e outras montadoras estão tendo grande sucesso importando veículos da China e vendendo-os no México, porque são competitivos e de alta qualidade. Mais de 20% dos veículos vendidos no México no ano passado eram chineses, e acho que a estratégia é continuar desenvolvendo esse mercado nacional e ver mais à frente o que acontecerá e se existe a possibilidade de entrar em outros mercados, inclusive no restante da América do Norte. E por que não aproveitar a rede de acordos de livre comércio do México com 50 países para exportar para a União Europeia ou para o restante da América Latina?

BNamericas: Por outro lado, temos empresas como a Tesla, cujo investimento no México parece estagnado...

Smith: No caso da Tesla em particular, em vez de ter algum problema com o estado de Nuevo León ou com os compromissos assumidos por lá para receber o investimento, o que se comenta é que a decisão de adiar o projeto por enquanto teria mais a ver com decisões internas da empresa sobre sua estratégia de crescimento, uma vez que existem outras empresas, inclusive chinesas, que competem com a Tesla em vários mercados. Então, acho que faz parte de uma avaliação geral que a Tesla está fazendo sobre sua produção global e estratégia de comercialização de veículos.

BNamericas: Você acha que a combinação Sheinbaum-Trump seria funcional para os dois países?

Smith: Em termos de nearshoring e T-MEC, a presidente eleita tem enviado as mensagens certas aos mercados. Ela tentou enviar mensagens de moderação, e os nomes ouvidos como parte do seu gabinete econômico de política externa incluem pessoas com experiência, que não devem tomar decisões radicais.

Ela tentou passar a mensagem de que o México valoriza o tratado, quer continuar e ter sucesso na revisão em 2026. Tudo isso é muito bom, mas resta ver qual será a posição adotada pelos Estados Unidos. Acredito que Claudia Sheinbaum tentará fortalecer a política externa do México, já que muitos espaços foram perdidos no mundo porque isso não era uma prioridade do governo do presidente López Obrador.

BNamericas: A guerra comercial entre a China e os EUA poderia ter efeitos negativos para o México?

Smith: O México se beneficiou da substituição da China como fornecedor de uma ampla gama de produtos no mercado dos Estados Unidos, por isso nos posicionamos como o principal parceiro comercial dos EUA. O problema é que, se a guerra comercial continuar e a pressão sobre o México para tentar impedir o acesso à China aumentar, poderemos ser vítimas de pressões protecionistas. Ou seja, ao ter uma relação de atração de investimentos da China para o México ou importar uma ampla gama de produtos chineses para o país, pode ser que os EUA implementem barreiras comerciais contra as exportações mexicanas. Esse é um risco que pode ocorrer se Trump voltar ao poder.

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