Sanepar investirá R$ 11 bi para atingir a cobertura universal dos serviços de água

A Sanepar, concessionária de água que atende o estado do Paraná, planeja investir R$ 11,2 bilhões (US$ 2 bi) até 2028 para atingir as metas estabelecidas na legislação nacional que determina a cobertura universal até 2033.

Wilson Bley Lipski, que se tornou diretor-presidente da Sanepar em junho, conversou com a BNamericas sobre o investimento e a probabilidade de privatização da empresa.

BNamericas: A Sanepar anunciou um plano de investimentos de R$ 11,2 bilhões entre 2024 e 2028. Qual o status deste plano e quanto está sendo desembolsado em cada segmento de atuação da empresa?

Lipski: A direção desses investimentos está mais ou menos na ordem de 60% para a área de esgoto, 36% para água e 4% sendo outros investimentos, incluindo a parte administrativa.

Há uma vontade muito grande do governador do estado [Ratinho Júnior, do PSD] para acelerarmos os investimentos e chegarmos às metas estabelecidas pelo marco regulatório antes do prazo, uma vez que isso traria benefícios tanto para a empresa como também para a população.

BNamericas: Como a empresa financiará esse grande programa de investimentos?

Lipski: Dentro do nosso planejamento, estamos trabalhando com uma combinação de recursos próprios, assim como há necessidade também de emissão de debêntures, captações junto a bancos públicos e temos tido uma aproximação com bancos multilaterais.

Eu diria que nosso plano de investimento é bem consistente, nossa saúde financeira é boa e temos uma equipe técnica de excepcional qualidade.

Um ponto importante também é que, à medida que faço mais investimentos, também gero a possibilidade de atrair mais receita à empresa.

BNamericas: Quais são as iniciativas da Sanepar com relação às receitas acessórias, isto é, aquelas que não são geradas pelo core business da empresa?

Lipski: A primeira iniciativa com relação a isso acontece através de um diálogo da Sanepar com a agência reguladora, para sabermos quanto recurso fica na empresa, criando com o regulador um bom ambiente de interação.

Dito isso, recentemente criamos uma diretoria de novos negócios, onde estabelecemos seis eixos para podermos ter receitas adicionais – mas, claro, dentro de nossas potencialidades existentes.

Por exemplo, à medida que sou mais eficaz na coleta de lodo, eu tenho matéria-prima e este material orgânico que precisa ter uma melhor destinação, então trabalhamos no biometano, assim como também trabalhamos no reuso da água, em iniciativas ligadas a biofertilizantes e até mesmo em cabeamento de fibra ótica.

Estamos num momento também de entender nossas capacidades de gerar novas receitas, entender onde se faz mais rentável iniciativas próprias, ou através de parcerias, PPPs [parcerias público-privadas] inclusive.

É sempre importante ter em mente que todas essas iniciativas precisam ser rentáveis para a empresa. Nesse momento não tenho uma estimativa de quanto receitas acessórias poderiam significar para nossas operações no futuro.

BNamericas: Em maio, a Sanepar suspendeu o processo de licitação para três contratos de PPPs envolvendo a prestação de serviços de água e saneamento. Qual o status dessa iniciativa?

Lipski: O modelo nosso de negócios de ter PPPs está criado e dentro disso temos uma divisão de quatro áreas para serem atendidas através de PPPs, sendo que um contrato [de PPP] já foi leiloado e outros três ainda não.

Os leilões que projetamos foram suspensos porque uma licitante alegou que uma cláusula de barreira que impediria uma mesma empresa de concorrer aos três contratos era inconstitucional, conseguindo uma liminar na justiça.

Agora, estamos esperando o julgamento do mérito dessa questão e acredito que isso seja julgado após o recesso. 

[Nota da BNamericas: entre 2 e 31 de julho há o período de recesso forense no Brasil, momento que os prazos processuais civis ficam suspensos]

Se houver uma decisão favorável à licitante, vamos avaliar o contrato [e uma potencial revisão das regras do edital], mas eu diria que nosso plano com relação ao modelo de PPPs segue.

Eu gostaria de fazer esses leilões ainda esse ano, mas não posso dar certeza, pois isto depende de fatores externos.

BNamericas: Além dessa discussão sobre a cláusula de barreira, poderia haver outras mudanças nos contratos de PPPs a serem oferecidos, como número de cidades atendidas e investimentos projetados?

Lipski: As características dos contratos de PPPs já estão estabelecidas.

O que queremos com esses contratos de PPPs são bons serviços públicos, então entendemos que ter contratos de PPPs abertos a diferentes empresas seria o melhor caminho, até para nós entendermos quais são aqueles contratos que estão desempenhando melhor.

BNamericas: A Sabesp está em meio a um processo de privatização. Faz sentido tal avaliação também no Paraná, ou seja, uma privatização da Sanepar?

Lipski: Os cenários no setor de saneamento são muito diferentes de estado para estado. No Paraná, olhando para nosso ambiente regulatório, nosso modelo de negócios, a Sanepar se mostra uma empresa eficaz. Atuamos com eficiência sendo uma empresa estatal.

O que eu costumo ouvir do governador do estado é que não temos ideologia, mas sim metodologia, então o que eu vejo é que cada estado tem sua própria receita para resolver as questões ligadas à área do saneamento.

Claro que o novo marco regulatório abre essa possibilidade de privatizações que estamos vendo, mas eu diria que esta análise tem que ser feita de forma muito individual.