‘Talvez você compre seu próximo smartphone por conta da capacidade de IA avançada’
A fabricante de chips norte-americana Qualcomm, gigante no segmento de processadores para smartphones que abastece os principais vendedores da América Latina – Samsung e Motorola –, está tentando aproveitar a onda da IA generativa.
Para isso, aposta no que a empresa apelidou de “IA híbrida”, ou seja, uma IA que é online e offline, com dispositivos que saem de fábrica com capacidades de IA generativa incorporadas.
Com isso, o objetivo é aliviar a pressão sobre as solicitações de IA que são processadas na nuvem nos datacenters, o que também economizará recursos energéticos.
“Talvez você compre seu próximo smartphone não pela qualidade da câmera, da bateria ou da memória, mas por suas capacidades de IA”, disse o presidente da Qualcomm para a América Latina, Luiz Tonisi, à BNamericas.
Nesta entrevista, Tonisi fala sobre a estratégia de IA híbrida da empresa, os investimentos da Qualcomm em IoT e os desafios de aumentar as vendas de smartphones, entre outros assuntos.
BNamericas: A Qualcomm aposta em um modelo “híbrido” de IA, com parte da capacidade de processamento no próprio celular e parte na nuvem. Como você vê a viabilidade dessa abordagem na América Latina?
Tonisi: Estamos em uma transição hoje. Existe esse super hype agora em torno da inteligência artificial, de ChatGPT, que inclusive vem preparando novas versões para as empresas. Isso tudo vai se assentar, e um ponto muito importante nessa conversa é a sustentabilidade dos modelos, tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista de recursos. Se você olhar a quantidade de energia gasta hoje para fazer uma busca no ChatGPT, é infinitamente maior do que uma pesquisa tradicional.
Essa busca também pode ter uma qualidade infinitamente melhor, obviamente, mas você está consumindo recursos que são escassos, como energia. Uma busca consome o equivalente a uma lâmpada acesa por dia. Uma busca com nove inferências, nove parâmetros.
Se todo mundo que faz buscas hoje na internet, seja por dispositivo móvel ou por computador, fizesse a mesma busca com inteligência artificial, a quantidade de energia disponível no mundo hoje seria insuficiente para nós humanos. Nesse sentido, acreditamos que a IA híbrida pode ser muito útil.
BNamericas: Ou seja, uma busca “offline”?
Tonisi: Isso. As ferramentas de IA farão parte desse processamento, em vez de tudo ter que ir para a nuvem, processar e retornar a resposta para o usuário no dispositivo. Processadores e dispositivos vão começar a sair cada vez mais com parâmetros pré-treinados já incorporados neles, para poder rodar IA generativa, seja ela de linguagem ou visual.
Smartphones com [processadores] 8 Gen2 estão começando a sair com essas características. Depois vem Gen 3, 4, 5, e assim por diante. Esses celulares flagship virão com mais e mais parâmetros dentro deles. Já existem celulares com 1,5 bilhão de parâmetros.
O benefício disso é que nem tudo terá que ir para a rede, ser processado na nuvem. O processador que está no telefone produz imagens e cria textos com parâmetros que já estavam lá. Você ganha agilidade, velocidade e diminui os custos das pesquisas.
E isso vai além dos smartphones. Pense no robô, no computador, no carro conectado, no dispositivo de IoT, tudo o que pode vir com IA generativa embarcada.
Essa é a aposta. E temos certeza de que seremos uma parte importante desse ecossistema.
BNamericas: Tudo isso depende de acordos com os fabricantes. Quais são as perspectivas nesse sentido para a América Latina?
Tonisi: São ótimas. Estamos conversando com vários deles. Vamos ver vários celulares com essa capacidade daqui para a frente. Claro, estamos falando principalmente de dispositivos flagship e high-end. Mas isso deve começar a se popularizar.
Também já estamos estabelecendo um ecossistema de parceiros de computadores aqui na região. Esperamos trazer mais computadores com essas gerações de chipsets de IA embutidas a partir do ano que vem.
Isso tudo quer dizer, inclusive, que talvez o próximo smartphone que você vai comprar não seja com base apenas na qualidade da câmera, bateria ou memória, mas pela capacidade de IA avançada.
BNamericas: Uma das ressalvas feitas ao ChatGPT é que ele tem um universo um tanto limitado, com um banco de dados “offline” que vai até 2021, mas que está sendo atualizado aos poucos. Isso não seria um obstáculo para o processamento off-line?
Tonisi: O modelo é tão bom quanto a informação que você tem. A inteligência artificial é baseada nos inputs e parâmetros que você estabeleceu para ela “aprender”.
Então, se você começa a popularizar esse acesso, na verdade você está criando uma base cada vez maior. Uma base cada vez maior vai gerar uma precisão cada vez maior. Ter 95% de precisão é fácil. Chegar a 100% é quase impossível. Além disso, a máquina nunca substituirá a percepção humana das coisas.
BNamericas: Algumas empresas se valorizaram muito nos últimos meses ao fornecer GPUs para IA avançada para máquinas, datacenters e supercomputadores. Como a Qualcomm está se posicionando neste segmento?
Tonisi: Estamos nos posicionando naquilo em que acreditamos ser fortes – nosso core business –, e que ninguém faz igual à Qualcomm, que é a NPU [unidade de processamento neural].
A NPU terá um papel muito importante nesse ecossistema daqui para a frente. Talvez demore um ano, um ano e meio ou dois anos para que as pessoas comecem a entender realmente o que significa ter uma NPU e o que significa ter inteligência artificial nos dispositivos.
Acreditamos que esse modelo de IA híbrida é um modelo sustentável, que vai trazer uma melhor experiência do usuário e que é mais escalável. Nesse momento, não vejo a Qualcomm produzindo GPUs para colocar em servidor.
BNamericas: Você mencionou recentemente que a empresa está mapeando investimentos via Qualcomm Ventures em empresas de IA na América Latina. Quais são as perspectivas nesse sentido?
Tonisi: Não temos nenhum acordo para anunciar, mas posso falar sobre as teses que estamos vendo, inclusive na América Latina.
Pense no agronegócio. O agronegócio vai precisar de visão computacional. Estou falando aqui do drone que está sobrevoando uma plantação, olha uma semente e detecta se está boa ou ruim. Isso é IA, é visão computacional no limite, com IA no dispositivo e na nuvem.
BNamericas: E os investimentos em IA generativa, especificamente?
Tonisi: Com as novas gerações de chipsets que estão chegando, que também são baseadas na evolução dos chipsets que estão saindo para celulares, você vai ter novas câmeras, mais poderosas. O fato é que não adianta ter essas novas câmeras se você não tiver as novas aplicações.
É aí que entra a Qualcomm Ventures. Que tipo de aplicação posso oferecer melhor do que estou fazendo hoje, que pode ser um diferencial no agro, na indústria 4.0, na mineração, na indústria de óleo e gás. Isso é o que estamos vendo.
BNamericas: A Qualcomm também anunciou recentemente uma parceria para IoT via satélite. Quais são as possibilidades nessa frente?
Tonisi: Há muitos lugares que ainda não têm 2G, quanto mais 3G, 4G, 5G... Nossa visão, com o satélite, como uma forma agnóstica à tecnologia de acesso, é trazer conectividade em uma escala muito maior do que temos hoje.
Estamos lançando chips, principalmente para IoT, que são multiacesso: 2G, 3G, 4G, 5G, Wi-Fi, low power [Lora], Bluetooth e satélite. Estamos falando de sete a oito tecnologias de acesso no mesmo chip.
Imagine o asset de uma empresa de energia que está em áreas remotas, onde não há cobertura e nem haverá por uns bons anos. Você pode começar a fazer a leitura dos dados no chipset, que está conectado diretamente ao satélite. Essa é a beleza das coisas que queremos trazer agora para escalar ainda mais esse tema da IoT.
Também vamos lançar a plataforma Aware [IoT Device Management] no Brasil. Já temos fortes candidatos para esta plataforma. A Aware vai pegar todos esses dados – temperatura, pressão, umidade –, subir tudo para uma nuvem e disponibilizá-los para a empresa que contratou o serviço, por exemplo. Também estamos vendo onde produzir dispositivos Aware-ready no Brasil e na região.
Em outras frentes, como você sabe, estamos fazendo FWA [Fixed Wireless Access] e Wi-Fi com a Intelbras, computadores com a Positivo, via Lenovo, luminárias inteligentes com IA para iluminação pública com a Juganu, além dos celulares Samsung e Motorola, que são nossos clientes tradicionais.
Temos que trazer as coisas para o chão, para realmente converter a tecnologia em casos de uso no Brasil e na América Latina.
BNamericas: As projeções para as vendas de smartphones este ano não são muito boas. Como está indo esse core business para a Qualcomm?
Tonisi: Com taxas de juros mais altas e inflação perdurando, o poder econômico para bens duráveis acaba sendo afetado.
Houve uma queda, mas já estamos vendo pelo menos alguns sinais positivos de estabilização. Vemos um cenário de estabilização, inclusive uma leve melhora para o segundo semestre de 2023.
Por outro lado, o valor [médio de venda] dos smartphones tem subido. Se você olhar para as vendas de produtos mid-to-high, até o “high” cresceu. Estamos falando de smartphones acima de US$ 400. As vendas cresceram, em valor absoluto e em unidades. O “mid” caiu um pouco. E os produtos de entrada, mais básicos e baratos, que costumam ter um volume maior, sofreram uma queda mais drástica.
Então, em resumo, esperamos uma melhora no segundo semestre.
Com exceção dos smartphones, o resto do nosso negócio está crescendo em uma velocidade bem alta. Principalmente para nós aqui da América Latina, porque nossa linha de base era pequena. Fazíamos muito pouco de IoT, carros, câmeras, CPE [equipamento nas instalações do cliente, para internet doméstica via 5G].
É todo um mercado que vem com a onda do 5G e que vai ajudar inclusive a monetizar o 5G de uma forma geral na região.
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