México
Perguntas e Respostas

Telefónica: ‘O modelo predominante hoje não está funcionando e precisa ser revisto’

Bnamericas
Telefónica: ‘O modelo predominante hoje não está funcionando e precisa ser revisto’

Com a redução das margens de lucro na América Latina, as operadoras de telecomunicações apostam no compartilhamento e na consolidação da infraestrutura como uma forma de ganhar força em mercados altamente competitivos.

A região enfrenta o desafio de continuar investindo para reduzir a exclusão digital, aumentar a capacidade da infraestrutura e seguir na implantação da fibra ótica e do 5G.

Há quatro anos, a Telefónica adotou uma abordagem para reduzir a exposição na região, o que levou a operadora a adotar parcerias e estratégias inovadoras para dar continuidade aos seus planos de expansão.

Antes de um evento sobre inclusão digital que a empresa realizará na próxima semana na Colômbia, José Juan Haro, diretor de negócios atacadistas e relações públicas da Telefónica para a região latino-americana, conversou com a BNamericas sobre os problemas de sustentabilidade da indústria de telecomunicações e a tendência de consolidação observada.

Bnamericas: A Telefónica trabalhou duro para reduzir sua exposição na América Latina e recorreu ao compartilhamento da infraestrutura. Como está a situação hoje e o que podemos esperar para o futuro?

Haro: Ao longo destes quatro anos, desde que a Telefónica Hispanoamérica anunciou que acreditava no compartilhamento, isso realmente aconteceu no Chile, na Colômbia, no Peru e no México, em diferentes negócios. Até no segmento de televisão, onde trabalhamos com a Hispasat há alguns anos.

Temos avançado no desenvolvimento de formas mais eficientes para atender melhor aos latino-americanos. Hoje, é evidente que somos o “aluno mais avançado” da turma do compartilhamento.

Estamos à frente dos nossos concorrentes e queremos continuar assim e aprofundar essas iniciativas, porque com isso, não seremos só eficientes, também poderemos acelerar as implementações e ter uma estrutura de custos que nos permita enfrentar o problema de sustentabilidade que a nossa indústria vive hoje.

BNamericas: Como estão as margens atualmente?

Haro: Essa indústria, quando temos operadoras móveis de tamanho adequado, com cerca de 30% de participação de mercado, operava com margens Ebitda acima de 30% em quase todos os países. Hoje, as médias regionais oscilam em torno de 20% e são ainda mais baixas em alguns países.

Quando se desconta o investimento, a capacidade de geração de fluxo de caixa livre e, portanto, de remuneração para os acionistas fica em questão em diversos mercados. Não estou falando nenhuma novidade quando digo que se trata de um problema estrutural.

No Chile, praticamente nenhum ator consegue garantir a recuperação dos recursos investidos hoje. O mesmo acontece na Colômbia, mas é algo que geralmente se percebe em todos os mercados e que provocou a saída de algumas operadoras.

Simplificando, o modelo predominante hoje não está funcionando e precisa ser revisto.

BNamericas: Na Colômbia, vocês anunciaram o compartilhamento de infraestrutura com a Tigo, e depois saiu a notícia de que a Tigo está estudando a aquisição das operações da Telefónica naquele país. Podemos esperar saídas também de outros mercados?

Haro: A Colômbia não deve ser vista como uma saída, mas sim como uma integração, consolidação e ganho de escala.

No segmento móvel, com as margens que acabamos de discutir, manter quatro ou mais operadoras não faz sentido, por isso, é necessário avançar para a consolidação em todos os territórios.

Já vimos isso no Brasil, no Panamá e estamos vendo os processos no Chile e na Colômbia. Acho que isso acontecerá em praticamente toda a região, e é desejável que seja assim para que as operadoras se fortaleçam e possam expandir suas redes.

Agora, essa consolidação tem vários modelos. Pode acontecer que a operadora A compre a B, que a B compre a A ou que decidam ser administradas em conjunto depois da integração. Nós somos pragmáticos.

No caso da Colômbia, não vou revelar o rumo das negociações, mas a Millicom se dispôs a fazer o investimento de adquirir a nossa participação e, eventualmente, se houvesse interesse, também poderia adquirir os acionistas minoritários das duas empresas que participam da integração. É uma operação em construção.

A questão central para nós é que devemos buscar a consolidação, e uma questão de segunda ordem é qual será o caminho específico em cada país. No caso da Colômbia é este modelo, mas no Chile anunciamos uma estratégia diferente, porque lá atuamos como agentes consolidadores.

Nota do editor: Halo está se referindo ao acordo com a América Móvil para avaliar uma aquisição conjunta da WOM.

BNamericas: Colômbia e Chile parecem ser mercados muito difíceis para alcançar esta sustentabilidade devido à estrutura dos mercados. Para você, que outros mercados exigiriam uma consolidação mais urgente?

Haro: Eu falaria além da consolidação, porque faz parte da solução, mas não é a única possível. No passado, falamos sobre compartilhar. Não existe uma solução mágica.

Mas, vemos problemas de insustentabilidade em diferentes mercados. O Peru, por exemplo, é um mercado que também dá sinais de esgotamento, e vocês estão vendo que a [companhia estatal de telecomunicações] Copaco também está tendo dificuldades no Paraguai. Existem tensões em vários territórios.

Honestamente, onde ainda não houve um terremoto, acho que acontecerá em breve.

BNamericas: Como você vê o mercado argentino?

Haro: A Argentina acrescenta aos desafios da sustentabilidade uma expectativa macroeconômica que permanece desconhecida.

Em relação ao futuro, vamos ver o que acontece, mas diria que, assim que houver crescimento e elementos que nos permitam prever um futuro melhor, certamente veremos o mercado se movimentando com mais intensidade. Mas estou otimista.

BNamericas: Na Argentina, existem três grandes players e muitas empresas pequenas e médias de fibra e TV por assinatura que estão em grandes dificuldades hoje. Você acha que a consolidação acontecerá entre as pequenas e médias empresas, e não nas grandes?

Haro: Devido ao tamanho do país, a Argentina tem um conjunto de pequenos agentes, cooperativas e provedores de serviços de internet de diversas naturezas, o que lembra um pouco o ecossistema do Brasil, que é altamente fragmentado. Isso não é comum em todos os países da região.

Na verdade, fizemos alianças de diversos tipos com alguns desses agentes [como Iplan e Sion] e esse é um diferencial da Telefónica: a flexibilidade e a intenção de firmar acordos e desenvolver alianças comerciais.

Provavelmente, neste processo, pode ser que haja interesse em consolidar e fortalecer suas posições. Já aconteceu no Brasil, onde essas operadoras vêm crescendo adquirindo operações menores. Agora, estamos falando de futurologia sobre decisões de outras pessoas.

Estamos muito abertos a explorar diferentes formas de colaboração, compartilhamento e, eventualmente, consolidação sempre que fizerem sentido.

BNamericas: Você falou sobre a pressão para continuar investindo em fibra e 5G. O que temos visto é o apoio de fundos de investimento para o aporte de capital e também a criação de fideicomissos. Quais soluções vocês buscam para manter o capex?

Haro: Bem, na Argentina, não fizemos nada como a OnNet [rede atacadista de fibra em aliança com a KKR], mas somos de longe a operadora que mais implantou fibra no país.

Temos mais de 4 milhões de casas passadas com recursos próprios e mais de 1 milhão em parcerias com outros players. Por isso, estamos orgulhosos da nossa presença de fibra na Argentina.

Tal como aconteceu no Chile e na Colômbia, pode haver uma oportunidade de avançar ainda mais e expandir a presença de fibra com estruturas como as que tivemos nesses países, mas tudo depende do apetite da comunidade de investimento, que, mais uma vez, está ligado à situação macroeconômica. E também depende da possibilidade de estruturar esses negócios. A questão tributária, por exemplo, tem suas particularidades na Argentina.

BNamericas: Já faz um tempo que falamos sobre o problema da sustentabilidade na indústria e a necessidade de mudanças regulatórias. O que você considerou positivo no trabalho realizado pelos reguladores?

Haro: Tivemos mudanças, mas a urgência do momento exige decisões rápidas. Onde vimos mudanças? Não em todos os países, mas a questão dos preços do espectro é uma grande tendência, ele começou a ser reduzido tanto para renovação quanto para novas licitações.

Há países em que, infelizmente, essa mudança não ocorreu, por exemplo, o caso do México. Vendo que os preços do espectro não iam mudar por lá, decidimos devolver 100% da nossa participação, mas nos outros países tivemos mudanças. Não foi uma tarefa simples, tivemos que divulgar informações financeiras, aprofundar o diálogo público-privado e gerar confiança, mas testemunhamos uma mudança nas expectativas de arrecadação dos governos.

Também estamos vendo movimentos em questões como a revisão das condições de portabilidade e segurança, mas gostaríamos que isso pudesse ser feito mais rápido.

Hoje, grande parte da regulamentação está obsoleta.

Uma vez concluída a tarefa do espectro, estamos concentrados em propor uma revisão dos critérios usados pelas autoridades de concorrência para abordar as fusões no nosso setor.

BNamericas: Que mudanças são necessárias nesse sentido?

Haro: Publicamos um comunicado em que dizemos que são necessárias mudanças em quatro níveis: revisão das estruturas de mercado, expectativas de receitas – isso tem a ver com o espectro, mas também com os impostos –, liberação de restrições comerciais e assimetria entre as operadoras de telecomunicações e os grandes geradores de tráfego no mercado.

Esta ineficiência tem de ser corrigida estruturalmente para que as operadoras possam recuperar suas margens.

Tenha acesso à plataforma de inteligência de negócios mais confiável da América Latina com ferramentas pensadas para fornecedores, contratistas, operadores, e para os setores governo, jurídico e financeiro.

Assine a plataforma de inteligência de negócios mais confiável da América Latina.

Outros projetos em: TIC

Tenha informações cruciais sobre milhares de TIC projetos na América Latina: em que etapas estão, capex, empresas relacionadas, contatos e mais.

Outras companhias em: TIC (México)

Tenha informações cruciais sobre milhares de TIC companhias na América Latina: seus projetos, contatos, acionistas, notícias relacionadas e muito mais.

  • Companhia: Axis Communications  (Axis LAC)
  • A descrição incluída neste perfil foi retirada diretamente de fonte oficial e não foi modificada ou editada pelos pesquisadores do BNamericas. No entanto, pode ter sido traduzid...
  • Companhia: Grupo Condumex S.A. de C.V.  (Grupo Condumex)
  • O Grupo Condumex SA de CV, subsidiária do conglomerado mexicano Grupo Carso, fabrica condutores elétricos utilizados principalmente nos setores de telecomunicações, automotivo e...
  • Companhia: Grupo Carso S.A.B. de C.V.  (Grupo Carso)
  • O Grupo Carso é um conglomerado industrial mexicano formado por um grupo diversificado de empresas em quatro linhas de negócios: setor industrial, infraestrutura, varejo e energ...