‘Temos toda uma química verde que podemos ampliar, já que o mundo está interessado’
Os investimentos na indústria química do Brasil devem chegar a R$ 20 bilhões (US$ 3,2 bilhões) até 2030, de acordo com André Cordeiro, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
Esses são volumes relativamente pequenos, dados os desafios de competir com os Estados Unidos e a China, que, ao contar com muitos subsídios, têm ampliado significativamente sua capacidade.
Para Cordeiro, o governo federal precisa incluir a indústria química no programa Nova Indústria Brasil (NIB), viabilizando mais investimentos, inclusive em química verde.
Nesta entrevista, ele analisou os desafios do mercado e destacou players com projetos em desenvolvimento.
BNamericas: Qual o tamanho da indústria petroquímica brasileira hoje? Quais são os principais polos?
Cordeiro: Em 2022, éramos a quarta maior indústria química do mundo. Oscilamos entre a quarta e a sexta posições em termos de faturamento, que hoje gira em torno de US$ 160 bilhões por ano.
Os principais polos são os de Camaçari, na Bahia; Catuaba e Cubatão, em São Paulo; e Triunfo, no Rio Grande do Sul.
BNamericas: Quem são os principais players e quais são os projetos em desenvolvimento?
Cordeiro: A Braskem é a proprietária das principais centrais petroquímicas, fabricando produtos químicos básicos, como eteno, benzeno, propeno, butadieno, tolueno... de onde tudo deriva, em geral.
Além dela, há empresas como Rhodia, Innova, Unigel, Basf, Elekeiroz, Indorama e Indovinya, que é a antiga Oxiteno. Temos mais de 100 associados, que representam mais de 90% do mercado para uso industrial.
BNamericas: Quais são as projeções de crescimento e investimento?
Cordeiro: Em torno de R$ 20 bilhões até 2030. O investimento tem sido reduzido em função da situação econômica mundial. China e EUA têm investido muito em novas capacidades, chegando a 20% acima da demanda mundial. Então, só está investindo quem tem acesso a matéria-prima muito barata, como gás, ou quem tem muitos subsídios, como EUA e China. Quem não tem, como é o caso do Brasil e da Europa, está com taxas de investimento baixas e operando com ociosidade de quase 40%.
Esses R$ 20 bilhões têm muito a ver com transição ecológica, modernização de plantas para descarbonização. Os aportes são reflexo do plano de estímulo que o governo federal retomou em 2023, que é o regime especial para a indústria química. Quem investe recebe mais incentivos. Isso gerou mais de 1 bilhão de reais em solicitações. Cerca de 500 milhões de reais já foram aprovados. Então, esperamos que esse estímulo continue, inclusive possibilitando aumento de capacidade. Também estamos trabalhando na ideia de preços de gás mais baratos no Brasil.
BNamericas: O governo pediu à ANP para acelerar a regulamentação do programa “gas release” para estimular o mercado. O que você acha disso?
Cordeiro: Todo movimento de desconcentração do mercado é desejável. É preciso criar condições, sobretudo pelo mercado livre, e proporcionar novas fontes de suprimento. O gas release ajuda com isso.
Só temos que ter cuidado para não estabelecer imposições relativas à concentração de mercado. O Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] regula isso. Não somos favoráveis ao estabelecimento de limites de concentração por lei, pois isso impacta vários setores. Qual é o nível de concorrência aceitável? Depende do mercado. Se for um mercado global, às vezes você pode ter duas ou três empresas em um país, podendo haver importações. É difícil fixar um limite de mercado, mas apoiamos mecanismos para estimular a desconcentração, como o gas release ou o acesso de terceiros à infraestrutura.
Também há o programa federal Gás para Empregar e as negociações com a Argentina... são sinalizações que fazem a gente prever um aumento do investimento.
Temos, por sinal, um memorando de entendimento com a Petrobras para um modelo de comercialização de gás adequado ao setor petroquímico.
BNamericas: Quais são os principais projetos na área petroquímica no Brasil?
Cordeiro: As plantas de fertilizantes da Petrobras e o investimento da Braskem em Duque de Caxias para químicos básicos; alguns projetos de química sustentável, como o de Rio Grande, junto com Ultra e Petrobras; os investimentos da Unipar na modernização de suas plantas de produção de cloro-soda. A Innova e a Elekeiroz também têm projetos.
A Unigel [que arrendou duas plantas de fertilizantes da Petrobras] está conversando com a Petrobras para tentar solucionar o problema do preço do gás natural.
BNamericas: Quais são os principais desafios?
Cordeiro: Há o desafio do “esverdeamento” da produção. A Braskem e a Rhodia são as duas maiores usuárias de etanol para a produção de químicos. O Brasil é o maior produtor de eteno verde do mundo. E a Rhodia utiliza etanol em Paulínia [São Paulo] para sua produção de solventes etc.
Então, há uma indústria alcoolquímica no Brasil que precisa ser retomada e incentivada. Ela é capaz de produzir quase todos os produtos químicos feitos a partir de petróleo e gás. É preciso ter um ambiente adequado, com incentivos através do RenovaBio ou do mercado regulado de carbono. Estamos queimando álcool em vez de usá-lo para produzir bens que usamos no dia a dia.
Também temos associados que usam óleos vegetais, como a Indovinya, para produzir antioxidantes usados no agronegócio. Temos toda uma química verde que podemos ampliar, já que o mundo está interessado nisso. Resinas, colas extraídas de madeira – isso pode crescer muito e substituir produtos feitos a partir de matérias-primas fósseis por verdes, com baixa ou nenhuma emissão de carbono. Estamos olhando para o mercado de combustíveis e energia, não o industrial. É preciso incentivar a demanda no Brasil para a finalidade industrial. A indústria química é uma das maiores consumidoras de hidrogênio do mundo, usando-o para fibra têxtil e sintética, por exemplo. Temos que colocar unidades de produção de hidrogênio nos sites industriais para produzir a partir de fontes renováveis de energia.
BNamericas: Boa parte dos projetos de hidrogênio em estudo no Brasil se concentra na exportação, certo?
Cordeiro: As empresas estão lutando para viabilizar a produção de hidrogênio verde no Brasil, o que é louvável. Na Europa, a demanda está sendo subsidiada por meio de grandes leilões. Que risco estamos correndo? O Brasil subsidia a criação de oferta, e a Europa, a demanda. Esse é o ponto que temos que enfrentar. Senão, estaremos descarbonizando a indústria europeia. Essa é uma decisão estratégica, usar essa energia para produzir bens com maior valor agregado. Somente a política industrial pode reverter esse modelo.
Tivemos vários movimentos de auxílio do governo, com o REIQ [Regime Especial da Indústria Química]. O governo anterior tentou extinguir o REIQ. O governo atual retomou, regulamentou e manteve uma linha de incentivo, ainda que precária e limitada. O governo entendeu que nosso setor, assim como aço, pneus, entre outros, tinha que ser defendido da concorrência agressiva e predatória dessa guerra comercial entre China e EUA. Então, aumentou os impostos de importação de produtos centrais.
Mas não há uma conexão direta e evidente disso com o programa Nova Indústria Brasil (NIB). O NIB está em construção, em processo. Nosso pleito é que a indústria química seja incluída clara e explicitamente nas missões do NIB, pois a nossa é a indústria das indústrias. Você não pega nenhum combustível mineral, vegetal ou fóssil e o entrega à indústria sem antes passar por um processo químico, sem ser transformado pela indústria química.
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