‘Um melhor gerenciamento de dados é mais importante do que nunca para os negócios’

A empresa de dados empresariais Cloudera está otimista sobre as interrupções da inteligência artificial, mas se mantém cética sobre todas as empresas de software que se autodenominam empresas de inteligência artificial (IA).

Com uma capitalização de mercado estimada em mais de US$ 6 bilhões e uma participação de mercado de 12% no segmento de infraestrutura de big data, a Cloudera oferece uma plataforma híbrida que permite que as empresas acessem e analisem dados em nuvens públicas e privadas, além de on-premises.

A BNamericas conversou recentemente em São Paulo com o CEO Charles Sansbury e a vice-presidente para a América Latina, Rubia Coimbra, para saber mais sobre o mercado de dados, arquiteturas acidentais, retornos sobre investimentos em IA generativa (ou genAI) e como a Cloudera ajudou o governo colombiano a reduzir a gravidez na adolescência.

BNamericas: Como vocês avaliam o mercado de dados em termos das demandas? Onde estão as principais oportunidades?

Sansbury: As empresas que atendemos aqui na América Latina são grandes, multinacionais e globais por natureza. Grandes bancos, grandes provedores de serviços financeiros, empresas de telecomunicações e agências governamentais. Elas estão enfrentando os mesmos problemas que seus pares estão enfrentando na América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico: gerenciar dados e usá-los para tomar melhores decisões de negócios em um mundo onde essas grandes organizações têm arquiteturas acidentais – uma arquitetura de dados que é impulsionada por uma aquisição há 15 anos, seguida por uma expansão há sete anos, por exemplo. Não é uma folha de papel bonita, organizada e limpa.

O que isso significa é que os dados são ressonantes em vários lugares. As empresas estão tentando descobrir: “como faço para obter os dados que preciso no lugar certo para analisá-los e treinar modelos?” e estão percebendo que precisam trabalhar muito agora para estarem prontas para o machine learning avançado, a análise de dados cada vez mais quantitativa e a genAI.

BNamericas: E onde a Cloudera se encaixa nisso?

Sansbury: Nós os ajudamos a gerenciar e limpar esses dados e deixá-los prontos para análise e, finalmente, para iniciativas baseadas em IA. E então nós fornecemos a eles, eu diria, a infraestrutura ou operações para fazer suas iniciativas de IA.

O que não fazemos é fornecer grandes modelos de linguagem [na sigla em inglês, LLMs].

Ajudamos os clientes a fazer uma configuração, um ambiente, um data lake. Ajudamos a gerenciar os dados que vão para esse lake, limpá-los, colocá-los em formatos apropriados e, em seguida, fornecemos a eles as ferramentas e recursos para acessar e extrair grandes modelos de linguagem. Seja dos provedores de código aberto ou dos provedores de modelos proprietários.

BNamericas: Como mercados emergentes como a América Latina ou a Ásia-Pacífico diferem em termos de prontidão e adoção de dados dos EUA ou da Europa Ocidental?

Sansbury: A realidade é que as maiores empresas nesses mercados emergentes estão recebendo o mesmo nível de atenção e têm o mesmo nível de desafios técnicos que as maiores empresas da América do Norte ou da Europa.

No entanto, muitas empresas não adotaram boas práticas de linhagem ou qualidade de dados. O desafio é que agora você tem todos esses dados que gostaria de alimentar e treinar modelos e obter resultados comerciais acionáveis.

O conselho de diretores e gerentes seniores dizem: “precisamos de casos de uso de resultado rápido para IA”. Eles estão pedindo que o TI invista dinheiro nessas iniciativas, mas alguns dos primeiros trabalhos necessários são menos empolgantes, como engenharia de dados e organização de dados.

Para aqueles com dados organizados, os ganhos rápidos estão em códigos completos, na ativação de chatbots e na geração de conteúdo para documentos de marketing ou informações voltadas ao cliente.

BNamericas: O hype da genAI esmagou as empresas tradicionais de análise de dados ou impulsionou os negócios?

Sansbury: Um pouco dos dois. Toda empresa de software que pode falar sobre si mesma como uma empresa de IA está fazendo isso agora, o que é confuso para os usuários finais.

O que é inequivocamente verdade é que um melhor gerenciamento de dados é mais importante do que nunca para os negócios.

A segurança cibernética é atualmente a maior prioridade nos orçamentos de TI. No entanto, dados e iniciativas relacionadas a dados migraram para o topo da lista de prioridades, ficando atrás apenas da cibersegurança. Obter o máximo dos dados para administrar melhor um negócio é um tópico essencial não apenas para CIOs, mas também para o conselho e CEOs.

BNamericas: A genAI já está proporcionando retorno sobre investimentos [na sigla em inglês, ROI] para as empresas?

Sansbury: Pouquíssimas empresas estão gerando retornos reais com genAI, mas não vi nem ouvi nada sobre empresas reduzindo seus gastos com ela.

Estamos chegando a um ponto em que as pessoas estão dizendo “preciso começar a ver um retorno desses investimentos”. Tudo bem. Você pode não ter ROI, mas, indiretamente, as empresas têm economia de custos com algumas implementações de genAI. As menos horas de trabalho que os humanos gastam fazendo tarefas manuais são ganhos. Estes também são retornos.

BNamericas: Como a Cloudera está se saindo na América Latina?

Coimbra: Temos mais de 300 casos de uso em produção na América Latina em nossa base de clientes.

Acabei de voltar da Colômbia, onde o setor público é um ótimo cliente nosso. Um dos casos de uso deles é que eles conseguiram reduzir a gravidez na adolescência em comunidades de baixa renda em 54% com o suporte da nossa plataforma. Este não é necessariamente um caso de uso de genAI, mas é um que envolve muita análise, muita confiança em seus dados e alguma IA no mapeamento de áreas vulneráveis para redirecionar ações como educação sexual e trabalho social.