Um mergulho na tecnologia de captura, uso e armazenamento de carbono no Chile
O Chile pretende alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
A descarbonização da rede elétrica está em curso, com foco na redução das emissões em outros setores da economia através da eficiência energética, da eletrificação e da adoção de combustíveis sustentáveis.
Outra ferramenta disponível para promover a transição energética é a tecnologia de captura, uso e armazenamento de carbono, ou CCUS. Embora a economia e as regulamentações dos projetos sejam obstáculos importantes que precisam ser enfrentados, a CCUS tem muito potencial no Chile.
Para saber mais sobre a tecnologia e outros assuntos, a BNamericas conduziu uma entrevista por e-mail com Rodrigo Brisighello, country manager da consultoria sueca Afry no Chile.
BNamericas: Você pode falar um pouco sobre o cenário de captura, uso e armazenamento de carbono hoje no Chile?
Brisighello: O Chile tem muito potencial para o desenvolvimento de CCUS, graças aos seus recursos naturais, como formações geológicas adequadas para o armazenamento subterrâneo de CO2. Assim, considerando a meta de descarbonização do Chile até 2050, a tecnologia de CCUS surge como uma ferramenta fundamental para enfrentar este desafio, complementando outras estratégias de mitigação, como a geração de energia renovável e a eficiência energética.
No entanto, para aproveitar esse potencial e as oportunidades oferecidas por essa tecnologia, o Chile precisa avançar no desenvolvimento de um marco regulatório claro e favorável, que incentive o uso dessas tecnologias e o desenvolvimento de projetos.
Além disso, é necessário reduzir os custos atuais, ainda muito elevados, que hoje exigem financiamento público-privado. Isso inclui o desenvolvimento de infraestrutura para transporte e armazenamento seguros.
Por último, mas não menos importante, é fundamental aumentar a conscientização e o conhecimento da população sobre essa tecnologia, seus benefícios e potenciais impactos. Isso será essencial para ganhar aceitação social, fator crucial para a concretização de projetos futuros. A colaboração entre os setores público, privado e acadêmico será vital para maximizar o potencial dessa tecnologia no caminho para um futuro sustentável.
BNamericas: Onde, em termos de indústrias ou processos, essa tecnologia poderia ser implantada no Chile?
Brisighello: A tecnologia de CCUS tem muito espaço para aplicação no Chile, em vários setores/processos que geram emissões significativas de CO2. Com tecnologias de armazenamento e/ou reutilização, esses setores poderiam mitigar seus impactos. Os exemplos incluem:
1) Fábricas de cimento: capturar o CO2 das chaminés das fábricas de cimento e armazená-lo geologicamente ou reutilizá-lo na produção de novos materiais de construção seria uma alternativa viável e mais sustentável.
2) Refinarias de petróleo: capturar o CO2 nessas instalações e utilizá-lo para a produção de hidrogênio verde ou e-fuels, por exemplo, é uma oportunidade de reduzir seu impacto.
3) Centrais elétricas abastecidas por combustíveis fósseis: a captura de CO2 em centrais elétricas a carvão ou gás natural, combinada com o armazenamento geológico, reduz significativamente as emissões de gases de efeito de estufa associadas à produção de eletricidade.
4) Siderurgia: capturar CO2 nos processos de produção de aço e reutilizá-lo na fabricação de novos produtos siderúrgicos pode contribuir para a descarbonização do setor.
5) Indústria química: a captura e reutilização de CO2 pode ser utilizada na produção de matérias-primas ou produtos químicos de baixo carbono.
6) Combustão de biomassa: capturar e armazenar ou reutilizar o CO2 pode contribuir para a sustentabilidade energética da biomassa.
7) Queima de resíduos: capturar CO2 e tratá-lo pode minimizar o impacto ambiental da incineração.
BNamericas: Qual seria o prazo desses processos?
Brisighello: Os prazos podem variar com base em fatores como o avanço tecnológico, os marcos regulatórios, a disponibilidade de financiamento e a aceitação social. No entanto, três períodos podem ser visualizados nas condições atuais:
– Desenvolvimento inicial (hoje-2025): estabelecimento e complementação de regulamentos específicos de projetos de CCUS, gerando clareza e segurança jurídica para os investimentos. Projetos-piloto de CCUS também são desenvolvidos em vários setores para validar a tecnologia em condições reais e gerar dados valiosos de otimização. Ao mesmo tempo, há um grande foco na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias de CCUS mais eficientes, econômicas e sustentáveis para reduzir custos e melhorar o desempenho.
– Implementação gradual (2026-2035): a tecnologia se expande para mais indústrias e processos, concentrando-se naqueles com maiores emissões de CO2 e potencial de redução. O desenvolvimento da infraestrutura para captura, transporte e armazenamento seguros de CO2 é fundamental, incluindo redes de dutos, instalações de armazenamento subterrâneo e portos especializados. A colaboração dos setores público e privado se intensifica para financiar projetos de CCUS, com incentivos fiscais, subsídios e mecanismos de financiamento inovadores.
– Estágio de maturidade e expansão (2036 em diante): a tecnologia de CCUS passa a ser amplamente adotada como ferramenta para a descarbonização industrial e a geração de energia no Chile. A integração com outras tecnologias de baixo carbono, como a captura direta do ar e a produção de hidrogênio verde, maximiza o impacto na mitigação das mudanças climáticas. À medida que o Chile ganha experiência na implementação de CCUS, a expectativa é que exporte seu conhecimento e sua tecnologia, contribuindo para os esforços globais de descarbonização.
BNamericas: Parece que uma barreira óbvia pode ser o custo, mas, ao que tudo indica, nos próximos anos, o preço do carbono pode ser um fator relevante. O que você acha disso?
Brisighello: É verdade, o alto custo da tecnologia de CCUS é uma barreira significativa à sua implementação em grande escala. Os elevados custos associados às atividades de captura, transporte, armazenamento e desenvolvimento de infraestrutura de CO2 representam um desafio importante para a viabilidade econômica dos projetos de CCUS.
No entanto, o preço do carbono pode desempenhar um papel crucial no incentivo à adoção dessa tecnologia nos próximos anos. A previsão é que haja um aumento devido a uma maior ambição climática, à demanda por tecnologias de baixo carbono e à preocupação com as mudanças climáticas. O maior preço do carbono refletiria o custo real das emissões de CO2 para a sociedade, tornando as opções de captura e armazenamento de CO2 mais atrativas, do ponto de vista econômico, para as indústrias emissoras. Neste contexto, um preço mais elevado do carbono poderia funcionar como um catalisador para a implementação das tecnologias de CCUS no Chile.
Concluindo, o preço do carbono tem potencial para impulsionar a implementação de CCUS no Chile. No entanto, por si só não será suficiente para garantir o sucesso da implementação, e deve fazer parte de uma estratégia abrangente que aborde as barreiras técnicas, econômicas e sociais à adoção generalizada dessa tecnologia.
BNamericas: Hoje em dia, existem barreiras regulatórias?
Brisighello: Embora o Chile tenha um marco regulatório para promover ações que mitiguem as mudanças climáticas e estimulem a energia verde, ainda existem barreiras regulatórias específicas que dificultam a implementação em grande escala da tecnologia de CCUS.
Algumas questões ainda pendentes são a falta de uma definição clara e precisa do que constitui um projeto de CCUS, bem como a incerteza acerca da responsabilidade pelo vazamento de CO2 durante o armazenamento geológico. Essa indefinição cria dúvidas para investidores e desenvolvedores de projetos. Não foram estabelecidas autorizações e licenças específicas para a implementação, complicando o processo de autorização e monitoramento desses projetos.
Também há incerteza sobre os requisitos técnicos e ambientais para esse tipo de armazenamento, uma vez que a regulamentação do armazenamento geológico de CO2, uma etapa crucial do processo de CCUS, ainda está em desenvolvimento.
Da mesma forma, não há certeza em termos de financiamento. O Chile carece de mecanismos de financiamento específicos para projetos de CCUS, o que limita o acesso ao capital para a implementação dessa tecnologia.
É importante destacar que o governo chileno adotou algumas medidas para resolver essas barreiras regulatórias. Em 2020, foi publicada a estratégia nacional para o hidrogênio verde, que reconhece o potencial da CCUS para a descarbonização industrial e propõe medidas para facilitar sua implementação. No entanto, ainda há muito a se fazer para criar um marco regulatório sólido e favorável para a implementação de CCUS no Chile.
BNamericas: O Chile quer produzir combustíveis sintéticos em grande escala. Como o CO2 é um fator-chave, existe potencial para o uso do carbono capturado nesses processos ou isso é simplesmente inviável, pelo menos por enquanto, do ponto de vista logístico ou econômico?
Brisighello: Na verdade, o Chile tem planos ambiciosos para produzir combustíveis sintéticos (e-fuels) em grande escala. O CO2 capturado da atmosfera ou de fontes específicas de emissão poderia ser um insumo fundamental para esteprocesso, substituindo o petróleo e o gás natural utilizados atualmente.
No entanto, a viabilidade técnica e econômica da utilização do CO2 capturado para a produção de e-fuels no Chile enfrenta vários desafios, como custos elevados, falta de infraestrutura, desenvolvimento tecnológico e aumento da demanda.
Na minha opinião, uma questão fundamental para avançar nesse caminho é focar na tecnologia de produção de e-fuels a partir do CO2 capturado. Estamos em processo de pesquisa e inovação, visando otimizar a eficiência e reduzir os custos. A redução de custos, por si só, já é um desafio, uma vez que a tecnologia de captura de CO2 continua cara, o que aumenta o preço final dos combustíveis sintéticos produzidos. Devemos trabalhar para conseguir preços mais competitivos.
Os desafios de infraestrutura também são importantes, pois o desenvolvimento da infraestrutura para transporte e armazenamento seguro do CO2 capturado exige investimentos significativos. No entanto, para que os investimentos sejam feitos, também deve haver um incentivo em termos de demanda por e-fuels, que hoje é relativamente baixa e pode dificultar a viabilidade econômica de projetos de grande escala.
BNamericas: Quais são os componentes de um sistema típico de captura e armazenamento de carbono, por exemplo, um sistema adequado para uma fábrica de cimento?
Brisighello: Os sistemas de captura e armazenamento de carbono para uma instalação industrial consistem em três etapas: captura, transporte e armazenamento seguro de CO2, com componentes adicionais de secagem e monitoramento.
A escolha da tecnologia de captura depende das características específicas da planta, como o tipo de processo produtivo e as emissões de CO2. Geralmente, os processos exigidos em cada etapa são os seguintes:
Captura de CO2:
– Pré-combustão: o CO2 é capturado antes do processo de combustão, separando-o dos gases de combustão através de processos químicos ou físicos.
– Oxicombustão: oxigênio puro é usado na combustão, em vez de ar, gerando gases de combustão ricos em CO2, o que facilita a captura.
– Pós-combustão: o CO2 é capturado dos gases de combustão após o processo de combustão, por processos de absorção ou adsorção.
Transporte de CO2:
– Compressão: o CO2 capturado é comprimido a alta pressão para facilitar o transporte.
– Dutos: o CO2 comprimido é transportado através de dutos até o local de armazenamento.
– Navios ou caminhões: em alguns casos, o CO2 pode ser transportado por navios ou caminhões se o local de armazenamento for longe da usina.
Armazenamento de CO2:
– Formações geológicas: o CO2 é injetado em formações geológicas profundas e estáveis, como aquíferos salinos ou reservatórios esgotados de petróleo e gás.
– Mineralização: o CO2 é mineralizado quimicamente para convertê-lo em material sólido estável, como carbonatos.
Componentes adicionais para uma fábrica de cimento:
– Sistema de secagem: o CO2 capturado pode conter umidade, exigindo um sistema de secagem para remover a água antes do transporte e armazenamento.
– Sistema de monitoramento: um sistema de monitoramento é implementado para garantir a integridade dos componentes do sistema de CCS e evitar vazamentos de CO2.
BNamericas: Por fim, quais serviços a Afry oferece nesta área? Há alguma tendência prevista para a demanda nos próximos anos?
Brisighello: A Afry é uma empresa internacional de origem nórdica bem posicionada para capitalizar no crescente mercado de CCUS, com mais de 20 anos de experiência, conhecimento técnico e uma abordagem inovadora. A empresa tem o compromisso de ajudar os clientes a descarbonizarem suas operações e contribuir para um futuro mais sustentável. Na Afry, nossa visão é “fazer o futuro”.
Oferecemos uma ampla gama de serviços relacionados às tecnologias de CCUS, incluindo avaliação e análise de viabilidade, ajudando os clientes a avaliar o potencial técnico e econômico da implementação de sistemas de CCUS em suas operações. Esse trabalho inclui a identificação de fontes de emissão de CO2, a seleção de tecnologias de captura adequadas, a avaliação de opções de transporte e armazenamento e a realização de estudos de custo-benefício.
A Afry também fornece serviços detalhados de projeto e engenharia para empreendimentos de CCUS, desde a captura de CO2 até o transporte e o armazenamento, apoiados por nossa experiência no desenvolvimento de sistemas de CCUS para uma ampla gama de indústrias, como cimento, aço, energia e refinarias de petróleo, entre outras.
Além disso, gerenciamos projetos, garantindo uma execução eficiente e oportuna. Na Afry, cuidamos de todas as etapas do projeto, desde planejamento e desenho até construção e comissionamento, e contribuímos com a pesquisa e o desenvolvimento para avançar em direção a tecnologias de CCUS mais eficientes e econômicas. Colaboramos com universidades e institutos de pesquisa para promover o que há de mais moderno nessa tecnologia.
Também prestamos serviços de consultoria sobre políticas e regulamentação, aconselhando governos e organizações a promover marcos regulatórios que incentivem a adoção de CCUS e garantam a proteção ambiental.
No que diz respeito à demanda por serviços de CCUS, espera-se que haja um crescimento significativo nos próximos anos, impulsionado pelo aumento da ambição climática, pela alta dos preços do carbono e pelo desenvolvimento tecnológico, entre outros fatores.
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