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‘Vemos o Brasil como uma potência regional em inovação’

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‘Vemos o Brasil como uma potência regional em inovação’

Um dos maiores grupos de serviços e consultoria de TI do mundo, a NTT Data, subsidiária do conglomerado japonês NTT, está aumentando a aposta na América Latina na esteira da transformação digital acelerada, inclusive em tendências emergentes como o metaverso.

A empresa tem como meta atingir 2% de participação de mercado em todos os países em que atua em quatro anos, o que seria suficiente para torná-la uma das cinco maiores empresas globais de serviços de TI, contou à BNamericas Miguel Teixeira, recém-nomeado CEO da NTT Data para a região das Américas. A empresa ocupa hoje o sexto ou sétimo lugar, atrás de nomes como Accenture, Deloitte, PwC e IBM.

Mas o caminho terá obstáculos, e um deles é a escassez de profissionais de tecnologia suficientes para o desenvolvimento de projetos e atendimento aos clientes. A situação é parecida na maioria dos mercados globais, mas é particularmente grave na América Latina.

Nesta entrevista, Teixeira fala sobre transformação digital, prioridades de investimento, problemas com a força de trabalho e planos de expansão do grupo na América Latina.

BNamericas: Você acabou de assumir a liderança da América Latina. Quais são as suas prioridades em termos de mercados e áreas de negócios na região? Em que a NTT Data está apostando?

Teixeira: Bem, antes da pandemia já havia um impulso de transformação digital. Em diversos eventos, este era o tema, como a tecnologia estava transformando as relações de trabalho e a forma de viver em geral. Com a pandemia, isso acelerou ainda mais.

Um conjunto de pessoas que não tinha entendido esses processos de transformação tecnológica passou a entender, um conjunto de empresas entendeu que os canais digitais não eram mais um canal, era o canal.

Digo tudo isto porque essa nova realidade impactou os negócios das consultorias em geral. Temos muito trabalho, muita demanda de projetos. Estamos em uma fase em que ajudamos os clientes a se diferenciarem, mas não precisamos mais convencê-los a usar tecnologia, ou determinada tecnologia.

Agora, as empresas que tiverem o melhor modelo de atração e retenção de talentos são as que terão mais sucesso. Não há pessoas suficientes, na América Latina, Europa ou Estados Unidos, com formação ou habilidades suficientes para realizar todos os projetos que temos pela frente nas mais diversas áreas.

Um dos nossos principais pilares na NTT Data é, portanto, ser a empresa que melhor atrai e retém talentos. Esse é o principal desafio das consultorias do setor.

Para os nossos clientes, o maior desafio é o mindset. Um cliente que tem um mindset muito tradicional, muito hierárquico, no qual para tomar uma decisão é preciso passar por diferentes níveis de aprovação, terá dificuldade em um mundo que precisa ser ágil, em que as soluções precisam chegar logo ao mercado.

BNamericas: No geral, qual é o objetivo da NTT Data na América Latina?

Teixeira: Não sei se vamos chegar lá, mas queremos ser uma empresa com uma representatividade muito grande na região, mas visando primeiro o valor.

Se eu puder escolher entre ser a empresa número um, mas com qualidade mediana de entrega e valor, prefiro ser a número cinco e ter qualidade, inovação e bons profissionais.

Dito isso, temos um plano que iniciamos há quatro anos cujo objetivo é tornar a NTT Data líder na área tecnológica na esmagadora maioria dos mercados. Mas sem atalhos.

BNamericas: Em quanto tempo?

Teixeira: Chegar ao primeiro lugar em nível mundial leva mais de 10 anos.

O que temos como meta, agora, é chegar, no mínimo, 2% de participação de mercado em cada país dentro de quatro anos. Não é um crescimento agressivo, é moderado, porque o foco não é crescer e ganhar mercado a baixo custo, com um coeficiente de inovação baixo. O tamanho não é um fim em si, é uma consequência de fazer as coisas bem.

Nosso objetivo global é duplicar nossas receitas em quatro anos.

BNamericas: E qual é a participação de mercado atual na América Latina?

Teixeira: Na região, devemos ficar em torno de 1,4-1,5% em média. Na Europa, devemos estar em 0,2-0,3%.

Temos países na América Latina onde já temos uma participação de mercado muito alta, como o Peru, onde temos mais de 10% do mercado. Em outros, está por volta de 1%.

No geral, queremos ser uma empresa que está entre as cinco primeiras. E as estatísticas mostram que, com 2%, estaremos lá.

BNamericas: Sobre a questão da força de trabalho, como vocês têm lidado com isso, visto que a competição por talentos agora é inclusive internacional?

Teixeira: Em primeiro lugar, estamos trabalhando para manter as pessoas que já temos. Então, se um concorrente fizer uma proposta, que elas prefiram ficar na NTT Data e fazer carreira aqui. Isso também inclui ter um bom ambiente de trabalho e um equilíbrio entre trabalho remoto e vida pessoal.

Quando falamos de recrutamento, dividimos em duas partes: uma é fazer parcerias com universidades e a academia. A outra é reconverter pessoas que são de outras áreas, que não necessariamente têm formação em tecnologia e engenharia, mas que têm interesse e atitude.

A falta de profissionais é enorme. Muitos dos profissionais da América Latina são bons. Mas a verdade é que o poder de compra de muitos países daqui não corresponde ao poder de compra dos EUA, Canadá, Alemanha. E em um mundo de trabalho “sem fronteiras”, há muitos profissionais que acabam trabalhando para mercados e empresas por um salário muito mais competitivo. Temos essa dificuldade.

Mas, em resumo: foco interno, estar junto das universidades e da academia e fazer nosso próprio processo de conversão e treinamento.

BNamericas: Qual é o tamanho da equipe do grupo na América Latina? Estão expandindo essa base?

Teixeira: Neste momento, somando todos os sete países em que operamos no continente – incluindo os Estados Unidos, onde a operação ainda é relativamente pequena –, temos aproximadamente 16 mil pessoas. E, sim, estamos contratando em todas as regiões.

O Brasil tem uma participação entre 25% e 35% do total. Acabamos de abrir duas regiões, dois polos, como chamamos, porque apostamos em um modelo híbrido, em Florianópolis e Recife.

É normal que o Brasil tenha um peso cada vez maior. É um mercado de 210 milhões de pessoas, é uma economia completamente diferente dos outros países e, além disso, vemos o Brasil como uma potência regional em inovação.

Apenas dois exemplos: o mundo das startups e, agora, mais recentemente, o metaverso. Estamos fazendo projetos no formato de metaverso no país.

Esperamos ter autorização dos clientes para comunicar em breve. Mas claramente é uma área em que o Brasil começa a ser pioneiro, e é algo que queremos aproveitar, mais tarde, em outros países.

Hoje, o metaverso ainda está no início. É uma realidade virtual aumentada. Mas em poucos anos será muito mais do que isso. Será um mundo alternativo, imersivo, e as marcas terão de estar lá, os clientes terão de estar lá. Na verdade, as marcas terão de estar onde os clientes estiverem.

Em suma, o Brasil está dando passos importantes para ser líder do metaverso na região. E é uma área em que apostamos aqui.

BNamericas: Mas, além do hype, como o metaverso pode, de fato, se inserir em um processo de transformação digital das empresas?

Teixeira: O metaverso que as pessoas têm na cabeça é aquele em que você coloca um device, um par de óculos, por exemplo, e é transportado para um simulacro real com um personagem virtual próprio. E lá há empresas, escolas, indústrias, etc. Mas esse é um mundo que podemos ter daqui a 10-15 anos. Nós não estamos lá ainda.

O que estamos criando com as empresas é colocar os negócios dentro do metaverso, passo a passo. Uma loja, uma fábrica. Vou dar um exemplo: olhamos para um prédio em construção e podemos imaginar como seria um determinado andar.

Ou podemos colocar óculos e luvas e andar pela representação detalhada desse andar. Ou, em vez de ir ao estádio de futebol, sermos transportados para o campo através das câmeras penduradas lá, acompanhando a ação com os jogadores, da perspectiva dos jogadores.

No momento, estamos criando casos de uso em entretenimento (jogos e esportes), no setor imobiliário, na fabricação de automóveis. Muitas empresas querem ter suas lojas no metaverso, fazer entrevistas de recrutamento no metaverso.

O que estamos criando são pequenos fragmentos, pequenas áreas de submersão, mas onde não temos tudo isso conectado. Em breve tudo isso será muito mais imersivo, inclusive com a possibilidade de sentir cheiros em um mundo virtual.

Do ponto de vista dos negócios, o metaverso reduz riscos para alguns profissionais, custos com viagens, custos com combustível, etc.

BNamericas: Quanto vocês planejam investir esse ano na América Latina?

Teixeira: No geral, não dividimos os números por região. Mas posso adiantar que estamos investindo cada vez mais na América Latina com base nesse nosso projeto global e continental. Estamos falando de muitas dezenas de milhões de dólares.

BNamericas: Na indústria 4.0, vocês têm uma parceria com a Telefónica na Espanha para conectividade 5G no porto de Málaga. Existem projetos semelhantes na América Latina?

Teixeira: Sim, já temos dois ou três exemplos de 5G na região. Estamos trabalhando com o Chile, em parceria com o governo, para projetos nessa área, por exemplo.

E estamos começando a trabalhar em provas de conceito para redes privadas em 5G, mas ainda muito específicas. É o caso de uma rede em um estádio de futebol.

É importante destacar que um dos lemas que estabelecemos para os próximos quatro anos é “NTT Data Americas 5.0”.

É um conceito mais relacionado à sociedade 5.0, ou seja, uma evolução da indústria 4.0, onde o ser humano está no centro. A tecnologia só faz sentido se, além da produtividade industrial, entregar valor para a sociedade em geral.

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