Wireless Broadband Alliance: ‘O Brasil nos desapontou’
O debate sobre a concessão de mais espectro para 4G, 5G e tecnologias de nova geração, como 6G, ou mais espectro para serviços aprimorados de Wi-Fi dominou a Conferência Mundial de Radiocomunicações (WRC), realizada este mês em Dubai.
A cúpula, organizada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), uma agência especializada da ONU, é o fórum global para debates sobre padrões de espectro.
Uma das resoluções propostas pelo Brasil e por outros países e aprovada na reunião recomendou a divisão da disputada faixa de 6 GHz para comunicação móvel e Wi-Fi. Essa decisão não foi bem vista pela indústria de equipamentos de Wi-Fi ou provedores de internet fixa.
Em 2021, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) autorizou a destinação de toda a capacidade de 1.200 MHz da faixa para serviços não licenciados de Wi-Fi, sem necessidade de licitação.
Nesta entrevista, Tiago Rodrigues, CEO do grupo global da indústria do Wi-Fi Wireless Broadband Alliance (WBA) e ex-executivo da Portugal Telecom, fala sobre a disputa por espectro e o desenvolvimento da indústria.
BNamericas: Qual é sua avaliação da WRC-23?
Rodrigues: Falando especificamente da agenda 1.2, que era o tópico relativo à banda de 6 Ghz, eu penso que houve uma decisão de compromisso.
O que quero dizer com isso? A indústria de telecom estava um pouco dividida: entre o mundo celular, que queria pelo menos uma parte da banda, e os segmentos de Wi-Fi e dos provedores de internet, que queriam toda a banda.
Houve um compromisso e foi aceito que parte da banda fosse usada para as tecnologias celulares e outra parte para uso não licenciado (Wi-Fi).
Ao mesmo tempo, houve uma resolução que, para mim, foi muito importante e que passa por dois temas. Foi decidido que outras bandas podem ser utilizadas pela indústria celular, que são a banda de 4 GHz e a de 7 GHz. E também que, nos 6 GHz, ou é tudo para uso não licenciado, ou a banda será dividida em duas, sendo uma parte para comunicações celulares e outra para Wi-Fi.
BNamericas: Ou seja, a indústria celular não leva toda a banda.
Rodrigues: Exatamente. Além do mais, é importante termos esse tópico definido. Não vamos perder mais tempo discutindo o tema, e isso é bastante significativo para os investimentos e para o desenvolvimento da indústria.
Com relação às bandas de 4 GHz e 7 GHz para o celular, isso é importante porque um dos principais argumentos das operadoras celulares era o de que já não havia mais tanto espectro disponível e, portanto, a banda de 6 GHz era extremamente importante para o setor.
A partir do momento em que, na WRC, são abertas novas portas para a expansão do espectro celular, a faixa de 6 Ghz deixa de ser tão relevante. Essa também é uma pequena vitória. Nos próximos cinco a dez anos, o mundo celular poderá se expandir para outras bandas além da de 6 GHz.
BNamericas: Quais são as perspectivas para a indústria agora?
Rodrigues: Minha previsão é que começaremos a ver um conjunto de países que, de alguma forma, estavam em stand-by para decidir o que fazer com a banda de 6 GHz tomando decisões de alocação desse espectro e promovendo o desenvolvimento do segmento.
Acredito que eles seguirão as diretrizes da WRC, ou dando a banda toda para o Wi-Fi ou dando metade para o Wi-Fi e reservando a outra metade para comunicações celulares.
BNamericas: No Brasil, a proposta da Anatel para os 6 GHz é reservar 700 MHz para celular e 500 MHz para uso não licenciado...
Rodrigues: O Brasil nos desapontou, andou para trás. É uma pena. Eu gostaria que o país tivesse seguido sua orientação inicial e dado toda a banda para uso não licenciado.
O Brasil é um país muito grande, ainda tem problemas crônicos de conectividade, principalmente em zonas remotas e rurais, muitas vezes com uma população com poder aquisitivo muito baixo. O Wi-Fi é sem dúvida a tecnologia mais acessível e mais universal que essas pessoas podem ter em termos de conectividade.
BNamericas: Mas as estatísticas mostram que a maior parte dos domicílios brasileiros acessa a internet exclusivamente pelo celular.
Rodrigues: É verdade. No entanto, muitas vezes, se eu quiser compartilhar a conectividade dentro de uma família, até posso fazê-lo pelo 4G, mas ainda vou precisar do Wi-Fi para fazer essa irradiação. Eu mesmo muitas vezes transformo meu próprio celular em um hotspot para conectar dois ou três laptops.
Assim, mesmo não tendo o Wi-Fi com fibra ou alguma conectividade fixa, ele continua sendo relevante para a partilha da conexão celular entre diferentes usuários.
BNamericas: Considerando as maiores economias da América Latina, as decisões dos reguladores locais com relação à banda de 6 GHz não têm sido muito favoráveis para o setor. Além do Brasil, que está voltando atrás na decisão de dar toda a banda para Wi-Fi, o Chile também recuou e o México optou por alocar metade da banda para Wi-Fi.
Rodrigues: Vou compartilhar uma opinião mais pessoal do que da WBA. Acho que muitos desses governos quiseram encontrar uma solução de compromisso e acabaram por dividir a banda diante de muitas pressões, muito lobby de ambas as partes. Não deixaram nenhuma delas totalmente satisfeita, mas deram algo para ambas.
Agora, no longo prazo, ter um mundo dividido entre diferentes países, com diferentes capacidades para o segmento não licenciado, terá uma diferença. Haverá um impacto de escala para o setor e também no nível de serviços que poderão ser disponibilizados com alta largura de banda para cobertura Wi-Fi em determinados locais, como aeroportos e estádios. Ou seja, alguns países terão Wi-Fi nesses lugares com melhor qualidade do que outros.
BNamericas: Fala-se, na Anatel, que a liberação de toda a banda de 6 Ghz para Wi-Fi em 2021 não trouxe os investimentos, os novos equipamentos e o desenvolvimento de novas tecnologias que eram esperados, como o Wi-FI 6E. Na verdade, esse pode ter sido um dos motivos para a agência ter revertido sua decisão. Como você avalia isso?
Rodrigues: O que posso dizer é que, nos países que disponibilizaram toda a banda para uso não licenciado, como os Estados Unidos, há uma aceleração do Wi-Fi 6E e até do 7.
Seria importante fazer uma análise mais detalhada do motivo pelo qual isso não aconteceu no Brasil, seja por questões de poder de compra, limitações tecnológicas ou incapacidade dos fabricantes locais de lançar esses novos equipamentos...
A indústria do Wi-Fi foi muito inovadora e, mesmo antes da decisão da WRC-23, já existiam muitos produtos disponíveis no mercado com capacidade para 6 GHz, enquanto o mundo celular não tinha nada. O mundo celular nem sabe quais serviços utilizar nesta banda. Ainda é um espectro para o futuro.
BNamericas: Quais são as apostas para o Wi-Fi 7?
Rodrigues: O Wi-Fi como um todo tem acelerado muito a inovação. O ponto negativo disso, de certa forma, é que há muita pressão sobre os fabricantes para que atualizem os novos padrões. Por outro lado, há muitos benefícios.
O WiFi-7 vai trazer uma característica muito importante, que é a multi-link operation. Em outras palavras, vai permitir que eu use canais das diferentes bandas do espectro – 2,4 GHz, 5 GHz e 6 GHz – ao mesmo tempo para enviar os pacotes de dados.
Fazendo uma analogia entre Wi-Fi e estradas, às vezes você entra em uma faixa e não consegue sair dela. Com o Wi-Fi 7, vamos imaginar uma estrada com várias faixas de rodagem, na qual você pode ir passando de uma para outra conforme o trânsito. Vai ser muito mais eficaz.
BNamericas: Como foi o ano de 2023 para a indústria e quais são as projeções para 2024?
Rodrigues: Eu diria que 2023 foi um ano excelente, e vem em uma tendência crescente do Wi-Fi, que depois da pandemia passou por um boom de vendas incrível.
Do ponto de vista empresarial, vimos alguns setores investindo muito em Wi-Fi nos últimos anos, como o turismo e a hotelaria.
Acho que toda essa resolução de padrões, do Wi-Fi 5 para o 6 e o 6E, também acelerou bastante o mercado.
Não fazemos projeções de números, mas, para 2024, toda a questão dos 6 Ghz e do Wi-Fi 7 vai criar um grande dinamismo no mercado. As vendas e o crescimento do tráfego continuarão e também vemos grandes oportunidades para a inteligência artificial desempenhar um papel cada vez mais importante na otimização da cobertura de Wi-Fi, interna e externa, e na configuração da rede.
Outros dois temas muito importantes, sobretudo para o varejo, são segurança e privacidade, principalmente para locais públicos como shoppings, aeroportos e hotéis.
BNamericas: O pico de gastos com Wi-Fi já não passou com a pandemia?
Rodrigues: O que eu tenho ouvido dos fabricantes é que a procura não tem abrandado.
E eu diria que as operadoras também têm um papel muito importante como canais de venda [de roteadores] e implementação de tecnologias avançadas. No fim das contas, isso impacta a percepção da qualidade dos serviços prestados por elas.
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