Altos funcionários detidos no Equador em investigação de corrupção e tráfico de drogas

A grande penetração das organizações do narcotráfico no Equador ficou parcialmente evidente nesta quinta-feira (14), após uma série de operações em todo o país lideradas pela procuradora-geral, Diana Salazar.

As equipes formadas por policiais e funcionários da Procuradoria-Geral realizaram mais de 75 operações em 7 províncias do país, incluindo a Corte Nacional de Justiça, na capital Quito.

A operação, chamada Metástase, levou à prisão cerca de 30 pessoas e foi descrita pela Procuradoria-Geral como a maior já realizada no Equador para combater a corrupção e o tráfico de drogas. 

“O caso Metástase é um claro raio-x de como o tráfico de drogas tomou conta das instituições estatais, operando através de fundos ilícitos nas esferas judicial e política para alcançar a impunidade em alguns casos”, afirmou o procuradora em uma rede social.

Entre os detidos está Wilman Terán, ex-juiz da Corte Nacional de Justiça e atual presidente do Conselho Judiciário do país. Há também Pablo Ramírez, que foi diretor do sistema penitenciário nacional e posteriormente diretor da unidade antinarcóticos da polícia do Equador. Vários procuradores, juízes e membros da Gendarmaria e da Polícia também foram detidos. As acusações serão apresentadas nas próximas horas.

O Conselho Judiciário é responsável pela nomeação de juízes para a Corte Nacional e para os tribunais provinciais e tem o poder de sancionar, suspender e demitir juízes e procuradores, exercendo assim grande influência no sistema jurídico equatoriano.

A investigação, que se concentrou em funcionários públicos, advogados e gangues criminosas, começou após o assassinato do traficante de drogas Leandro Norero, em outubro de 2022, na prisão de Latacunga, junto com outros 15 presos. O ato foi descrito pelas autoridades como violência entre gangues. Ele estava sob custódia por acusações de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro e era suspeito de ter ligações com o cartel mexicano Jalisco Nueva Generación.

O coronel Mario Pazmiño, consultor internacional de segurança e defesa e ex-diretor de Inteligência do Equador, disse à BNamericas que a operação da Procuradoria-Geral demonstra o nível de penetração do crime organizado na estrutura do Estado.

Segundo Pazmiño, o crime organizado se infiltrou em cinco níveis do país: juízes e promotores; a esfera governamental, através de campanhas políticas que buscam levar funcionários ao poder para lavagem de dinheiro; controle de organizações, como a polícia, as forças armadas, as alfândegas e outras agências de segurança; o sistema financeiro e espaços territoriais conhecidos como “santuários”.

Esses “santuários” começaram a ser configurados há cerca de 3 anos para funcionarem como refúgios ou bases de operações do crime organizado, pois permitem praticar crimes com um certo grau de autonomia e controle.

“No país, ultrapassamos os 100 e só em Guayaquil existem 52 santuários criminais”, diz Pazmiño.

Entretanto, a procuradora-geral Salazar destacou que a narcopolítica já é uma realidade no Equador e alertou que poderá haver uma escalada de violência após a operação. Foram realizadas conversas com o poder executivo para garantir que o país esteja preparado em caso de retaliação ou outras ações de grupos criminosos.

Segundo Pazmiño, para evitar maiores riscos e impunidade, é fundamental que o país considere a nomeação de procuradores anônimos que se desloquem para outros países a fim de conduzirem os respetivos processos judiciais.

Localizado entre os dois principais produtores de cocaína do mundo, Peru e Colômbia, e devido à sua proximidade com grandes centros de consumo, os Estados Unidos e o Brasil, o Equador tornou-se um importante centro para o tráfico de drogas, levando ao aumento de crimes violentos e insegurança.