As implicações políticas e econômicas dos problemas de saúde de Lula

Enquanto o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva permanece hospitalizado após uma cirurgia de emergência para curar uma hemorragia cerebral, o ritmo das negociações sobre os cortes de gastos provavelmente desacelerará.

Lula passou por uma cirurgia em 10 de dezembro para tratar complicações resultantes de uma queda que sofreu em sua casa em outubro. Segundo os médicos, sangramento cerebral não é incomum nestes casos, e Lula permanecerá internado até a próxima semana.

A hospitalização ocorre em meio a negociações entre o governo e representantes do Congresso para definir os cortes de gastos para o próximo ano, considerados essenciais para controlar o aumento da dívida e as pressões inflacionárias.

“No curto prazo, a internação de Lula aumentará a dificuldade das negociações do governo com o Congresso em relação às questões orçamentárias para o controle fiscal. No fim das contas, sempre que há discordâncias entre o governo e o Congresso, é Lula quem arbitra a resolução. Com ele no hospital, isso provavelmente tornará o processo mais difícil, causando um atraso na definição de uma decisão”, disse à BNamericas Mário Sérgio Lima, analista da Medley Global Advisors.

O governo tem enfrentado pressão crescente dos investidores devido ao aumento dos gastos públicos, o que gerou pressões inflacionárias e deve levar o Banco Central a aumentar ainda mais a Selic, afetando o desempenho econômico.

Os problemas de saúde também podem afetar a candidatura de Lula à reeleição em outubro de 2026.

“Poderemos ver no Brasil, na próxima eleição presidencial, um cenário muito semelhante ao que aconteceu nas eleições deste ano nos Estados Unidos, quando a saúde e a idade do presidente Joe Biden se tornaram o centro do debate político”, comentou André Pereira César, analista político da Hold Consultoria.

“Em 2026, as pessoas, especialmente os eleitores que não são fortemente alinhados com os candidatos de esquerda ou de direita, poderão começar a questionar se Lula terá realmente a capacidade, não apenas de enfrentar a campanha eleitoral de 2026, mas também de governar por mais quatro anos – lembrando que, na próxima eleição, ele estará com mais de 80 anos”

Contudo, nem mesmo Lula, considerado um dos líderes políticos mais carismáticos da história do país, escapa da polarização, que se reflete em seus atuais índices de aprovação.

Em pesquisa com quase 8.598 pessoas realizada pelo instituto Quaest entre 4 e 9 de dezembro, 33% dos entrevistados classificaram o governo Lula como bom ou excelente, 34% como regular e 31% como ruim ou péssimo, em comparação com 32%, 31% e 33%, respectivamente, em outubro.