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As lições da Chile Energy Transition 2024 Summit

Bnamericas

Players chilenos e de outros lugares se reuniram na capital Santiago esta semana para o evento Chile Energy Transition 2024 Summit, cujos debates visam explorar a transição energética, abrangendo áreas como energias renováveis, eletromobilidade, armazenamento, mineração e licenciamento.

O licenciamento foi um tópico transversal, dada a complexidade e incerteza do processo no Chile, que está trabalhando para implementar melhorias por meio de dois projetos de lei no Congresso. Um tem como alvo o sistema de licenciamento ambiental, enquanto o outro as licenças setoriais.

A seguir, a BNamericas analisa algumas das conclusões dos painéis sobre mineração e energias renováveis.

ELEIÇÕES NOS EUA

Durante o evento, organizado pela empresa de consultoria britânica de energia IN-VR, destacou-se que a eleição de Donald Trump como o próximo presidente dos EUA foi o “elefante na sala”.

Os palestrantes explicaram que o novo presidente norte-americano, um negacionista das mudanças climáticas e defensor da indústria de combustíveis fósseis, terá uma influência significativa no “ritmo e na forma” da transição energética global. Durante seu primeiro mandato, de 2017 a 2021, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris e enfatizou a independência energética por meio do aumento da produção de petróleo e gás.

O governo de Joe Biden sancionou o Inflation Reduction Act, um pilar do qual direciona novos gastos do governo para a redução de emissões de carbono. Os beneficiários incluem investidores da cadeia de suprimentos de hidrogênio limpo, que podem solicitar incentivos fiscais.

LICENCIAMENTO

Refletindo e sintetizando o sentimento sentido na comunidade de investimentos local, François Lovens, membro da Câmara Internacional do Lítio, revelou que o licenciamento foi um “enorme” obstáculo ao desenvolvimento de projetos no Chile.

O executivo acrescentou que maior inovação e produtividade também eram vitais, especialmente para estimular o desenvolvimento do país.

Visando reduzir a incerteza, as autoridades deveriam considerar a criação de uma janela de tempo para a apresentação de contestações, em um contexto em que os projetos podem ser interrompidos mesmo depois que uma licença é enfim emitida e já começaram os trabalhos.

Ter recursos minerais abundantes por si só não é suficiente para a região. Condições favoráveis são vitais para garantir que os países os monetizem de forma eficiente e oportuna. Os palestrantes também argumentaram que o Chile não está sozinho em enfrentar desafios sobre licenciamento.

AUMENTANDO A DEMANDA

Para se livrar dos hidrocarbonetos importados que queimam dinheiro, reduzir emissões e estimular investimentos em infraestrutura de energia, o Chile precisa impulsionar a eletrificação.

Hoje, a eletricidade responde por cerca de 22% da matriz energética do país. O grande desafio é fazer isso crescer, com o aumento da eletrificação da indústria de mineração sendo uma oportunidade-chave, conforme explicou Ana Lía Rojas, diretora-executiva da Associação Chilena de Energias Renováveis e Armazenamento (Acera).

A indústria e a mineração respondem por cerca de 60% do consumo de eletricidade no Chile. A demanda da mineração é o que “move a agulha”, disse Rojas.

Para Marcelo Rivas, diretor de engenharia e construção da geradora Innergex, menores teores de minério de cobre podem ajudar a estimular a demanda por eletricidade, já que maiores volumes de energia seriam necessários para o processamento.

No ano passado, 66,6% do consumo de eletricidade do setor veio de fontes limpas e o número deve subir para 78,1% até 2026, de acordo com um relatório da Comissão Chilena do Cobre (Cochilco). A política chilena de mineração projeta que 96% da energia elétrica usada no setor virá de fontes renováveis até 2050.

Em termos de eletrificação, o espaço é visto nas esferas de veículos e máquinas de mineração, onde a eletrificação está em andamento. Hidrogênio verde e outros combustíveis sustentáveis, como éter dimetil, também são cogitados.

O crescimento da demanda no segmento regulamentado, que abrange residências e PMEs, é moderado, mas um aumento na eletromobilidade pode melhorar as perspectivas.

A Comissão Nacional de Energia (CNE), em relatório de leilão de fornecimento, estima um crescimento médio anual da demanda de 2,8% até 2044.

A demanda de datacenters também é vista como importante, mas não na escala da mineração. Espera-se que os datacenters adicionem cerca de 1 TWh/ano à demanda atual de cerca de 77,3 TWh/ano.

“O crescimento e a eletrificação na mineração – cobre e lítio em particular – são uma prioridade, e há outras opções importantes, como servidores/IA e até mesmo mineração de bitcoin, entre outros novos negócios”, afirmou à BNamericas Patricia Dárez, diretora administrativa da 350renewables, consultoria de engenharia focada na América Latina.

Outra é manter a energia limpa fluindo quando o sol se põe, especialmente considerando que os consumidores industriais estão exigindo energia verde 24 horas por dia, 7 dias por semana.

“Ainda precisamos descarbonizar a noite”, disse Rojas, acrescentando que os serviços complementares também precisam ser descarbonizados.

Como parte do trabalho de base para dar suporte à maior penetração de energias renováveis não convencionais e à aposentadoria de termelétricas, as autoridades reguladoras estão trabalhando em padrões associados à tecnologia de formação de rede, uma técnica de controle que permite que usinas solares fotovoltaicas e eólicas atuem como geradores síncronos tradicionais.

LEILÕES

Um desafio associado é reacender o interesse em leilões de fornecimento regulamentado, segundo Rojas.

O último leilão de fornecimento recebeu interesse morno e um único ganhador – a Enel Chile – se ofereceu para cobrir a demanda com ativos de geração existentes.

A CNE havia ajustado as regras de licitação para atrair geradores, como repassar custos sistêmicos para consumidores e oferecer incentivos para armazenamento. Além disso, contratos eram oferecidos com base na localização geográfica.

Há riscos quanto aos leilões de fornecimento regulado. Entre eles estão os cortes (curtailment), os quais vem aumentando rapidamente, respondendo por cerca de 15% da produção de renováveis, flexibilidade limitada da rede e a potencial redução da barreira para o mercado não regulado.

Outros riscos interligados são o congestionamento da transmissão em algumas partes da rede, custos marginais zero para várias horas do dia e a dissociação de preços – um risco particularmente importante para geradores de energia renovável pura no norte, com contratos de fornecimento correspondentes a compradores mais ao sul.

A incerteza regulatória observada nos últimos anos, decorrente dos mecanismos de estabilização de preços que impactam as finanças dos geradores, também é um fator potencial.

ARMAZENAMENTO

A expansão do armazenamento de energia no Chile ajudará, em parte, a combater o curtailment.

O país precisa dos sistemas de armazenamento mais baratos e eficientes, na opinião de Rojas. O Chile está aumentando sua capacidade de armazenamento e está a caminho de ter 2 GW de capacidade operando ou em construção em 2026.

A crescente penetração e redução de energias renováveis, juntamente com diferenças favoráveis entre os preços de energia diurna e noturna, aumentaram o interesse em aplicações relacionadas à mudança de energia.

O escopo também é cogitado para o uso do sistema de armazenamento de energia no mercado de serviços auxiliares, visando manter a rede estável à medida que o país gradualmente fecha ou converte termelétricas a carvão. O uso no sistema de transmissão também é tido como um impulsionador da demanda.

Sobre as perspectivas para o armazenamento no Chile, onde o setor aguarda a coordenação e as regulamentações operacionais, previstas para o final do ano, Vicente Walker, gerente de desenvolvimento de negócios para a América Latina da empresa chinesa de armazenamento Trina Solar, disse à BNamericas que “hoje, vemos que os novos projetos de armazenamento estão focados no mercado de serviços públicos, seja em novos projetos solares fotovoltaicos com BESS ou na hibridização de projetos fotovoltaicos que hoje estão enfrentando problemas de restrição.”

“Para 2025, vemos que os primeiros projetos autônomos de larga escala começarão a ser construídos, onde o projeto BESS Arena da [gestora de fundos dinamarquesa Copenhagen Infrastructure Partners, ou] CIP se destaca. Para 2025, prevê-se que 6 GWh de novos projetos no Chile começarão suas operações comerciais”, acrescentou.

O banco de dados de projetos da BNamericas contém US$ 13,6 bilhões em chilenos de armazenamento de energia na fase de revisão ambiental no Chile.

O número – baseado em pesquisa realizada em meados de outubro – corresponde tanto a sistemas autônomos quanto a projetos híbridos de armazenamento de energia renovável, para um total de cerca de 60.

LEIA TAMBÉM: Os projetos chilenos de armazenamento de energia em fase de revisão ambiental

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