Bancos no Chile e na Argentina preparam seus dados para a IA

Os bancos no Chile e na Argentina estão criando repositórios de dados na nuvem como um primeiro passo para maximizar os benefícios da inteligência artificial.

“Temos cerca de 2 petabytes de dados [nos repositórios] e estamos aproveitando isso em tudo aquilo que está relacionado com segmentação de clientes, geração de ofertas, comportamento do usuário para determinar preferência de canais e diversos outros temas”, disse à BNamericas Rodrigo Montaner, diretor de dados do BancoEstado, do Chile, durante um evento sobre a transformação da indústria financeira organizado pela AWS em Buenos Aires.

O banco contava com cerca de 60 unidades em seus processos internos para gestão de dados, que agora estão centralizadas no repositório de dados na nuvem.

“Temos trabalhado intensamente para ter um registro corporativo da existência de dados. Mais do que saber que existem dados, queremos levá-los para a nuvem para que sejam consumidos no data lake como única fonte de dados”, acrescentou.

Segundo Montaner, o repositório de dados já contém entre 70% e 80% das informações do banco. O BancoEstado concluiu 95% do registro de dados existente da organização e está adquirindo um serviço da AWS para treinamento e suporte.

“Vamos acelerar essa migração com treinamento formal e acompanhamento [dos usuários internos desses dados]”, acrescentou Montaner.

A subsidiária argentina do Banco Santander também trabalhou com a AWS no ecossistema de dados e considera a mudança cultural o maior desafio.

Fernando Turri, diretor de tecnologia e operações da unidade argentina, contou à BNamericas que o banco está “culturalmente longe de onde precisa estar” no que diz respeito ao uso de dados pela organização.

“Estamos caminhando para um mundo mais federado e com uso democrático de dados. Acreditamos que nosso CDO [chief data officer] garante os melhores modelos e tecnologias, mas que essa cultura também permeia as áreas de negócios. Há um trabalho muito grande de requalificação de pessoas e líderes de áreas”, explicou Turri.

O Santander Argentina é um dos centros globais do Grupo Santander em questões tecnológicas e considerado um exemplo para sua estratégia de dados.

“Deixamos tecnologias antigas e conseguimos migrar toda a tecnologia de dados para a AWS, que era o que precisávamos tecnologicamente para nos tornarmos uma empresa data-driven”, destacou o executivo.

O banco foi pioneiro na migração para a nuvem e deixou para trás tecnologias antigas que ainda são utilizadas em outras subsidiárias do grupo financeiro espanhol. Segundo Turri, a operação argentina serve como piloto para outros desenvolvimentos tecnológicos em nível global.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Montaner explicou que o BancoEstado já conta com o desenvolvimento de machine learning para modelos de detecção de fraudes, com nove modelos em operação, e acaba de lançar outro que prevê a degradação dos serviços.

“Desenvolvemos um modelo que permite que as equipes de produção recebam alertas antecipados de degradação. Fizemos um exercício com eventos anteriores e estamos conseguindo prever uma possível degradação dos serviços em três minutos”, acrescentou.

O banco também possui modelos para questões de auditoria e gestão de sinistros. “Há uma nova lei no Chile que exige que o sinistro seja pago no prazo de cinco dias. Estamos lançando, também, um modelo de recomendação de pagamento ou não pagamento baseado em uma série de regras que antes eram feitas manualmente e hoje são quase 100% automatizadas”, disse.

Além disso, o banco está dando os primeiros passos na área de inteligência artificial generativa. Montaner destacou que estão trabalhando em um piloto para melhorar as glosas, descrições do consumo nos resumos das contas, aproveitando a inteligência artificial generativa.

“Os negócios digitais geram glosas que ninguém entende, e isso nos causa um problema, porque o banco recebe muitas reclamações. Então, queremos usar IA para ver se conseguimos melhorar isso”, explicou.

O banco já criou um algoritmo que tenta melhorar as glosas, embora neste momento seja uma iniciativa “mais artesanal”, utilizada para conter as reclamações no momento em que o usuário liga para o banco, disse o executivo.

“Na inteligência generativa, estamos no processo de investigar vários serviços e até mesmo vários fornecedores. Nosso desafio no primeiro semestre é tentar ter algo em funcionamento”, pontuou Montaner.

O chileno BancoEstado está trabalhando com os três principais provedores de nuvem em temas de IA.

O Santander também tem vários pilotos de IA, embora, por questões de confidencialidade, tenha preferido não dar detalhes. Turri afirmou que a IA ajudará em três questões: produtividade dos engenheiros no desenvolvimento, modelos de atendimento personalizados para o cliente final e produtividade dos colaboradores internos.

“Vamos ter uma visão de como adotar a tecnologia de inteligência artificial em nível global, porque consideramos a questão da segurança muito importante”, acrescentou.

A empresa realizará em novembro um workshop em Madrid sobre temas de IA.