CAF e Olade firmam parceria para impulsionar a integração de gás na América do Sul

O Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e a Organização Latino-Americana de Energia (Olade) querem impulsionar a integração energética na América do Sul por meio da otimização e expansão da infraestrutura de transporte de gás natural.

A América do Sul abriga produtores de gás natural, mas também depende da importação do combustível para abastecer distribuidores, o setor industrial e usinas de energia a gás, que desempenham um papel importante no apoio à maior penetração de energias renováveis de produção variável.

Para dar início a esse processo, o CAF e a Olade lançaram um projeto de cinco fases, que começa com uma revisão e consolidação dos estudos disponíveis, seguidos por projeções de oferta e demanda.

Um resultado importante será a criação de propostas de projetos, que podem incluir obras como novos gasodutos transfronteiriços e sistemas de compressão.

Os países-alvo são os membros do bloco Mercosul, além da Bolívia e do Chile. O Mercosul é composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A Venezuela está suspensa, e a Bolívia, que é associada, está em processo de se tornar membro pleno. O Chile, por sua vez, é um estado associado ao bloco.

A iniciativa ocorre em um momento de transformação no cenário de produção de hidrocarbonetos da América do Sul, com a Argentina e o Brasil ganhando destaque, enquanto a produção da Bolívia, um tradicional exportador regional, está em declínio.

O CAF foi responsável pelo financiamento do projeto de reversão de fluxo Gasoduto Norte da Argentina, no valor de US$ 740 milhões, projetado para permitir o transporte de gás de Vaca Muerta  para o norte, suprindo a demanda interna e impulsionando as exportações.

O secretário-executivo da Olade, Andrés Rebolledo, ex-ministro da Energia do Chile e ex-presidente da empresa estatal de petróleo Enap, destacou à BNamericas a importância de avaliar com precisão a oferta e a demanda.

O “fundamental aqui”, disse Rebolledo, “é destacar claramente a demanda, onde estão as necessidades e, provavelmente, a partir disso, surgirão necessidades para a interconexão entre os países”.

“Isso requer infraestrutura e quadros regulatórios que apoiem seu desenvolvimento. Também é necessário um fornecimento firme para atender a essa demanda.”

O trabalho está previsto para durar até um ano. As outras três fases do projeto, enquadradas pela Olade e pelo CAF como uma iniciativa para apoiar uma transição energética justa e sustentável, são a otimização da infraestrutura e a preparação dos perfis dos projetos.

“O que temos aqui é basicamente uma oportunidade. Este estudo é projetado para sistematizar as coisas e, depois disso, um desafio será implementar esse investimento”, disse Rebolledo.

Segundo um comunicado da Olade ao anunciar a iniciativa, o trabalho também será realizado em cenários de convergência regulatória, “que permitam o planejamento estratégico adaptado às necessidades energéticas e econômicas de cada país, superando barreiras históricas e avançando em direção a uma integração mais equitativa e inclusiva, permitindo que todos os países da região se beneficiem de uma rede de energia eficiente e segura”. 

No Chile, por exemplo, cerca de 16% do gás consumido é produzido localmente, em Magalhães. Cerca de 42% é importado da Argentina e 42% de outras fontes, na forma de GNL. O combustível responde por cerca de 17% da matriz energética primária, com cerca de 47% destinado à geração de energia, 40% à indústria e 13% ao setor residencial, de acordo com um estudo de 2023 produzido pela consultoria local energiE.

O Chile, que pretende desativar ou converter suas usinas de energia a carvão até 2040, no mais tardar, como parte de seu esforço para atingir neutralidade de carbono até 2050, também está de olho em oportunidades para reduzir as emissões por meio do uso de hidrogênio verde e seus derivados.

Um estudo local determinou que serão necessários investimentos na frota de usinas elétricas a gás do Chile, muitas delas mais antigas que as unidades a carvão que estão sendo desativadas.

A BNamericas publicará a entrevista completa com Rebolledo nos próximos dias.