Com consultas indígenas, Chile promove estratégia para o lítio

O Ministério de Mineração do Chile iniciou consultas indígenas em três dos primeiros salares priorizados para o setor privado, uma etapa considerada fundamental na estratégia nacional para o lítio.

Uma vez concluídos os diálogos, o governo lançará concursos e outorgará contratos especiais de operação de lítio (conhecidos como CEOLs) entre julho e agosto de 2025.

“Até setembro, a estratégia estará totalmente implementada”, afirmou o vice-presidente executivo da agência estatal Corfo, José Miguel Benavente, durante um seminário organizado na terça-feira (5) pela Universidade Católica.

Benavente acrescentou que o objetivo é aumentar em 1,5 vezes a atual produção nacional de lítio até 2030.

No ano passado, o Chile produziu 271 mil toneladas de carbonato de lítio equivalente e permaneceu como o segundo maior produtor do mundo, atrás da Austrália.

Os diálogos com as comunidades começarão nos salares de Ascotán e Ollagüe, na região de Antofagasta; e o Salar de Coipasa, na região de Tarapacá, segundo comunicado do governo.

Enquanto isso, os processos para as demais salares que são oferecidas a empresas privadas e consórcios, como Laguna Verde e os salares Piedra Parada e Agua Amarga, na região do Atacama, serão realizados após as atuais consultas indígenas que estão sendo realizadas para entregar os CEOLs dos projetos Salares Altoandinos e Maricunga, sob controle das estatais Enami e Codelco, respectivamente.

Os interessados em solicitar um CEOL para desenvolver projetos de pesquisa ou exploração podem fazê-lo até 31 de dezembro, desde que tenham o equivalente ou mais de 80% das concessões minerárias num polígono de salares e comprovem experiência em alguma fase da cadeia de valor do lítio e capacidade financeira.

Segundo Benavente, tais critérios foram definidos como uma fórmula “fast track” para acelerar a estratégia. O objetivo seria estruturá-la antes do fim do governo de Gabriel Boric, em março de 2026.

Apesar do baixo preço do lítio, que pode desencorajar algumas empresas de investir neste nicho, nem tudo está perdido e o executivo revelou diversas vantagens no cenário local.

OPORTUNIDADES

O novo CEOL terá condições semelhantes aos contratos das produtoras SQM e Albemarle no Salar do Atacama, incluindo a cláusula que busca gerar valor agregado por meio da entrega de 25% do lítio de um Salar a um produtor especializado.

Uma linha semelhante aos acordos que existem com as chinesas BYD e Tsingshan, cujas empresas terão acesso a um preço preferencial pelo lítio produzido pela SQM, em troca da construção de fábricas de material catódico e do fornecimento de royalties e empregos locais ao país.

Nesses casos, a Corfo decidiu separar a cláusula em duas parcelas de 12,5% para cada.

Por outro lado, Benavente destacou que outro objetivo da estratégia do lítio será implementar uma indústria de reciclagem de baterias e a fabricação de baterias estacionárias para energias renováveis, bem como se tornar um centro de refino do lítio argentino.

Além disso, destacou que nas salmouras há outros tipos de minerais, como boro, magnésio, potássio e zinco, os quais podem representar novas oportunidades de negócios.

Um verdadeiro desafio nacional será converter essas definições em “uma política estatal de longo prazo, e não como algo específico para este governo”, afirmou à BNamericas em conversa recente Jose Hofer, especialista em baterias de íons de lítio e sócio da consultoria britânica SC-Insights.