Com players chineses chegando à América Latina, cresce a concorrência nos satélites
A competição no segmento de conectividade via satélite de baixa órbita (na sigla em inglês, LEO), que oferece latências mais baixas e tempos de resposta mais curtos, deve disparar na América Latina com a entrada de empresas chinesas.
Uma delas é a SpaceSail, que planeja lançar nos próximos dois anos seu serviço de internet no Brasil, por meio de uma constelação de satélites LEO.
Esta semana, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, visitou a fábrica da empresa em Xangai para discutir parcerias e investimentos. A visita faz parte de uma série de reuniões que a delegação ministerial vem realizando desde a semana passada, buscando abrir “oportunidades comerciais e buscar investimento de companhias chinesas no Brasil, parcerias comerciais e tecnológicas”, segundo nota do ministério.
“[Os players chineses] stão com uma capacidade de produção de um satélite por dia e uma velocidade de lançamento para que, em breve, estejam servindo o Brasil. Então, saímos daqui impressionados com o que vimos, não só com a capacidade de produção de satélites, mas com o plano que eles têm de expansão e crescimento no espaço para servir vários países, inclusive o nosso país”, declarou o ministro.
Os satélites são um dos principais focos da visita, que incluiu o presidente da estatal Telebras, Frederico de Siqueira Filho. A Telebras opera o satélite de órbita geoestacionária SGDC – seu próprio satélite estratégico de comunicações e defesa – e tem uma parceria com a norte-americana Viasat.
Durante a viagem à China, o ministro também visitou as sedes da Huawei, assim como de HiteVision, BYD, ZTE e Oppo.
De olho na Starlink e outras, a SpaceSail lançou em 16 de outubro o segundo lote de sua constelação de primeira geração, compreendendo 18 satélites. O primeiro lote foi enviado ao espaço em 6 de agosto.
Outras empresas chinesas que poderiam operar na América Latina são a Geespace e a Hongqing.
A Geespace é apoiada pela montadora chinesa Geely e em agosto lançou um terceiro lote de satélites LEO como parte de seu plano para formar uma megaconstelação, enquanto a empresa privada Hongqing Technology solicitou em abril à UIT vagas para 10 mil satélites LEO.
Anteriormente, também foi relatado que a estatal China Satellite Network pretende lançar nos próximos anos até 26 mil satélites LEO com foco em conectividade à internet.
RIVALIDADE ENTRE EUA E CHINA
Regiões emergentes com vastas faixas de áreas remotas exigindo conectividade via satélite, como a América Latina, podem em breve se tornar um novo campo de batalha para a rivalidade entre EUA e China.
Além da Starlink, que lidera os acessos via satélite no Brasil e no Chile e cresce rapidamente em outros países, a Kuiper, da Amazon, prepara sua entrada no mercado. A empresa tem acelerado os preparativos para obter licenças e autorizações, visando iniciar em 2025, em parceria com a Vrio, as operações de satélites LEO em sete mercados latino-americanos, enquanto prepara o lançamento de sua frota de satélites de órbita baixa.
A previsão é que a frota seja lançada até o final deste ano, com o cronograma originalmente antecipado de 2025.
“Temos feito diversos avanços para instalar os gateways [estações em terra]. Precisamos instalar dezenas de gateways nos países da América Latina. Em alguns, já temos gateways instalados, em outros, temos sites reservados. Não estamos divulgando números – quantos sites, quantos gateways, em quais países –, mas posso dizer que temos feito bastante progresso nesse sentido”, revelou à BNamericas em julho Bruno Henriques, diretor de desenvolvimento de negócios da Kuiper para a América Latina.
Também no mercado de órbita baixa, a francesa Eutelsat OneWeb entrou em operação na América Latina este ano, mas – ao contrário da Starlink – seu foco está em serviços para clientes B2B. A Eutelsat adquiriu em 2023 a OneWeb, empresa britânica de satélites LEO.
A OneWeb já obteve a maioria das licenças para operar nos mercados latino-americanos e tem parcerias com Hughes e Orbith, entre outras.
Outra potencial concorrente é a também francesa E-Space, que opera satélites LEO com menor capacidade de transmissão e recebeu uma licença no mês passado da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), a qual lhe permite operar localmente. A licença é válida por cinco anos e permite o uso de até 8.640 satélites de órbita baixa. Não há registro, no entanto, de que a empresa tenha colocado mais do que um punhado em órbita até agora.
O serviço será comercializado localmente pela E-Space Brazil Holdings.
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