Como as ameaças comerciais de Trump podem afetar a América Latina

A eleição de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos terá um impacto de curto e médio prazo na política global, e o movimento protecionista e populista que o levou à presidência – com o slogan “Make America Great Again” – está longe de desaparecer.

Para Andrés Velasco, reitor da escola de políticas públicas da London School of Economics (LSE), é muito provável que o movimento continue moldando a política norte-americana e influenciando tendências globais, mesmo depois do término do mandato de Trump, em janeiro de 2029. Trump não pode se candidatar a um terceiro governo.

“O fato de Donald Trump deixar de ser presidente não significa que seu movimento estará morto. Estamos em um momento de mudança, e o que parecia impossível há cinco anos hoje é realidade, como a imposição de tarifas por um presidente republicano. Temos que parar de ver o mundo da maneira convencional como costumávamos fazer”, disse Velasco em um painel de discussão durante a APEC CEO Summit, que acontece na capital do Peru, Lima.

A eleição de Trump representa várias ameaças para a América Latina, como uma possível desaceleração das economias exportadoras de commodities, como o Peru, e grandes riscos para o México, que poderia ser afetado por duras tarifas comerciais se os fluxos de imigrantes ilegais e drogas através da fronteira não forem interrompidos.

De acordo com Velasco, se Trump realmente impuser as tarifas comerciais que propôs, os EUA poderão enfrentar riscos macroeconômicos consideráveis, como o aumento das taxas de juros, um déficit fiscal crescente e uma inflação mais elevada.

“É altamente provável que o déficit fiscal dos EUA – que já é alto – cresça ainda mais, já que se pode imaginar que o governo aumentará os gastos para compensar o menor dinamismo resultante das tarifas. Isso também vai gerar um aumento nos preços por conta das tarifas e pressionar o Federal Reserve a aumentar ou manter sua taxa de referência. No final, isso pode resultar em capital saindo de economias emergentes, como Peru, México, entre outras”, acrescentou.

Embora o roteiro de Trump continue incerto – ele poderia escolher entre ser um protecionista dos EUA ou negociar –, Velasco destacou que países em que políticos autoritários estão ganhando força estariam em risco.

“Certos líderes podem pensar o seguinte: se o homem que incitou os tumultos no Capitólio foi eleito, eu poderia tentar algo assim no meu país também. Muitos países da União Europeia estão se tornando mais extremistas, com políticas anti-imigração, elevando o tom dos seus discursos, mas no final é isso que garante uma eleição”, concluiu.