Destaque: 2 projetos de barragens que enfrentam resistência local no Chile

Organizações locais manifestaram oposição aos processos de licitação de duas novas barragens na região de Ñuble, no Chile, devido aos riscos ecológicos e a possíveis desapropriações.

Uma licitação está relacionada à barragem Nueva La Punilla, avaliada em US$ 396 milhões. O processo foi relançado após a rescisão do contrato original em 2021, depois que a concessionária Astaldi enfrentou dificuldades para iniciar as obras no prazo.

A abertura das propostas está programada para 20 de dezembro, após vários adiamentos, mas não se sabe ao certo se há empresas interessadas, de acordo com César Uribe, porta-voz do Movimento Social em Defesa do Rio Ñuble.

“A verdade é que, tanto na primeira licitação [de 2016] quanto na atual, o projeto não conseguiu atrair o interesse dos licitantes”, disse Uribe à BNamericas. Ele destacou que a Astaldi foi a única licitante na época, embora 16 empresas tenham adquirido os documentos da licitação.

“Tivemos a oportunidade de conversar com algumas das empresas que compraram os documentos naquela época e elas disseram que o projeto não era economicamente rentável e que havia uma série de incertezas que as impediam de participar”, acrescentou Uribe.

As desapropriações são outra preocupação. Em 2018, uma decisão judicial impediu a Astaldi de remover famílias locais de suas casas, o que travou, efetivamente, o início da construção. Segundo Uribe, os moradores ainda estão tentando impedir qualquer ação que possa afetar suas residências e podem recorrer à Justiça novamente.

A barragem foi concebida para armazenar 625 MMm³ (milhões de metros cúbicos) e envolve um muro de 137 m.

Segundo Uribe, os estudos não foram atualizados desde que a aprovação ambiental foi concedida, em 2010. Além disso, há preocupações sobre a proximidade do projeto com um vulcão ativo, já que especialistas alertaram que as cinzas podem enfraquecer a parede principal.

“No mínimo, precisamos ter certeza de que esse projeto não vai desmoronar”, disse Uribe.

A outra licitação envolve a barragem Zapallar, de US$ 212 milhões e capacidade para 80 MMm³, no rio Diguillín. A expectativa é que seja lançada em breve e a construção deve começar no final de 2025.

Em 2023, fortes chuvas fizeram o rio transbordar, causando graves inundações.

A barragem, que envolve um muro de 85 m, pode aumentar ainda mais o risco de inundações, disse à BNamericas Marcela Leal, representante legal da associação de sistemas rurais de água potável da província de Punilla.

“Fizemos estudos e, em um cenário em que a barragem tivesse de abrir as comportas [em resposta às chuvas fortes], não inundaria apenas oito sistemas [rurais de água potável], mas também várias casas próximas à margem do rio”, destacou.

Embora o projeto tenha aprovação ambiental, Leal afirmou que a maior parte do processo de participação cidadã associado à iniciativa foi realizada durante a pandemia de Covid-19, quando reuniões presenciais eram praticamente impossíveis. Portanto, “não houve participação cidadã”.

Ela também ressaltou que as dúvidas sobre o transporte de água entre o reservatório e as comunidades locais não foram respondidas.