Destaque: a força de trabalho de mineração do Chile dissecada

Nos últimos 12 meses, o emprego na indústria de mineração do Chile cresceu 20,5% atingindo cerca de 260 mil posições, de acordo com um relatório produzido pela associação de mineração Sonami.

Apesar da perturbação causada pela pandemia, novas tecnologias e uma taxa de desemprego de 7,8% no primeiro trimestre, segundo a agência de estatísticas INE, o emprego feminino na mineração cresceu 40,8% em 2021, com 33 mil novos postos de trabalho e a força de trabalho masculina aumentou 18%, com 34.400 novos empregos, afirma o relatório.

Fonte: Sonami, relatório sobre segurança e emprego (abril de 2022)

No entanto, 76% dos altos executivos do setor estão pessimistas sobre a situação econômica atual e 83% estão céticos sobre a situação social do país, segundo uma pesquisa do grupo de estudos de cobre Cesco e da consultoria Vantaz.

Mesmo assim, a maioria considerou que o emprego, tanto nas mineradoras quanto nos fornecedores, permanecerá estável, com 73% dos executivos esperando continuidade para o próximo trimestre e 42% para os próximos dois anos.

Um estudo à parte, desenvolvido em conjunto pelo Conselho de Competências de Mineração e pelo programa Eleva, e baseado em informações de 22 grandes mineradoras e respectivos fornecedores, analisou a força de trabalho na cadeia de valor, considerando extração, beneficiamento e manutenção. A força de trabalho total na mineração chilena em grande escala foi estimada em 176.496 pessoas, com 46.412 empregados diretamente e 130.084 contratados por fornecedores.

As empresas pesquisadas foram Anglo American, Antofagasta Minerals, BHP, Collahuasi, CMP, Codelco, Freeport-McMoRan, Glencore, Gold Fields, Kinross, Lumina, Lundin Mining, SQM, Teck, Enaex, Enex, Finning, Komatsu, Metso Outotec, Orica, TTM Chile e Vulco.

O estudo mostra que ao longo de 2020 os empregos na indústria se expandiram, recuperando-se para o patamar que existia antes da retração observada em 2016. Nas operações de mineração direta, havia um total de 104.471 empregos, considerando tanto folha de pagamento quanto trabalhadores terceirizados.

Em relação à participação feminina, o estudo mostra um aumento, em 2020, de 12,3% nas mineradoras e 10,4% nos fornecedores, resultado de políticas corporativas de promoção da mudança cultural, inclusão e equidade de gênero..

A indústria de mineração do Chile está incorporando tecnologias digitais para alcançar maior produtividade e eficiência, bem como maior segurança para os trabalhadores nas áreas operacionais. Centros operacionais integrados e o uso de big data fazem cada vez mais parte das estratégias 4.0 das empresas, mas um ponto fundamental nessa tendência é treinar e ter funcionários qualificados.

“A incorporação da robotização e automação nos processos contribuiu para a redução do trabalho pesado e dos acidentes de trabalho, mas também oportunizou um novo tipo de trabalhador, onde as empresas exigem pessoas qualificadas”, disse o subsecretário do Trabalho Giorgio Boccardo, no lançamento do estudo Eleva.

Quase 80% das empresas inquiridas referiram que os seus quadros de recursos humanos aplicam modelos de gestão baseados em concursos, visando ter colaboradores qualificados para as necessidades atuais.

Em relação à priorização dentro dos modelos de gestão, 65% dos treinamentos são voltados à instrução técnica sobre como operar com sistemas ou equipamentos especializados e 32% estão relacionados ao gerenciamento de novas tecnologias. Durante a pandemia, muitas formações foram reduzidas devido à interrupção do trabalho presencial, apesar de terem incorporado modalidades de e-learning. No entanto, o desafio, segundo o estudo, continua sendo a baixa disponibilidade de candidatos qualificados.

Enquanto isso, no Chile, o número de graduados relacionados à mineração está aumentando. De 2011 a 2030 houve crescimento de profissionais ligados a geologia (5,9%), processamento (4,7%), extração (4,3%) e manutenção (2,7%).

Espera-se uma demanda de 25.338 novos trabalhadores, considerando 26 novos projetos para o período 2021-2030. No entanto, poderia ser mais não fosse a adoção de novas tecnologias e as condições macroeconômicas do Chile, diz o estudo

Para a transformação tecnológica, as empresas mineiras consideraram essencial incluir a formação em novas tecnologias (upskilling, 76%), formar os trabalhadores atuais para desempenharem outras funções (requalificação, 62%) e contratar novos trabalhadores com qualificações adequadas para responder às novas necessidades (contratação, 45%).

Um modelo inovador de mão de obra no Chile está sendo implementado pela mineradora de cobre estatal Codelco, ao decidir instalar sua primeira mina 100% administrada por mulheres.

A unidade de armazenamento de rejeitos Las Añañucas, na unidade da Codelco em Salvador, na região do Atacama, será operada exclusivamente por mulheres. “Será um centro de operações, mas também um centro de treinamento para que os trabalhadores possam se desenvolver como operadores, tanto nas plantas de concentrador e hidrometalurgia, quanto na fundição e refinaria”, disse Danisa Urrutia, engenheira especialista da planta. Esta iniciativa tem sido vista como simbólica na redução da distância entre homens e mulheres no local de trabalho.

Dos executivos de mineração consultados pela Cesco, 32% acreditam que o emprego aumentará nos próximos 24 meses, enquanto 22% acreditam que cairá. A situação depende de vários fatores que atualmente geram incertezas no Chile, como investimentos futuros, o marco regulatório, propostas de nacionalização e maior participação do Estado nas decisões de mineração, questões que devem ser resolvidas durante este ano com a elaboração de uma nova Constituição.