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Destaque: as decrescentes reservas de gás da Bolívia

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Destaque: as decrescentes reservas de gás da Bolívia

A tão esperada publicação das últimas reservas de hidrocarbonetos da Bolívia foi recebida com ceticismo por alguns observadores.

Após um intervalo de seis anos, a estatal YPFB relatou reservas comprovadas de gás e petróleo de 4,5 Tf³ (trilhões de pés cúbicos) e 13 MMb (milhões de barris), respectivamente, ante 8,95 Tf³ e 190 MMb registrados em 2018, o último ano de certificação.

“Nossas previsões das curvas de produção futuras das reservas desenvolvidas na Bolívia chegam a cerca de 2,4 Tf³ no final de 2024”, disse à BNamericas Álvaro Rios, sócio-gerente da consultoria Gas Energy e ex-ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia.

“A produção está baixando drasticamente. A Bolívia está caindo cerca de 4,1 MMm³/d (milhões de metros cúbicos por dia) anualmente. Então, até o final de 2027, a Bolívia só conseguirá cobrir sua demanda interna e não conseguirá mais exportar […]. A situação é muito crítica”, acrescentou Rios, enfatizando a necessidade de ver os documentos detalhados de certificação.

As reservas de hidrocarbonetos do país estão sob escrutínio devido à falta de divulgação oportuna por parte das autoridades, principalmente em meio a pedidos de maior transparência devido à queda na produção e à incerteza quanto à exportação.

A YPFB está com licitação em andamento para quantificar e certificar suas reservas até 31 de dezembro de 2024.

O declínio nas reservas da Bolívia não é nenhuma surpresa para o Brasil, que vem negociando com autoridades bolivianas e argentinas para viabilizar as exportações de gás argentino para o Brasil. A maneira mais prática seria por meio da infraestrutura boliviana de gasodutos, mas outras opções estão sendo consideradas: construir um gasoduto na região do Chaco, no Paraguai; implantar uma conexão no município de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul; e importar gás natural liquefeito (GNL).

Segundo os últimos números disponibilizados pelo Ministério de Minas e Energia do Brasil (MME), as importações com origem na Bolívia atingiram uma média de 12,66 MMm³/d em julho de 2024, o que representou 23% do total de gás oferecido ao mercado local no período.

As últimas métricas do INE, instituto de estatísticas da Bolívia, revelam que as exportações anuais de gás natural do país estão caminhando para a quarta queda consecutiva. Mesmo assim, a YPFB negocia novos contratos de venda de gás com clientes e segue buscando novas oportunidades no Brasil.

“Em nenhum momento deixamos de receber solicitações de gás natural de empresas brasileiras, não apenas de clientes atuais, mas também de novos interessados em um fornecimento seguro e confiável de gás natural”, afirmou em comunicado Óscar Claros Dulón, diretor de Contratos de Exportação de Gás Natural da YPFB.

Além da opção argentina, o Brasil trabalha para expandir a oferta doméstica do combustível. Um exemplo é o chamado “programa de liberação de gás”, que visa descentralizar o fornecimento de gás natural e promover a competição. Entre os desafios para diversificar o mercado está a falta de regras claras para o acesso de terceiros à infraestrutura essencial de gás, como gasodutos e unidades de processamentode propriedade majoritária da Petrobras, que está preocupadacom o programa.

Enquanto isso, o país está aumentando as entregas de gás ao mercado por meio do gasoduto e unidade de processamento Rota 3, que começou a operar no mês passado, bem como de projetos de upstream, como Raia, da Equinor, e Sergipe Deepwater (SEAP), da Petrobras.

Do lado da demanda, o governo aposta em programas como o Gás para Empregar e o Gás para a Indústria – este último criado com contribuições de associações industriais como a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) – para incentivar o desenvolvimento do mercado de gás.

Vinicius Romano, analista de gás da Rystad Energy, acredita que mesmo com a redução da produção de gás na Bolívia, mais gás deve fluir para o Brasil em 2025.

“O aumento de produção de gás em Vaca Muerta na Argentina, junto à expansão da capacidade de transporte, vão permitir que a Argentina reduza significantemente as importações da Bolívia, aumentando a importância do mercado brasileiro para a Bolívia”, disse ele à BNamericas.

Espera-se que os produtores argentinos testem o mercado brasileiro este ano exportando pequenos volumes de gás pelo gasoduto que conecta os três países.

“Porém, novos investimentos em transporte no lado argentino são necessários para enviar volumes significantes, seja pela rota de gasodutos existentes ou um novo traçado se conectando ao Brasil”, complementou Romano, que acredita que a Argentina precisa aumentar seu mercado consumidor, de modo que o Brasil possa se beneficiar importando gás a preços mais baixos do que o mercado conhece hoje.

O especialista também explicou que a queda nos volumes bolivianos é gradual e que as transportadoras brasileiras já têm planos para viabilizar que gás de outras fontes – como GNL e gás doméstico – chegue aos consumidores.

“Então, não vejo [a queda nas reservas bolivianas] como um risco”, concluiu.

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