Destaque: iniciativas de integração energética regional do Brasil
O Brasil está atuando para intensificar a integração energética com as nações vizinhas.
“A integração é uma necessidade de sobrevivência dos países da América do Sul. Temos consciência de que o que fizemos aqui tem como perspectiva melhorar a qualidade de vida do povo da Bolívia e a qualidade de vida do povo do Brasil”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na terça-feira (09), durante visita ao país andino.
O Brasil negocia a compra direta de gás com a Bolívia, que acaba de se tornar o mais novo membro do bloco comercial do Mercosul. As negociações visam impedir a intermediação Petrobras para reduzir os preços nacionais dos combustíveis.
Lula elogiou a oportunidade que a transição energética representa para o Brasil, a Bolívia e outros países sul-americanos.
“Não temos a riqueza tecnológica de outros países, mas temos riquezas que a natureza nos permitiu e que o mundo necessita. Seja na produção de alimentos, na exploração de minerais críticos, na produção de hidrogênio verde, de energia eólica, solar, biomassa, biocombustível. Temos que oferecer ao mundo o que eles não têm”, destacou o presidente.
Durante a viagem à Bolívia, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, assinou três acordos de integração energética com autoridades bolivianas.
Os acordos preveem a interligação dos sistemas de transmissão e distribuição de energia elétrica dos países, a possibilidade de fornecer energia da usina hidrelétrica de Jirau (3.750 MW) à Bolívia e a utilização da infraestrutura de gasodutos da Bolívia para atender o Brasil.
O objetivo do plano de conexão via sistema de distribuição é o de fornecer energia elétrica a localidades no norte da Bolívia, cujas redes elétricas atualmente operam de forma isolada.
“Essa interligação com o Brasil ajudará a descarbonizar parte da Amazônia entre os dois países, além de dar mais segurança energética aos nossos vizinhos bolivianos”, pontuou o ministro.
A interligação se dará entre as subestações Guajará-Mirim (Rondônia/Brasil) e Guayaramerin (Bolívia), e entre as subestações Epitaciolândia (Acre/Brasil) e Cobija (Bolívia).
De acordo com os últimos dados do Ministério de Minas e Energia (MME), as importações bolivianas de gás foram em média de 12,2 MMm³/d (milhões de metros cúbicos por dia) em fevereiro, o que correspondeu a cerca de 20% da oferta total do combustível do país no período.
A ideia é que a Bolívia também atue como agente intermediário, deixando o gás argentino passar por sua infraestrutura.
Em junho, a empresa estatal boliviana de hidrocarbonetos YPFB disse que sua rede de gás estava pronta para despachar até 3 MMm³/d de gás argentino para o Brasil. Os engenheiros estão trabalhando para aumentar a capacidade para mais de 10 MMm³/d no médio prazo, disse YPFB.
Durante evento na Bolívia na terça-feira, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que a empresa tem interesse em aumentar a produção de gás no país e impulsionar o gás enviado ao Brasil.
Com uma maior oferta de gás a preços mais acessíveis, os projectos de fertilizantes e petroquímicos mencionados no plano estratégico 2024-28 poderão tornar-se viáveis, segundo Chambriard.
“Hoje o mercado consumidor brasileiro demanda 50 MMm³/d de gás natural. Acreditamos que esse mercado pode ser triplicado, alcançando 150 MMm³/d. A condição é que sejamos capazes de fazê-lo chegar ao Brasil a preços acessíveis”, disse ela.
Chambriard considera o gás natural essencial para a integração energética na América do Sul. “Apostamos muito nessa sinergia entre Brasil, Bolívia e também Argentina, países interligados pelo gasoduto”, afirmou.
Ela também mencionou as perspectivas de aumento da produção na Bolívia. A Petrobras, que já foi responsável por 60% da produção de gás natural da Bolívia, agora opera instalações que respondem por 25% da produção total.
“Nós olhamos pra frente e vemos oportunidades para serem desenvolvidas pela Petrobras ou em parcerias que merecem nosso investimento”, afirmou.
Na área de San Telmo Norte, em Tarija, a Petrobras Bolívia pretende perfurar em 2025 um poço exploratório por meio do qual vai investigar o potencial das reservas de gás natural. A Petrobras Bolívia planeja investir cerca de 40 milhões de dólares para perfuração desse poço, caso obtenha licença ambiental.
A área tem potencial de recuperação de cerca de 2,7Tf³ (trilhões de pés cúbicos).
ARGENTINA, PARAGUAI E URUGUAI
Além de fornecer gás ao Brasil, a Argentina também recebe gás do Brasil quando a demanda local está alta.
No final de maio, a empresa federal argentina de petróleo e gás natural Enarsa fez uma compra emergencial de 44 MMm³ de gás natural liquefeito (GNL) da Petrobras para lidar com uma crise de abastecimento em meio a baixas temperaturas.
No mês anterior, a Petrobras e a Enarsa haviam assinado um acordo de três anos sobre troca de informações, avaliação de alternativas de cooperação e complementaridade energética.
O acordo inclui também a coordenação de ações para garantir o fornecimento de gás natural para a Argentina durante o inverno, “sem qualquer impacto no fornecimento de gás no Brasil ou custo financeiro adicional para a Petrobras”, afirmou a empresa em um comunicado de imprensa.
O Brasil e a Argentina também trocam eletricidade, assim como o Uruguai e o Paraguai, enquanto o Brasil opera a usina hidrelétrica Itaipu Binacional de 14 GW, com este último.
VENEZUELA
Após a posse de Lula em janeiro de 2023, Brasil e Venezuela começaram a discutir a retomada das compras de eletricidade da usina hidrelétrica de Guri, na Venezuela, para abastecer o estado de Roraima, o único que ainda não está vinculado ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
As compras de eletricidade foram interrompidas em 2019 devido a problemas operacionais e econômicos e em meio a tensões entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o líder venezuelano Nicolás Maduro.
As comercializadoras de energia brasileiras Âmbar Comercializadora de Energia, Bolt Energy Comercializadora de Energia e Tradener foram autorizadas pelo MME a importar energia da Venezuela, mas ainda não o fizeram.
Por e-mail, o MME disse que “a efetiva importação depende de ofertas feitas pelos agentes a serem analisadas e aceitas (ou não) pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), a partir da verificação do real benefício para o consumidor, por meio da redução CCC [conta de consumo de combustível], observando, ainda a garantia da segurança energética”.
Procuradas pela BNamericas, Âmbar e Bolt não responderam, enquanto a Tradener não quis comentar.
COLÔMBIA E GUIANA
O Brasil também está de olho em oportunidades na Colômbia, onde a Petrobras é parceira da petrolífera local Ecopetrol no bloco Tayrona.
Após uma descoberta de gás em 2022, a Petrobras decidiu cancelar a venda de sua participação no ativo e anunciou novos planos de exploração.
Desde que Lula assumiu o cargo, a Petrobras mencionou diversas vezes possíveis investimentos em petróleo e gás na Guiana e na Venezuela.
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