Destaque: plano de investimento de US$ 30 bi em cobre e níquel da Vale
A mineradora Vale avançou com um plano de investimento de US$ 30 bilhões em níquel e cobre, mas especialistas estão destacando alguns riscos.
“Historicamente, podemos dizer que a Vale não sabe operar ativos com eficiência fora do Brasil. Vamos ver se agora a história muda, com uma estrutura separada na área de cobre e níquel e com executivos no conselho com experiência internacional nessa área”, José Carlos Martins, CEO de 2004-14 e atualmente chefe da produtora de minério de ferro Cedro Mineração, disse à BNamericas.
A Vale venderá 13% de sua divisão de metais básicos VBM, que administra operações de níquel e cobre, por US$ 3,4 bilhões para a Manara Minerals, uma jointventure entre Ma'aden e o fundo de investimento da Arábia Saudita, informou a empresa em comunicado.
A joint venture fornecerá US$ 2,6 bilhões e a empresa de investimentos norte-americana Engine No. 1 o restante.
“Essa parceria estratégica acelerará o programa de capital esperado de US$ 25-30 bilhões da VBM na próxima década e ajudará a impulsionar um aumento potencial significativo na produção da VBM de cerca de 350 mil t/ano para 900 mil t/ano em cobre e de aproximadamente 175 mil t/ano para mais de 300 mil t/a em níquel”, disse a Vale em comunicado.
“Este programa gerará empregos, crescimento econômico, oportunidades de compras e fornecedores, bem como benefícios socioeconômicos em comunidades nas principais jurisdições minerais críticas onde a VBM opera no Brasil, Canadá e Indonésia”, afirmou.
“Acho possível que, no futuro, a Vale venda outra participação minoritária, mantendo o controle da unidade de metais básicos, para uma empresa que tem experiência comprovada em níquel porque a empresa não precisa tanto de sócios com perfil financeiro para se avançar com seus investimentos, pois tem grande geração de caixa”, disse Felipe Volcato Ruppenthal, analista especialista em mineração da casa de investimentos Eleven Financial Research, à BNamericas.
“O níquel é uma operação química e metalúrgica, com grande componente industrial na qual a Vale não tem muita expertise, por isso nunca conseguiu ganhar muito dinheiro com esse negócio”, disse Martins.
“No cobre, onde a mineração é preponderante, a Vale tem melhor desempenho. De qualquer forma, mesmo com esses investimentos que estão sendo anunciados, dificilmente vejo o cobre e o níquel superando o minério de ferro como principal fonte de receita da Vale”, afirmou.
A Vale iniciou a estruturação de suas divisões de níquel e cobre em 2021 para atrair mais interesse dos investidores em meio à transição energética.
“Vemos esses investimentos estratégicos como um marco importante em nosso caminho para acelerar o crescimento em nossa plataforma de negócios de Metais de Transição de Energia, criando valor significativo de longo prazo para todos os nossos stakeholders”, disse o CEO da Vale, Eduardo Bartolomeo, no comunicado.
A Vale investe principalmente no desenvolvimento de reservas e depósitos que já possui.
Suas operações de níquel envolvem o segundo forno de Onça Puma no Brasil, os projetos de Pomalaa e Morowali na Indonésia, e a expansão da mina Voisey's Bay no Canadá.
A VBM é uma das 10 maiores produtoras de cobre nas Américas com uma base operacional concentrada no Brasil que inclui o maior depósito de cobre do país em Salobo, com mais de 40 anos de vida restante, complementado por um forte pipeline de projetos de desenvolvimento e crescimento desde Alemão, Cristalino e Bacaba, no Brasil, ao projeto de grande escala Hu'u, na Indonésia.
MUDANÇAS NO TOPO
Bartolomeo está enfrentando uma pressão cada vez maior do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quer uma liderança mais alinhada com as prioridades do governo.
A Vale foi privatizada na década de 1990, mas o governo manteve a influência por meio de golden shares e 8,72% de participação do Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil.
Há rumores de que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o ex-CEO do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, estão concorrendo para substituir Bartolomeo.
“A mudança de nomes não deve levar a um novo rumo nos planos da empresa para a divisão de níquel e cobre, mas se o governo conseguir colocar um conselho e executivos mais alinhados com seus pensamentos, veremos a Vale tentando investir em uma operação mais verticalizada no Brasil, como investir também em siderurgia”, disse Ruppenthal.
“Assim como o governo quer que a Petrobras seja mais vertical, investindo em refinarias, também vai tentar influenciar a Vale, embora a tarefa seja mais difícil na mineradora porque o governo não tem controle”, acrescentou Ruppenthal.
RESULTADOS
A Vale registrou lucro líquido de US$ 892 milhões no segundo trimestre, abaixo dos US$ 4,09 bilhões do ano anterior, e receita líquida de US$ 9,67 bilhões, abaixo dos US$ 11,1 bilhões devido à contração dos preços do minério de ferro e do níquel, disse a empresa em seu último relatório.
O Capex totalizou US$ 1,2 bilhão, comparado a US$ 1,29 bilhão um ano atrás.
“Os investimentos em projetos de crescimento em construção totalizaram US$ 376 milhões no segundo trimestre, queda de 16%, impulsionados por menores investimentos nos projetos Salobo III e Sol do Cerrado, já em comissionamento, que foram parcialmente compensados por investimentos nos projetos de soluções de negócios em minério de ferro e no projeto de níquel do segundo forno de Onça Puma”, disse a empresa.
“Os investimentos na manutenção de nossas operações totalizaram US$ 832 milhões no segundo trimestre, estável em relação ao ano anterior, como resultado de investimentos para melhoria operacional e menores investimentos em plantas de filtragem de resíduos em operações de soluções de minério de ferro, após o start-up e comissionamento de nossas quatro fábricas em 2022”, acrescentou.
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