Destaque: transações de financiamento e aquisições no setor de mineração do Brasil

O setor de mineração do Brasil tem registrado importantes transações de fusões e aquisições (M&As) e financiamento nos últimos tempos, com as empresas navegando em um mercado de capitais desafiador.

Algumas operações se devem às dificuldades das empresas para acessar o mercado de capitais local por conta das altas taxas de juros, o que as leva a vender ativos para captar fundos. Outras opções derivadas da turbulência global incluem acordos com acionistas.

“O ambiente para captação de recursos no mercado de ações está muito desafiador no momento, então as empresas que precisam de capital estão optando por vendas de participações ou operações privadas com seus acionistas”, apontou Carlos Daltozo, analista de ações, à BNamericas.

“Essa é uma estratégia que provavelmente vai persistir nos próximos meses, pois as opções de financiamento no mercado de ações hoje não são financeiramente vantajosas para as empresas, já que os investidores estão exigindo um prêmio muito alto”, completou.

TRANSAÇÕES RECENTES

CSN

A siderúrgica CSN aprovou a venda de 11% de sua divisão de minério de ferro CSN Mineração para o conglomerado japonês Itochu Corporation.

A Itochu, que atualmente detém 9,26% da CSN Mineração por meio da Japan Brasil Minério de Ferro Participações, pagará R$ 4,42 bilhões (US$ 776 milhões) pela aquisição, e os recursos serão usados para reduzir a dívida da CSN, disse à BNamericas uma pessoa familiarizada com as estratégias, em condição de anonimato.

“A Itochu pagou R$ 7,50 por ação pela CSN Mineração, enquanto o preço atual das ações da empresa está cotado a R$ 6,19. A empresa japonesa aceitou pagar esse preço por ação somente porque, como acionista relevante da CSN, ela conhece bem a qualidade do ativo que está adquirindo. Se a CSN tivesse optado por levantar recursos por meio de uma oferta pública de ações, ela não teria conseguido um prêmio tão alto quanto nesta transação, pois os investidores em geral estão mais conservadores no momento”, disse Daltozo.

A CSN Mineração está desenvolvendo o projeto de minério de ferro Itabirito P15, também conhecido como Casa de Pedra, no estado de Minas Gerais. A produção no projeto de 15 Mt/ano deve começar no primeiro trimestre de 2027. Itabirito é considerado um projeto transformador, pois a qualidade do minério deve melhorar, com o teor de ferro aumentando de 58% para 65% até 2028.

A expectativa é que o minério de maior qualidade tenha maior demanda e alcance preços mais altos devido à necessidade das siderúrgicas na Ásia de utilizarem matérias-primas que reduzam as emissões de carbono.

Itaminas

No início deste mês, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a venda da empresa local de minério de ferro Itaminas. A empresa, antes controlada pela família Paz, foi adquirida pelo grupo empresarial brasileiro AVG por R$ 2,2 bilhões.

Sob o novo controle, a empresa pretende investir R$ 1,5 bilhão até 2033 para expandir a produção anual de minério de ferro de 6,5 Mt para 9 Mt, disse à BNamericas uma pessoa envolvida nos planos, que pediu anonimato.

Cerrado Gold

A Cerrado Gold, mineradora listada na bolsa de valores do Canadá, anunciou a conclusão da venda de seu projeto de ouro Monte do Carmo, de US$ 181 milhões, no estado de Tocantins. O projeto foi vendido para a Amarillo Mineração do Brasil, subsidiária da Hochschild.

“Em conexão com o fechamento da transação, a Cerrado recebeu pagamentos em dinheiro totalizando US$ 30 milhões da Amarillo, além dos US$ 15 milhões recebidos anteriormente pela concessão da opção, chegando a uma contraprestação total de US$ 60 milhões”, informou a empresa em um comunicado.

A Cerrado Gold vendeu o projeto para levantar recursos e se concentrar em seus projetos de ouro na Argentina, Don Nicolás e Las Calandrias.

G Mining

A G Mining Ventures, também listada na bolsa do Canadá, levantou recursos por meio de um acordo com o acionista Franco-Nevada Corporation para desenvolver seu projeto Tocantinzinho, no estado do Pará. A Franco-Nevada concordou em exercer as opções de compra de 11,5 milhões de ações ordinárias emitidas a ela como parte do pacote de financiamento do projeto anunciado em 2022.

Como parte deste exercício, a G Mining emitirá 2,88 milhões de ações ordinárias para a Franco-Nevada por uma receita bruta de C$ 21,9 milhões (US$ 15,7 milhões).

“Agradecemos profundamente o apoio e a confiança da Franco-Nevada na nossa visão. A parceria deles foi fundamental para atingir o marco do primeiro ouro [de Tocantinzinho] e a produção comercial em 2024, dentro do cronograma e do orçamento”, disse o CEO da G Mining, Louis-Pierre Gignac, em um comunicado.

Até agora, a Franco-Nevada investiu US$ 352 milhões em capital de desenvolvimento no projeto Tocantinzinho. Esse investimento incluiu um desembolso de capital de US$ 27,5 milhões, um fluxo de ouro de US$ 250 milhões e um empréstimo a prazo sênior garantido de US$ 75 milhões.