Febre do lítio: as oportunidades em salares em grandes altitudes no Chile

O setor privado pode solicitar contratos especiais de operação de lítio (CEOL) em seis depósitos salinos oferecidos pelo governo do Chile até o dia 31 de dezembro.

A viabilidade do desenvolvimento de projetos de prospecção ou exploração depende de fatores críticos, como a altitude dos depósitos, a concentração do minério, a proximidade com as fronteiras, a presença de crostas salinas ou argilosas, as áreas protegidas e os atuais proprietários das concessões.

O governo entregará apenas um CEOL para cada sistema. A lista inicial inclui os salares de Coipasa, na região de Tarapacá; Ollagüe e Ascotán, na região de Antofagasta; e Piedra Parada, Agua Amarga e Laguna Verde, na região do Atacama.

Todos eles ficam localizados a mais de 3.500 metros acima do nível do mar, com alguns a mais de 4.000 metros. Portanto, os trabalhos devem ser realizados sob condições climáticas adversas, especialmente no inverno.

Os parâmetros diferem muito dos encontrados no principal depósito salino do país, o Salar do Atacama, atualmente explorado pela chilena SQM e pela norte-americana Albemarle. O Atacama está 2.300 metros acima do nível do mar, em uma bacia mede 18.100 km², dos quais 986 km² são cobertos pelo salar. A concentração de lítio atinge uma média de 1.500 partes por milhão (ppm).

Detalhes dos salares:

Salar	Altitude	Área da bacia	Área do salar	Concentração de lítio
Laguna Verde	4.350 metros acima do nível do mar	1.075 km²	15 km²	200 ppm
Piedra Parada	4.150 metros acima do nível do mar	388 km²	28 km²	288 ppm
Ascotán	3.716 metros acima do nível do mar	1.757 km²	243 km²	-
Ollagüe	3.705 metros acima do nível do mar	-	31 km²	480 mg/l
Coipasa	3.700 metros acima do nível do mar	2.239 km² (a maior parte na Bolívia)	-	-
Agua Amarga	3.558 metros acima do nível do mar	863 km²	23 km²	60 ppm

Apesar de tudo, existem oportunidades.

“Em Laguna Verde, assim como no Salar de Maricunga, há anos ocorreu uma enchente que inundou o território, fazendo com que a água chegasse a 2 m de profundidade em alguns setores. Esse fenômeno espalhou o lítio tanto nas salmouras quanto em áreas hoje secas, como as crostas salinas ou argilosas, onde pode até haver terras raras”, disse à BNamericsa a cartógrafa e especialista em propriedades de mineração Cecilia Fuentealba.

A proximidade de complexos vulcânicos aumenta a probabilidade de encontrar lítio devido à explosão de caldeiras vulcânicas no subsolo e em áreas superficiais, acrescentou.

Também é importante considerar a proximidade dos depósitos salinos das áreas fronteiriças, já que nestes frágeis sistemas interligados, qualquer tipo de exploração pode impactar os reservatórios vizinhos.

 Coipasa é o segundo maior salar da Bolívia, mas se estende do departamento boliviano de Oruro até a região chilena de Tarapacá. Enquanto isso, Ollagüe é uma prolongação do salar boliviano de Chiguana em território chileno.

Ascotán, por exemplo, está separado do Salar de Ollagüe por formações vulcânicas e tem sido durante anos a principal fonte de água para a operação de cobre El Abra, detida pela empresa norte-americana Freeport-McMoran e pela estatal chilena Codelco.

Além disso, Ascotán é um local prioritário para a conservação da biodiversidade na região de Antofagasta. Piedra Parada, por sua vez, foi identificado pela agência florestal nacional (Conaf) como um dos locais de nidificação de flamingos no Chile.

REQUISITOS 

Só poderão participar das próximas licitações para esses tipos de contratos especiais empresas ou consórcios privados com experiência em alguma fase da cadeia de valor do lítio, que tenham concessões de mineração em pelo menos 80% do polígono de um salar e demonstrem capacidade financeira para desenvolver um projeto.

A situação dos atuais titulares de concessões pode estar em jogo. Por exemplo, a francesa Eramet detém toda a área de Agua Amarga e grande parte de Piedra Parada. No ano passado, a empresa comprou um pacote de concessões da Salares de Atacama SCM e da Talison, joint venture da Albemarle e da Tianqi Lithium.

A canadense Lithium Chile possui 36 concessões de prospecção e três concessões de exploração em um total de 11.300 hectares em Coipasa, enquanto o Grupo Errázuriz manifestou interesse em uma parceria com o Estado.

Em Ollagüe, a canadense Wealth Minerals é proprietária do projeto Kuska em uma área de 10.500 hectares, e não há espaço livre. "Há até problemas de sobreposição de concessões mineiras entre a Codelco, a Wealth Minerals e o privado Terence Walker”, disse Fuentealba.

Em Laguna Verde, a empresa anglo-australiana CleanTech tem um projeto com o mesmo nome em uma área de 217 km². Em Ascotán, a produtora chilena de ácido bórico Quiborax possui 23.000 hectares, o equivalente a 80% do aquífero, por isso, provavelmente terá de negociar com a empresa canadense First Lithium, que detém 1.800 hectares de concessões de prospecção no local.

Um segundo conjunto de sistemas salinos ainda seria apresentado antes do final do ano. Após a conclusão das consultas indígenas, as autoridades apresentarão as condições dos CEOLs. 

Outros pontos que devem ser avaliados pelo sector privado são a proximidade de redes rodoviárias, a infraestrutura elétrica e os sistemas de abastecimento de água.